Editorial: não é um jogo como os outros
Dragões e águias já se defrontaram esta época para a Supertaça Cândido de Oliveira

Editorial: não é um jogo como os outros

OPINIÃO29.09.202309:52

Um clássico à sétima jornada não decide campeonatos, mas cria estados de alma...

O Estádio da Luz vai ser esta noite palco de mais um Benfica-FC Porto a contar para a Liga. Trata-se de um ritual, repetido desde 24 de março de 1935, quando no Campo das Amoreiras as águias derrotaram os dragões por 3-0, na primeira edição da principal prova do calendário nacional. 

Nesse tempo já longínquo, quando pontificavam no Benfica Gaspar Pinto e Vítor Silva e no FC Porto Soares dos Reis e Pinga, e a equipa de Lisboa era treinada por Vítor Gonçalves, pai de Vasco Gonçalves que seria primeiro-ministro de Portugal nos anos do PREC, estando à frente do FC Porto o húngaro Joseph Szabo, começou uma rivalidade que dobrou o cabo do milénio e continua pujante, inquinada de há umas décadas a esta parte por uma intolerância que não engrandece nenhum dos emblemas. 

Mesmo sabendo que o contexto desta época é diferente, e para alguns bem mais dramático, nenhuma boa razão explica que não se olhe para este Benfica-FC Porto pegando na ideia de Arrigo Sacchi, como um jogo inserido na coisa mais importante das coisas menos importantes das nossas vidas, o futebol. Do ponto de vista desportivo, não há jogos que decidam campeonatos à sétima jornada. Há duelos que podem ser importantes, que são suscetíveis de criar estados de alma com reflexo no futuro, mas não vão muito mais além dessa fronteira. 

No jogo de hoje vão defrontar-se duas equipas que ainda não atingiram o seu potencial, o Benfica porque da reformulação do plantel feita resultou a necessidade de uma abordagem diferente ao jogo, que ainda não está, especialmente do ponto de vista defensivo, devidamente interiorizada; o FC Porto porque, entre saídas, entradas e lesões, mantém-se o espírito mas os automatismos estão paulatinamente a ser recriados, sendo, até agora, mais satisfatórios os resultados que as exibições. O que esperar, então, deste clássico? 

Ontem, Vítor Serpa, neste mesmo espaço, questionava-se sobre a razão que tem levado o Benfica a estar mais desconfortável do que o FC Porto quando se defrontam na Luz. Mais do que uma questão académica, trata-se de um bloqueio psicológico, que vai novamente a escrutínio, na casa encarnada, a partir das 20.15 horas.