Benfica e Enzo Fernández: é muito mais que um jogo
Se há 15 anos nos dissessem que um Campeonato do Mundo iria realizar-se em dezembro num micropaís ou que os jogadores iriam poder assinar contratos com clubes de tão curta duração como se estivessem a alugar um Airbnb a exemplo do que fez Rui Patrício no Mundial de Clubes, poucos iriam acreditar. Mas o futebol tem evoluído nos últimos anos para um lugar estranho, ainda que seja prematuro anunciar se para pior ou melhor. É apenas diferente.
Do ponto de vista estritamente desportivo, o Mundial de futebol no Qatar, em 2022, deu-nos grandes jogos e uma das melhores finais de sempre em Campeonatos do Mundo (senão mesmo a melhor), não se confirmando, portanto, os receios de alguns treinadores de clubes sobre o impacto de uma paragem de um mês a meio das provas nacionais e internacionais. Quando regressaram, os jogadores das seleções fizeram o desmame com alguma naturalidade e os campeonatos decorreram com naturalidade.
A exceção talvez tenha sido mesmo o Benfica de Roger Schmidt, que graças a esse Mundial e ao extraordinário desempenho do futuro campeão do mundo Enzo Fernández perdeu para o Chelsea (maior transferência de sempre à data no futebol inglês), a meio da temporada, um elemento fundamental, cuja saída ainda hoje é recordada para justificar as fragilidades do edifício benfiquista.
Porque a partir daí foi sempre a descer do ponto de vista da qualidade do jogo - ainda assim deu para segurar a liderança solidificada na primeira metade da época e festejar no Marquês.
É por esse motivo que o reencontro do Benfica com o agora capitão dos blues de Londres represente algo mais que os oitavos de final de uma competição que para os europeus ainda continua a ter um lado exótico (até pelo fator clima que já fez interromper pelo menos cinco jogos).
Num momento em que se fazem balanços sobre o legado de Rui Costa enquanto presidente das águias, não haverá um único benfiquista que discorde de que os primeiros seis meses da época 2022/23 foi o período mais rico, intenso e prometedor como não se via há muitos anos no clube. Mas porque o voo foi tão alto, mais abrupta foi a queda e a consequente sensação de que o golpe de asa de Enzo foi a exceção e não a regra. Num clube onde tudo é elevado à potência máxima (na euforia e na trieteza) este Benfica-Chelsea, mesmo num torneio ainda sem história, nunca será um jogo qualquer.