O fim de ciclo que se anuncia na Luz

OPINIÃO06.12.202106:00

Treinar já não é só sobre o treino, é também sobre como se comunica e se tira mais dos atletas

DISSE n’A BOLA TV há algumas semanas que ainda iríamos relativizar o Benfica-Barcelona. Todos os resultados têm de ser colocados em perspetiva e, quando surgem perante clubes da grandiosidade dos catalães, olhados ainda com mais atenção.
Não há volta a dar. Para que uma equipa portuguesa lute de igual para igual com um gigante planetário é obrigatório que, circunstancialmente ou não, este não se mostre tão grande quanto o seu nome. O 7.º lugar ao fim de 15 jogos dos espanhóis e a queda do 1.º para o 3.º lugar dos encarnados, já com um fosso de quatro pontos para Sporting e FC Porto, sustenta a ideia. Para muitos, a conclusão não se aplica ao mais empolgante FC Porto, mas concordar seria necessário fechar os olhos a um Atlético de Madrid já a dez pontos de um Real assim-assim, ou a um Milan que, apesar de ser de novo líder num calcio sem uma grande Juventus, ainda só agora voltou às lides europeias. É que quando os dragões tiveram o Liverpool pela frente houve banho de realidade. Já agora, também o Sporting foi brilhante, mas diante de um Dortmund sem Haaland e com um processo defensivo demasiado instável.
É Amorim quem no dérbi reforça a imagem de última bolacha do pacote, mas uma de fabrico mais saudável, eventualmente sem glúten e sem açúcar. A conferência de antevisão foi brilhante e cheia de conteúdo, e o jogo começou a ser ganho logo ali, sem mental games, bluffs e até com uma pitada naif, minutos depois de uma abordagem muito mais passiva do que o habitual por parte de Jesus. Os treinadores evoluíram, e mesmo aqueles que chegaram mais crus, como Sérgio Conceição, por exemplo, ganharam dimensão bem superior. Treinar já não é só sobre o treino, é também sobre a forma como se comunica interna e externamente, como se avalia e extrai o máximo dos jogadores, como se anula o rival, e como se conhece e domina o mercado. Os adversários são mais bem trabalhados. Os adeptos conhecedores. Os jogadores... mais jogadores. O jogo é cada vez mais estratégia.
Jesus é o mesmo que tomou de assalto a Liga em 2009/2010, só que o que o rodeia alterou-se. O processo era suficiente há 12 anos e com este ganhou o apelido de mestre da tática, contudo hoje é mais débil que o dos dois rivais. Está dependente das individualidades, sobretudo Rafa e Darwin - e mesmo aí talvez fique a perder, se comparados com a influência de Pedro Gonçalves e Luis Díaz -, enquanto Sporting e FC Porto as assentam na solidez do modelo. Também os três centrais não anulam todos os problemas sem bola, desde a incapacidade coletiva de pressionar alto e com as linhas juntas, nem, em posse, e ainda mais sem Lucas Veríssimo, estes encontram sempre saída limpa, quando pressionados.
Falta treinador. Um permanentemente insatisfeito, que conclua que, com Paulo Bernardo, Darwin e Yaremchuk, até pode montar um 4x3x3 desdobrável no 4x4x2 preferido, que controle bola e jogo, e até fortaleça o ataque posicional. Jesus já não chega e está demasiado perdido. O fim de ciclo anuncia-se na Luz.

Vídeos

shimmer
shimmer
shimmer
shimmer