O caso Palhinha em duas dimensões: a do direito e a da estupidez
Assim de repente não me lembro de um Sporting com tanta crença
Ptem vários significados, um dos quais, como se pode ver em qualquer dicionário, é um tubo para sorver líquidos. A propósito do jogador do Sporting de apelido Palhinha, tão falado nos últimos dias, tenho pensado como seria útil haver uma palhinha que absorvesse massa cinzenta para certos cérebros que tão necessitados andam dela! O seu caso - o caso Palhinha, como ficará conhecido para a história da disciplina do futebol - tem sido comentado de tal forma, por certos comentadores, que não sei bem como qualificar: má fé ou atraso mental? Quando ouço dizer que foram os clubes que aprovaram os regulamentos, com o único objectivo de criticar o Sporting, por ter alegado a inconstitucionalidade da aplicação de uma sanção sem audiência prévia do arguido, só me apetece pedir-lhes uma coisa que eu sei ser difícil, mas que é necessária: pensar no que dizem e, para evitar baboseiras, estudar ou perguntar a quem sabe da matéria em causa.
Sem prejuízo de chamar a atenção de que o recorrente é o jogador e não o clube - e mesmo os burros percebem a diferença -, convém salientar que qualquer cidadão, em qualquer matéria, tem o direito de recorrer aos tribunais, designadamente ao Tribunal Constitucional, para obter a declaração de inconstitucionalidade de uma norma que o prejudica, designadamente a que lhe retira o direito de defesa prévio à aplicação de uma sanção! É admissível que um jornalista, com ou sem carteira profissional, questione este direito? Eu sei que há alguns que não gostam do exercício do contraditório, mas esses não podem ser considerados jornalistas, mas apenas jornaleiros!... Que tristeza ouvir tais comentários, como se os deputados e o Governo não elaborassem diplomas com normas inconstitucionais. Tristeza - digo eu - porque acho que tais comentários são resultado de ignorância misturada com alguma estupidez; quando são comentários para atacar o Sporting, só não digo que causam indignação porque os seus autores não têm estatuto para causar indignação, são só velhacos!
De resto, o que é mais grave neste caso, não é a questão da falta de audiência do arguido, porque mesmo com o cumprimento dessa formalidade isso não contaria para a decisão de não despenalização, o que resulta claramente do resultado de duas decisões proferidas no mesmo dia (29 de Janeiro) nos recursos hierárquicos impróprios 18-20/21 e 19-20/21, em que foram recorrentes, respectivamente, o GD Chaves e Palhinha: o daquele foi julgado procedente, a bem da verdade desportiva; o deste foi julgado improcedente, a bem da mentira. E depois esses comentadores de pacotilha ainda falam de verdade desportiva, só para disfarçar a azia que lhes vai no estômago, por causa da carreira do Sporting! E como se não bastassem aquelas afirmações produzidas por uma ignorância confrangedora, ainda vão mais longe na sua estupidez quando insinuam que não terá sido por acaso, que a providência cautelar foi parar a um juiz simpatizante do Sporting! Só pode ser por analfabetismo tal aleivosia. Basta ser sério, e saber ler, o artigo 41.º da Lei do Tribunal Arbitral do Desporto, para perceber que nos casos de procedimento cautelar, quando o processo ainda não tiver sido distribuído ou o colégio arbitral ainda não estiver constituído, a decisão cabe ao Presidente do Tribunal Central Administrativo do Sul, pouco importando o seu clube ou sequer se o tem. Esses comentadores, e alguns jornalistas, medem a isenção dos outros pela sua própria falta de isenção, quando não se trata dos assuntos do clube do seu coração. Mas ao menos deviam ter o pudor de não tratar assuntos sérios, como se estivessem na tasca da esquina lá do bairro!
