A traição de Rafa
Rafa, avançado do Benfica

A traição de Rafa

OPINIÃO02.01.202409:30

No final da época, já com 31 anos, terá o caminho livre para prosseguir a carreira onde receber o que o Benfica não pode, ou não quer, pagar…

Rafa Silva surpreendeu ao dizer o que disse depois de defrontar o Famalicão. Fê-lo de livre vontade. Não foi ingénuo, ele sabe que há oportunidades que não devem perder-se. Por isso, viu nesta declaração, depois do último jogo do ano, que até lhe correu bem, o momento ideal para fazer o anúncio de uma eventual despedida do Benfica. Foi um golpe à traição...

Não sei se a cena estaria preparada, mas estranhei a pressa com que o treinador o corrigiu, ao assegurar que este mês ele não sai, mas não é cem por cento seguro que isso não aconteça mais adiante, para ir à sua vida «como campeão e com títulos». Vistas assim as coisas, estará tudo encaminhado, apesar da posição enigmática assumida por Roger Schmidt. Muita gente quis que ele saísse, referiu, transferindo para terceiros a eventual responsabilidade pela posição bem calculada de Rafa. Por exemplo, porque não a tomou a seguir ao empate com o Farense, há duas jornadas? Ou porque não a tomou antes de Braga, quando Schmidt confessou que se Rafa fosse eficaz «marcaria 25 ou 30 golos por época». Pois é, a eficácia, ou falta dela, sempre foi o seu calcanhar de Aquiles e mais evidente se torna à medida que os anos passam e a disponibilidade física regride.

Li em a A BOLA que o jogador tomou a decisão de sair quando percebeu que a administração encarnada não lhe deu o que ele solicitou para renovar, o que é perfeitamente normal. Uma parte pediu e a outra parte, com a mesma liberdade, recusou, tanto mais que Rafa, ultrapassada a barreira dos 30 anos, não parece em condições de profissionalmente oferecer mais do que até agora foi capaz de dar, sendo certo que o Benfica fez dele um jogador ricamente pago, apaparicado e ao qual dispensou sempre uma infinita tolerância, Schmidt incluído.

Rafa, a história de um adeus esperado

30 dezembro 2023, 23:00

Rafa, a história de um adeus esperado

Decidiu sair ainda no verão, quando percebeu que a SAD não lhe deu o que ele pediu para renovar; nega ter pedido prémio de assinatura; Schmidt exerce grande influência nele

Tudo tem o seu tempo, porém, e o presidente Rui Costa já fez saber que quer dar o passo em frente para devolver ao emblema da águia o estatuto de grande europeu. Dizem os maledicentes da paróquia que isso é uma ilusão. Sê-lo-á, de certeza, se não houver ousadia para fazer o que é preciso, no sentido de enriquecer o plantel com sangue novo, juventude bem preparada, irreverente e corajosa, já representada por Trubin, António Silva, João Neves, Florentino Luís ou Tomás Araújo, mais Tiago Gouveia, por exemplo. Nem todos serão estrelas, mas todos serão importantes e é assim que se constrói um plantel, com onze titulares e mais uma dúzia de suplentes a pressionarem diariamente o treinador para serem também titulares.

Rafa Silva já não tem futuro ao mais alto nível competitivo e, como é fácil de entender, não faz parte deste processo. Acaba contrato e o seu empresário deve sonhar com um camião de euros ou de dólares em comissões das arábias, mas um jogador com apenas 25 internacionalizações A, sem registo de golos marcados, que abdicou da própria Seleção por razões que só a ele dizem respeito e que, em termos de cotação nos mercados, em nada o beneficiaram, não está em condições de fazer grandes exigências. Portanto, no final da época, já com 31 anos, terá o caminho livre para tomar a decisão que quiser e prosseguir a sua carreira onde receber o que o Benfica não pode, ou não quer, pagar…

Uma especulação ainda, ou talvez não: por que foi agora que Rafa resolveu ser o protagonista? Porque não estavam cá nem o capitão Otamendi nem a principal figura do plantel, Di María, os campeões do Mundo.

Leão é líder

O Sporting entrou em 2024 como líder da classificação. Com apenas quinze jornadas cumpridas tem pouco sentido erguer cenários sobre o futuro do campeonato, mas é sempre melhor ser primeiro do que segundo, seja qual for a fase da corrida.

Se me perguntarem se o leão é o principal favorito, direi que sim, pela circunstância de somar mais pontos, estar a jogar bem e ter um plantel que lhe oferece segurança, apesar de ausências importantes, durante este mês de janeiro. No entanto, na discussão restrita pelo título, que prevejo em campeonato a quatro, o Benfica exerce claro domínio, com nove pontos, correspondentes a três vitórias (Sporting, FC Porto e SC Braga), contra quatro do Sporting (vitória com FC Porto e empate em Braga) e um do SC Braga (empate com Sporting). O FC Porto ainda não pontuou, o que reflete o período crítico por que passa o grupo de Sérgio Conceição, incapaz de disfarçar as saídas de Uribe e de Otávio, principalmente este.

O Sporting bateu-se bem em Portimão e justificou a liderança, embora pareça que Ruben Amorim nunca está satisfeito, quer sempre mais e melhor. Os treinadores são assim. Há uns tempos escrevi que ele só tem olhos para o titulo. As contratações do sueco Viktor Gyokeres e do dinamarquês Morten Hjulmand foram dois tiros certeiros que estão a fazer toda a diferença.

‘Dupla do leão mete medo’, assinalei neste espaço, em 29 de agosto de 2023.

Não é tanto o Paulinho, é mais o Gyokeres, ou o enquadramento perfeito entre ambos que ajuda explicar a transformação operada no futebol leonino, de novo pujante, audaz e temido.

Por outro lado, Hjulmand, com as devidas cautelas, dá indicações de muito depressa fazer esquecer Ugarte por ser um jogador de tração à frente e com mais presença em campo do que o uruguaio.

Está tudo a correr bem ao Sporting, mas em futebol nunca se sabe como será o dia seguinte, o que justifica a disciplina de ferro imposta por Ruben Amorim.