Mãe, eu quero ser árbitro de futebol!

OPINIÃO Mãe, eu quero ser árbitro de futebol!

OPINIÃO25.11.202309:44

Para o adepto comum, o árbitro continua ser o elemento menor no jogo, mas nunca poderá haver grandes espetáculos com pequenos árbitros», escreve Vítor Serpa no espaço de opinião 'Porque hoje é sábado'.

Façam um esforço e suponham que um belo dia, chegados do trabalho cansativo e rotineiro, passado um tempo infindo nas filas de saída da cidade, ou no desconforto dos transportes públicos à hora de ponta, encontram o vosso filho em casa e ouvem esta simples, mas determinada afirmação: «Estive a pensar no meu futuro e decidi ser árbitro de futebol!» 

Tocam a rebate os sinos de alerta, começam por levar a coisa para a brincadeira, sustentam a piada o mais que podem, mas, lentamente, começam a pensar que o assunto pode, mesmo, ser sério. «Árbitro de futebol? mas tu estás doido varrido, ou quê?» Para os pais, um filho querer ser árbitro de futebol é, mais do que uma desilusão, uma angústia e uma fatalidade. O árbitro de futebol é aquele que vai para o emprego ouvir nomes feios sobre a mãe, aquele que escolhe uma vida feita de masoquismo, aquele que troca o título, agora mais do que nunca generalizado, de doutor, por um estatuto de insegurança e de instabilidade profissional. Daí que, mesmo entre os jovens, a ideia de ser árbitro tenha, apenas, uma conotação de experiência radical. Mas não mais do que isso. Alguns poderão acabar por se sentirem seduzidos e seguem em frente, apesar de tudo e todos nesta vida os aconselharem a abandonar tanta teimosia. 

Fontela Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol está preocupado. A fonte é escassa e, segundo ele, faltam mil árbitros no futebol português. O problema maior é que não faltam mil árbitros para arbitrar o FC Porto-Sporting ou o SC Braga-Benfica. Faltam mil árbitros para arbitrar nas vilas e nas aldeias de Portugal, em jogos quase confidenciais e que, repentinamente, se podem transformar numa espécie de faixa de Gaza. É sinuoso, com tudo o que a palavra possa implicar, e íngreme o caminho para a arbitragem de futebol, em Portugal. Daí a escassez de candidatos e a legítima e louvável preocupação dos responsáveis. Foi boa a ideia de convidar estudantes universitários da área do desporto e do futebol (hoje em dia, os departamentos de futebol das faculdades de desporto são, de longe, os mais preenchidos) para uma experiência prática de arbitragem na Cidade do Futebol, com acesso a lances reais no relvado e à tecnologia do VAR. 

Todos os incentivos são bons e elogiável a ideia de incluir a arbitragem num mercado de trabalho que tem ainda muito caminho para percorrer. Outra ideia que nos parece plausível seria a de aproveitar a dimensão mediática dos principais clubes portugueses, todos eles com estruturas de apoio de alta qualidade, e incitá-los a desenvolverem ações de mobilização e de deteção de talentos para a arbitragem. Várias seriam as conveniências que daqui poderiam decorrer, a menor das quais não seria a da formação de caráter e o crescimento da cultura desportiva de futebolistas, treinadores e dirigentes. Porém, importa valorizar todas as ações que colocam o crescimento e a melhoria global da arbitragem numa área de prioridade do futebol. 

É preciso que o adepto entenda que não pode haver grandes espetáculos dirigidos por pequenos árbitros. É uma impossibilidade óbvia. Daí que o futebol português precise, e muito, de bons árbitros para ter melhor futebol. Tal como precisa de os valorizar, de os proteger, de os integrar na família do jogo universal. Para o adepto comum, o árbitro continua, ainda, a ser o elemento menor do jogo. Não o vê como par do ídolo da sua preferência. Pelo contrário, vê-o muitas vezes como inimigo dos seus deuses do relvado. Será na área da comunicação que o problema se deve resolver. Mas com um rigor profissional. 

Dentro da área

Corpo que pensa e mente que age 

A Universidade Técnica de Lisboa atribuiu o título de Doutor Honoris Causa ao presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino. A cerimónia, que decorreu na Faculdade de Motricidade Humana, presidida por Marcelo Rebelo de Sousa, teve invulgar qualidade cultural e acabou por se tornar num importante fórum de discussão do Desporto, em toda a sua diversidade e complexidade humana. Daí que Constantino tenha lembrado no seu discurso: «O corpo que pensa e a mente que age são unos e indivisíveis.»

Fora da área

Na política como no futebol

As mais recentes sondagens publicadas dão conta de um retrocesso nas intenções de voto no PSD, que voltaria a perder a liderança para o PS, e ganhos significativos do Bloco de Esquerda e do Chega. Como dizem os políticos, sondagens são apenas aquilo que são: sondagens. No entanto, hoje mesmo o PSD reúne-se em Congresso para alterar estatutos e, segundo o Expresso, a liderança de Montenegro não está em causa. A menos que prevaleça a cultura futebolística. Antes da chicotada psicológica há sempre um reafirmar da confiança.