Exemplar!
O que Benfica e Sporting mostraram foi ideia de clara emancipação europeia
ESTA semana, Sporting e Benfica surpreenderam, seguramente, a Europa do futebol. Os leões foram absolutamente magníficos na forma como bateram, em Alvalade, o Tottenham, e as águias superaram a mais otimista das expectativas ao conseguirem não apenas vencer com invulgar clareza, como dominar dois terços de um jogo europeu sempre dificílimo como é sempre qualquer jogo na casa da poderosa Juventus. Que semana em cheio para os grandes de Lisboa!
Em Turim, o Benfica soube aceitar o ímpeto inicial da Juventus, e mesmo abalado pelo golo sofrido aos 4 minutos, tremeu, mas nunca deu a ideia de poder cair, até assumir, sensivelmente a meio da primeira parte, as rédeas do jogo e nunca mais as largar. Com um médio de 21 anos que joga como se tivesse 30, um central de 34 que joga como se tivesse 20 e um miúdo de 18 que joga como se tivesse 28, o Benfica chegou à segunda parte com tal desenvoltura, disponibilidade e ânimo, força mental e qualidade de jogo, que fez o que poucas vezes (muito poucas vezes) nos habituou a ver em grandes (e até mais pequenos) jogos europeus fora de casa: dar a volta ao resultado, sim, e sobretudo assumir exemplar e claro domínio do jogo, com tal superioridade que bem podia ter conseguido sair de Turim com um resultado verdadeiramente histórico e amplamente doloroso para um adversário que é ainda hoje o que perdeu mais finais (7) da Taça dos Campeões, maior competição de clubes do mundo, sobretudo desde 1992, quando se viu transformada (e muito transformada daí para cá) em Champions League.
O resultado deste destemido e fulgurante arranque de época do Benfica tornou também , para já, incontornável, creio, nova chamada à Seleção de João Mário e Rafa, afastados da equipa de Fernando Santos há quase um ano, mas o que ressalta mais à vista neste novo Benfica é mesmo a forma coerente, estimulante, corajosa, arrojada, irreverente e audaz como o treinador alemão Roger Schmidt olha para a equipa e para o futebol que ele quer que a equipa jogue, e a forma como o transmite aos jogadores, quer pela criação da ideia de confiança num onze-base ou pela espécie de ‘espírito livre’ que promove na cabeça de cada um.
Os jogadores do Benfica talvez tenham rematado mais em Turim de fora da área do que no último ano inteiro. Pode não parecer, mas creio que isso diz muito da sintonia entre o espírito do treinador e o espírito dos jogadores.
NA tarde de Alvalade, o mais tímido Marcus Edwards (como o retratou, e bem, Rúben Amorim) foi só a face mais talentosa, genial e criativa de um Sporting que também soube aceitar, sem nunca o temer ou se assustar, a supremacia do Tottenham em vários dos momentos do jogo, até lhe desferir um extraordinário golpe fatal, atirando definitivamente ao tapete o poderoso adversário inglês, nos três ou quatro minutos finais do combate.
Também o futebol como a vida, está cheio de ironias, e se já foi irónico, numa equipa leonina com sete canhotos (Ádan, Gonçalo Inácio, Matheus Reis, Nuno Santos, Francisco Trincão, Marcus e, ainda, Paulinho), ver o esquerdino Edwards quase fazer golo antológico com o pé direito e o destro Pedro Porro obrigar Lloris a espetacular defesa após grande remate com o pé esquerdo, digam lá se não foi suprema a ironia de ver os golos de Paulinho e do novato Artur Gomes?
Rúben Amorim é inteligente e já mostrou saber lidar com a matriz do futebol, segundo a qual ontem ‘estava tudo mal’ e, agora, ‘está, afinal, tudo bem’. Infelizmente, vivemos tempos de reação e irrflexão, e, por isso, ninguém pareceu querer saber se o calendario inicial do Sporting levaría a equipa a correr o risco de tropeçar como tropeçou, e ninguém pareceu querer dar-lhe o beneficio de mostrar qualidade para se levantar como se levantou.
Continuo a pensar que Amorim precisa apenas que se volte a olhar para ele na medida certa (nem oito, nem oitenta), pela inexperiência que ainda tem, pelos excessos que ainda mostra, pelo muito que tem ainda de aprender e pela maturidade que, porventura, ganhará e o levará, quem sabe, a comprender que a convicção nunca pode ser sinónimo de obsessão. Sem poder esquecer, a meu ver, que por muito bem que fale, é pela boca que sempre morre o peixe!
