Yolanda Hopkins avisa: «Vou fazer estragos»
Chegou de sorriso rasgado a Lisboa, com o coração e a caixa de correio cheios das inúmeras mensagens que recebeu depois de se ter tornado a primeira portuguesa a entrar na elite do surf mundial, o Championship Tour (CT).
Yolanda Hopkins empurrava os sacos com as pranchas que a acompanham para todo o lado - «produção nacional», exclamou o treinador, John Tranter, com um sotaque britânico que não engana – enquanto a algarvia recebia abraços de parabéns. Não muitos, porque a madrugada ainda ia alta.
«Para dizer a verdade, acho que agora, a voltar para casa, é que vou ter as emoções todas aqui à pele», confessou a surfista algarvia que conquistou o Saquarema Pro, no Brasil, quinta e penúltima etapa das Challenger Series (CS), a sua primeira vitória numa prova do circuito de acesso à primeira divisão do surf mundial.
«Tive muito apoio dos portugueses, recebi muitas mensagens, nem sequer conseguia acompanhar todas, foi muito emocional para mim», revelou.
Mas não só. «Os brasileiros estavam malucos. Os nossos companheiros, acho que foi quase como se um deles tivesse ganho. Eles foram muito carinhosos comigo e não podia ter pedido nada mais», vincou a campeã nacional de 2019.
«No início do ano, estava bastante confiante com os resultados que tinha estado a ter, consistentes no top 5 do Challenger. Depois consegui um segundo [África do Sul] e no Brasil foi espetacular. Qualificar-me para o CT é muito especial. Ainda não consigo meter isso na cabeça», confessou a surfista algarvia que quer terminar a temporada no topo do ranking. «Já que estou em número 1 no Challenger, quero ganhar o troféu também. Meter ali na prateleira dos troféus», avançou Yolanda Hopkins, revelando que vai disputar as duas etapas do CS que faltam, em janeiro (Pipeline, Havai) e março (Newcastle, Austrália).
Antes de ver as portas do CT abrirem-se para que pise a passadeira vermelha, a surfista que nasceu em Faro há 27 anos, ficou duas vezes à porta. Em 2019 e no ano passado, no qual ficou à distância de uma bateria, precisamente no Brasil. «Foi aquela questão de estar tão perto. Acho que muitas pessoas quando chegam tão perto e não conseguem atingir o objetivo caem no desfecho. Para mim, foi um bocado ao contrário. Saí do Brasil com ainda mais força e mais fogo na barriga», recordou.
Sem medo de assumir os sonhos, Yolanda acredita que o melhor ainda está para vir. «Estou bastante confiante, acho que não só eu, mas toda a gente que me vê a surfar está confiante que vou fazer estragos no CT!», disse divertida.
E já tem outro sonho. Ainda no Brasil, deixou claro ao que vai, sem medo de julgamentos ou preconceitos. «Trabalhámos tanto em equipa para conseguir atingir o sonho, tantas vezes tão perto que conseguíamos vê-lo! Mas continuámos com a nossa luta e o nosso momento chegou, estamos no CT! Digo nós porque eu e @pigdogsurfcamp somos uma equipa, ganhamos e perdemos juntos, e desta vez ganhamos. E vamos para o CT com apenas um objetivo: sermos campeões mundiais e mostrar do que somos feitos», prometeu.
Afinal, como escreveu Yoyo, Hopkins da mãe galesa e Sequeira do pai algarvio: «Go big or go home, innit!!», que é como quem diz 'pensa em grande ou fica em casa!'
Ela pensou grande, não ficou em casa e ganhou.
«Não tinha chegado aqui sem a ajuda dele e da mulher»
John Tranter tinha um sorriso quase tão grande como Yolanda, a sua menina, a quem dá colo, cama e mesa há sete anos. «Ele é mesmo a figura de pai. Já passámos por tanta coisa juntos… Ele estava lá quando o meu pai faleceu e foi um pilar para mim, para reconstruir a minha vida. Digo sempre isto, não tinha chegado aqui sem a ajuda dele e da mulher», reconheceu a surfista emocionada.
«No início, muita gente sabe que eles pagavam para eu fazer campeonatos e depois tentava, aos poucos, pagar-lhe de volta. E se não tivesse essa ajuda, esse carinho deles, não estaria aqui onde estou neste momento», recordou.
Ele sorri embevecido. «Começámos numa carrinha do campo de surf que eu tinha com nove lugares. Viajávamos por essa Europa fora, ela dormia nos bancos de trás, eu à frente e às vezes dividíamos uma salada daquelas em caixas de plástico. E agora conseguimos», disse.