As unhas de um João Pereira sem escapatória
João Pereira (Foto: Miguel Nunes)

As unhas de um João Pereira sem escapatória

OPINIÃO28.11.202410:00

Jovem treinador não tinha nada a ganhar ao assumir tão cedo e, com a herança deixada por Ruben Amorim, o banco do Sporting. Tanto que ao primeiro desaire já está criada a dúvida...

Deverá haver poucas profissões piores do que a de treinador. Claro que muitos ganham menos e fazem trabalhos pesados, e há demasiada gente longe de ter feito profissão do que gostava; não é disso.

Um técnico tem muitos privilégios quando comparado com os comuns mortais, todavia, sobretudo no futebol, não há quem esteja tão exposto. Depois, há algo do foro psicológico que provavelmente não se encontra noutro ecossistema: tanto jogadores como treinadores acreditam sempre que podem ser o «tal», haja ou não sustentação lógica ou racional para tão elevado nível de autoconfiança. É válido para Ruben Amorim, para João Pereira e para qualquer outro treinador, de qualquer equipa e divisão.

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Técnico português chegou a Inglaterra e, com naturalidade, terá, para já, convencido toda a gente. Hoje, arranca o que, sobretudo em Manchester, se acredita ser a epopeia da pessoa certa no momento certo.

Entre estes, depois há aqueles que já têm todas as valências – que não se medem em níveis do curso –, outros que ainda as estão a adquirir e quem lá dificilmente chegará. Nem tudo é académico ou, pelo contrário, empírico. Há coisas que não se aprendem ou adquirem, simplesmente têm-se ou não.

O que João Pereira não tinha era qualquer escapatória. Estava obrigado a aceitar o desafio devido ao tal comboio que não passa sempre, mas dificilmente irá ganhar com esse passo, pelo menos no imediato. Porque, se correr bem, terá aproveitado, aos olhos da maioria, o trabalho do antecessor. E se não conseguir ser campeão depois de Amorim ter empurrado os leões até à velocidade de cruzeiro, não restará outra explicação para a opinião pública a não ser a de não ter tido unhas para o Ferrari, lembrando a infeliz expressão que Jorge Jesus atirou a Rui Vitória depois de terem entregado ao segundo as chaves do bólide encarnado.

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O 1-5 diante do Arsenal é um banho de realidade, talvez humildade, e até pode ter o rótulo da responsabilidade do técnico. Só que junto da maioria dos adeptos é mais do que isso, não há dúvidas. Seja a inclusão de Edwards no 11 ou a preparação para as bolas paradas dos gunners, houve decisões que fracassaram.

Depois, onde o antecessor goleava, na comunicação, João Pereira não parece capaz de inspirar as hostes. Será que daqui a uns tempos não estaremos a questionar: onde vai um vão mesmo todos?

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Lembro-me dos que diziam que era só não estragar, porque sabemos que é precisamente agora que Amorim faz mais falta. A João Pereira resta-lhe aceitar o fardo e provar que é o homem certo. Que da própria vez que um rival aparecer arranhado a culpa poderá ser sua. A herança, essa, é terrível. Nada de novo.