JÁ no Dragão, o desastre do FC Porto com o Brugge talvez seja apenas relativamente comparável ao desastre com o Krasnodar, há três anos. Uma noite negra todas as equipas têm, vale a pena lembrar, aliás, que o grande Liverpool ainda há semana e meia levou quatro em Nápoles. Por isso, talvez mais difícil de explicar o que deu à equipa do FC Porto para ter sido tão pouco… FC Porto, é compreender na verdade como chegou o FC Porto a esta ideia de ter um plantel tão visivelmente insuficiente (não confundir com jogadores sem qualidade, porque tem jogadores de muita qualidade) e tão incapaz de promover soluções capazes de dar a resposta que o treinador precisa. Quase tão mau como o desastre em campo foi a decisão dos responsáveis portistas de mandar os jovens Gonçalo Borges e Danny Namaso Loader dar publicamente a cara pela noite negra da equipa. Ele há coisas, realmente, muito difíceis de compreender!
FAZ exatamente hoje oito dias que Sérgio Conceição deu mais um péssimo exemplo de como deve comportar-se um treinador profissional de futebol, e, sobretudo, o treinador profissional (um grande treinador, como é Sérgio Conceição) de um grande clube como é o FC Porto, e num grande clube (em todos os grandes clubes de futebol!), salvo raríssimas exceções, o treinador é, sem a mais pequena sombra de dúvida, e regra geral, a segunda figura mais importante, logo a seguir, evidentemente, ao presidente.
Num misto de arrogante ironia, inqualificável gozo e evidente, e mal-educada, intenção de ferir, mesmo que num tom de brincadeira de mau gosto (já diziam os nossos avós que mais vale cair em graça do que ser engraçado…), o treinador do FC Porto, ao parecer querer atingir-me (sem a coragem de o fazer aberta e explicitamente), insultou, de forma absolutamente desrespeitosa, esta instituição que é A BOLA.
Quis o treinador portista referir-se a uma crónica que publiquei, nessa mesma sexta-feira, com o título «Muchas Gracias», que ironicamente tinha por único objeto a incompreensível decisão do benfiquista Grimaldo, ao cabo de oito anos em Portugal, de não falar uma única palavra em português, nem um simples ‘obrigado’ (diz ’muchas gracias’... como se estivesse a acabar de chegar...) e do seu clube, o Benfica, nada fazer para o alterar.
Tem Sérgio Conceição todo o direito à livre opinião, por mais incompreensível que ela seja ou ignorante a informação que passa; mas não tem, nem ele nem ninguém, o direito de insultar (por mais ‘engraçadinho’ que queira parecer…) uma instituição como A BOLA, que respeita e exige respeito, independentemente da opinião de cada um.
A BOLA tem mais de 75 anos de vida, e tem, por isso, muita e longa história, de exemplar dedicação ao jornalismo e ao desporto português e à Liberdade. À liberdade de expressão e de opinião, à liberdade do respeito, à liberdade dos valores e dos direitos, consciente da impossibilidade de agradar a todos, mas sempre intransigente na defesa da integridade de um meio onde a ética do comportamento e das relações humanas é absolutamente essencial para um futebol melhor, um desporto melhor e um País melhor.
Ao referir-se, não em privado, mas numa pública conferência de imprensa, ao jornal A BOLA como «Funeral A BOLA», já depois de misturar BTV (canal oficial do Benfica explorado em parceria com a operadora NOS) com A BOLA TV (pluralista canal de televisão na área da informação desportiva, propriedade da empresa que edita o jornal A BOLA), o que o treinador do FC Porto fez foi dar mais um péssimo exemplo da uma inaceitável forma de estar e de uma cultura desportiva imprópria que, infelizmente, acabam por se sobrepor à bondade de caráter deste grande profissional de futebol (como jogador e como treinador), que tive oportunidade de conhecer há muitos anos e em quem sempre reconheci muita irreverência e alguma irreflexão, sim, mas também muita humanidade.
Ameio da semana, o surpreendente e inesperado insucesso desportivo do FC Porto na 2.ª jornada da Liga dos Campeões, levou um ou mais adeptos do clube a um bárbaro e violento ataque ao automóvel onde seguia a família de Sérgio Conceição. O FC Porto, numa primeira instância, limitou-se - incompreensivelmente - a condenar o ato. Veremos, até às últimas consequências, a coragem portista de o ajudar a clarificar e, exemplarmente, também de o punir. Não é apenas a(s) vítima(s) - Sérgio Conceição e família, naturalmente em primeiro lugar - que o merece. São todos os mais humanos, nobres e civilizados portistas. Em última análise, somos todos nós.
Valerá a pena refletirmos sobre os exemplos?!