Palmeiras e FC Porto defrontaram-se no Mundial de Clubes (Foto: IMAGO)

E porque não uma taça entre Portugal e Brasil?

Seria muito mais entusiasmante uma competição entre duas equipas portuguesas e duas brasileiras no lugar da Final Four da Taça da Liga. O contexto nunca foi tão propício

Esqueçamos agora o dinheiro, os jogos interrompidos pelas ameaças de tempestade (muita gente morreu nos EUA nos últimos dez anos fulminadas por relâmpagos, daí os exigentes protocolos de segurança) ou o show off de Donald Trump: a semente criada pelo Mundial de Clubes foi a rivalidade entre continentes. E um subgrupo emergiu nesta discussão: os ataques e contra-ataques de adeptos portugueses e brasileiros sobre a qualidade das respetivas equipas, campeonatos e suas organizações.

Não é preciso ser sociólogo para perceber que muitas destas discussões (que raramente se fazem num plano da razoabilidade) têm por detrás um móbil que ultrapassa o desporto: há muitas cicatrizes por sarar entre um velho e pequeno país colonizador e um grande mas desorganizado país colonizado.

Não por acaso o presidente da república do Brasil, Lula da Silva, defende uma segunda data da independência, nomeadamente a da expulsão definitiva das tropas portuguesas do Brasil, a 2 de julho de  1823, um ano após a proclamação da independência pelo imperador Pedro I, a 7 de setembro de 1822: há uma necessidade de cortar de vez com um passado que interfira na afirmação da nova identidade.

Mas é precisamente agora que se abre uma oportunidade tremenda: nunca o futebol português e brasileiro estiveram tão próximos. O fenómeno Jorge Jesus colocou o Brasil a olhar em detalhe para os treinadores portugueses e vi portugueses a torcer pelo Flamengo como torciam há 20 anos pelo Chelsea de José Mourinho; seguiu-se outro fenómeno como Abel Ferreira e nos entretantos muito outros com maior ou menor sucesso, mas que estão para os anos 20 no Brasil do século XXI como as novelas brasileiras em Portugal no século XX. Até na aprendizagem de novas expressões – Jesus foi o nosso Sinhozinho Malta.

Para quem identifica o Brasil como um país irmão sempre me fez confusão as barreiras existentes à absorção de música ou cinema portugueses (menos a literatura, mas esse é um mercado menor). Isso mesmo é reconhecido pelos agentes culturais lusos. Mas há algo que os brasileiros sabem sempre: o nome dos principais futebolistas portugueses. Testemunhei-o nas muitas viagens ao Brasil ainda antes do surgimento Cristiano Ronaldo e percebi-o depois, já era CR7 era o que ainda é hoje. Diria mais: Ronaldo é provavelmente tão ou mais idolatrado no Brasil quanto em Portugal.

O património imaterial existe e o contexto é o certo: a Liga/FPF e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) poderiam pensar num troféu que juntasse os melhores clubes dos dois países. Seria muito mais interessante assistir a uma competição de curta duração entre equipas portuguesas e brasileiras do que à Final Four da Taça da Liga. Podia ser um formato a quatro, juntando campeão e vice-campeão (ou campeão e vencedor da Taça).

Não tenho a menor dúvida de que isto suscitaria interesse de patrocinadores e do público de ambos os blocos. A rivalidade saudável trataria de dar a devida competitividade e, mais do que isso, seria uma ótima forma de a Liga se internacionalizar, começando por um mercado de enorme potencial. Mais do que uma hipotética Final Four de uma prova menor no Médio Oriente, numa tentativa de imitar os que outros já fazem, Portugal devia, também no futebol, voltar-se para as suas raízes atlânticas, apoiando-se naquela velha máxima de que oceano une, não separa. Chamem-lhe depois o que quiserem: Copa do Atlântico ou Joga Bonito Cup. É só uma ideia. Valeu?

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