Jorge Jesus, treinador do Al Hilal, é candidato a selecionador do Brasil
Jorge Jesus, ex-treinador do Al Hilal, é candidato a selecionador do Brasil (Foto: Imago)

Brasil: o caos que espera Jorge Jesus (ou outro)

OPINIÃO12.04.202510:20

'JAM sessions' é o espaço de opinião semanal de João Almeida Moreira, correspondente de A BOLA no Brasil

Jorge Jesus, ao que consta, sonha treinar o Brasil. O caso não é para menos: é uma seleção com 111 anos de história e, apesar de esta seleção não ter a abundância de talento e, sobretudo, de personalidade de outras eras, encaixar Vinícius, Neymar, Rodrygo e Raphinha é sempre uma alegre dor de cabeça.

É um emprego difícil por causa das absurdas, às vezes inconscientes, expectativas dos pentacampeões mundiais? Sim, mas JJ já provou que equipas de alto perfil não o intimidam — os sucessos no Benfica, no Flamengo e, à escala saudita, no Al Hilal, provam-no. Devia, no entanto, intimidar-se com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Em 2012, o então presidente Ricardo Teixeira renunciou após acusações de pagamento a magistrados e parlamentares para impedir investigação à corrupção, aos contratos ruinosos, às fraudes e ao nepotismo no organismo. Foi ainda acusado, pelo Ministério Público suíço, de desviar 38 milhões de euros da FIFA, num esquema liderado pelo sogro, João Havelange.

Assumiu José Maria Marín, um colaborador da ditadura militar que se destacara enquanto vice-presidente de Teixeira por, na entrega das medalhas da Copa São Paulo, ter sido apanhado nas câmaras a desviar para o bolso a medalha de um jovem atleta. Em 2015, acabaria num calabouço nova-iorquino, acusado de cleptomania mais pesada: desvio de 6,5 milhões de dólares para o mesmo bolso onde enfiara a medalha do miúdo.

Sucedeu-o Marco Polo Del Nero que, apesar de partilhar o nome com o intrépido explorador, não saiu do Brasil no exercício do cargo — ele sabia que se pusesse um pé fora de casa teria o mesmo destino de Marín. Acabou banido do futebol pela FIFA por corrupção, em 2017.

O sucessor, Rogério Caboclo, foi afastado em 2021 para se defender de acusações de assédio a uma funcionária — perguntou-lhe «você se masturba?», conforme se ouve numa conversa gravada, e chamou-a de cadela e atirou-lhe biscoitos de cão em público.

Chegou então o interino Coronel Nunes, que usou jato da CBF para ir à paradisíaca Fernando de Noronha «promover o futebol local», embora não haja clubes na ilha.

Mas esses dirigentes são passado, dirão os otimistas.

Vamos então ao presente que JJ (ou outro) enfrentará: o presidente Ednaldo Rodrigues ofereceu a 49 políticos amigos viagens de luxo ao Qatar durante o Mundial-2022 e colocou nas contas da CBF as despesas da mulher, da filha, do genro, da cunhada e de dois netos no evento, revela a revista Piauí deste mês. E, com salário de cerca de 150 mil euros, ainda se hospedou num hotel de luxo no Rio de Janeiro por nove meses, à conta do organismo.

Se JJ (ou outro) aceitar trabalhar para Ednaldo, será o quinto treinador da CBF em dois anos e meio, um triste recorde nos 111 anos de história da seleção.

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