Brasil vermelho de raiva
Quem achou que o tema mais comentado da semana na seleção brasileira seria a contratação (ou não) de Carlo Ancelotti, do Real Madrid, enganou-se.
Uma notícia, aparentemente despretensiosa, do site britânico Footy Headlines, especializado em equipamentos e chuteiras de futebol, a afirmar que no Mundial de 2026 a seleção brasileira usará uma camisa vermelha com manchas pretas como uniforme secundário, gerou um terramoto. No mundo do futebol? Sim, também. Mas sobretudo no mundo da política.
Comecemos pela repercussão no primeiro: um inquérito do jornal Lance! revelou que 74,54% dos leitores são contra. Galvão Bueno, histórico narrador dos jogos da seleção, apelidou a novidade de «crime». Antigos internacionais brasileiros, como Casagrande, na Band, e colunistas, como Mauro Beting, do jornal O Estado de S. Paulo, também rejeitaram a ideia.
Agora, no segundo: Zé Trovão, deputado federal bolsonarista, apresentou um projeto de lei que proíbe a CBF de usar a camisa. O texto determina que todas as entidades públicas ou privadas que representem oficialmente o país utilizem as cores da bandeira: verde, amarelo, azul e branco.
«Quero acreditar que isso não é verdade! A camisa da seleção sempre foi um símbolo da nossa identidade nacional, do nosso orgulho e das nossas raízes. Sempre foi verde e amarela, as cores da nossa pátria», acrescentou o senador Flávio Bolsonaro, primogénito de Jair, desconhecendo que até 1953 a seleção jogou de branco e que, por acaso, na edição de 1917 do Campeonato Sul-Americano, precursor da Copa América, atuou duas vezes de encarnado para se distinguir dos também blancos, à época, Uruguai e Chile. «A nossa bandeira não é vermelha, e nunca será! Essa mudança precisa ser repudiada veementemente», rematou o senador, pintando de vez o tema de cores políticas.
«Enquanto nós queremos pacificar o país, eles querem polarizar mais e mais. Eles não querem a paz e o amor. Eles querem a guerra», acrescentou Carla Zambelli, outra parlamentar bolsonarista. Como se o Partido dos Trabalhadores, de Lula da Silva, cuja cor é o encarnado, influísse nas decisões da privada CBF. Mais: como se fosse a CBF e não a Nike, gigante capitalista cujo fundador, Phil Knight, é um fervoroso doador do (vermelho) Partido Republicano de Donald Trump, ídolo da extrema-direita brasileira, a decidir a mudança.
O equipamento, aliás, até é da Jordan, parceira da Nike, cujo logótipo surgiria no peito de Vini Jr, Raphinha e companhia, de acordo com o Footy Headlines, o site que quase provocou uma tentativa (mais uma) de golpe de estado no Brasil.