Coates
J OGADOR da selecção do Uruguai e central do Sporting está há cerca de cinco anos no clube e é hoje o primeiro capitão da equipa. Já tinha percebido que Coates não é alguém que passaria pelo clube, sem deixar qualquer marca de relevo. Não o conheço pessoalmente, mas sempre tive a impressão de alguém que vive o clube e que, mais cedo ou mais tarde, deixaria a sua personalidade gravada na nossa memória! Não ser um desertor de Alcochete reforçou a minha convicção. O Grupo Stromp (a que orgulhosamente pertenço) já havia detectado a sua atitude e comportamento, e por isso lhe atribuiu em Dezembro passado o Prémio Stromp - Jogador Profissional do ano de 2020. Desde então - e não parece por acaso - tem assinado exibições brilhantes, culminando na terça-feira, com um desempenho a dobrar, porquanto foi simultaneamente um defensor eficaz e um goleador inspirado a partir do 83.º minuto e até final. São assim os grandes capitães: antes quebrar que torcer! E em circunstâncias moralmente difíceis, como, com enorme carácter, revelou estar a sofrer a morte por suicídio de um amigo, por si considerado como irmão! São assim os grandes profissionais, costuma dizer-se. Eu prefiro salientar o carácter de quem transforma a dor que lhe vai no coração numa alma arrebatadora. Quase chorou na sua dedicatória do triunfo, efusivamente celebrado pelos companheiros que sabiam do seu estado. Eu não foi quase, porque chorei mesmo, porque me lembrei da morte do meu melhor amigo.
Sebastián amigo, os sócios e adeptos do Sporting estão contigo: na tristeza e na alegria que nos deste. Esperemos que nos dês muitas mais! O Sporting, estou certo, vai-te lembrar sempre e tu também vais-te lembrar sempre do Sporting!
Jogo a jogo
P ENSAR jogo a jogo, e sempre o próximo jogo é que é importante ganhar, são princípios de que Rúben Amorim e os seus jogadores não abdicam, e não apenas um discurso para o exterior para travar euforias perigosas. Vão mais longe, e já não pensam só no jogo a jogo, mas minuto a minuto dos 90 e para além dos 90!... Este jornal fez a analise dos 55 golos já marcados pelo Sporting esta época, por cada quarto de hora das partidas, e ainda em tempo de compensação! Constata-se que no primeiro quarto de hora já foram marcados 9 golos, sendo o mais madrugador aos 3’, contra o Sacavenense e da autoria do Nuno Santos. Entre os 15 e os 30 minutos foram marcados 6 golos; e entre os 30’ e os 45’, 10 golos. No primeiro quarto de hora da segunda parte foram marcados 5 golos; no segundo, 6 golos, e no último, 12 golos.
Significa que é no final das primeira e da segunda partes que o Sporting marca mais golos, respectivamente, 10 e 12 golos! Mas verdadeiramente notável são os sete marcados para além dos 90’. E dos 12 golos marcados no último quarto de hora dois foram no minuto 90 e seis para além do minuto 80. A análise fria destes números mostra bem o calor com que esta equipa se bate até ao último minuto. Esta é a característica que mais me impressiona. Tenho muitos anos de futebol e assim de repente não me lembro de um Sporting com tanta crença. Interessa-me pouco saber se o Sporting é ou não candidato a ser o campeão. Interessa-me sim que esta equipa ganhe jogo a jogo e minuto a minuto!
Moniz Pereira
NÃO foi apenas o senhor atletismo mas um grande Homem e um grande Senhor de Portugal que ele sempre defendeu e amou. Como sempre defendeu e amou o Sporting. A justiça divina não o deixou celebrar o seu centésimo aniversário, que quase se confunde com a existência centenária do clube que serviu de forma exemplar! A sua morte representou grande perda, mas não é disso que hoje falamos. Mas sim do centenário do seu nascimento, para lhe dizer que continua vivo na nossa memória. Recordo aliás ter escrito nesta coluna por ocasião da sua morte, inspirado num belo fado que ele escreveu - Valeu a pena! Valeu mesmo, sobretudo, tê-lo conhecido e consigo convivido! Obrigado Mário Moniz Pereira!