Salah debaixo de fogo: após 417 recusas «foi egoísta»
As declarações de Mohamed Salah no final do empate do Liverpool com o Leeds (3-3) só vieram incendiar ainda mais os ânimos em Anfield e colocar o próprio avançado sob escrutínio. Alvo de críticas nos últimos tempos, por parte de antigas glórias da Premier League, o internacional egípcio também não foi poupado por aqueles que fazem a cobertura jornalística dos reds.
«Falei com Mohamed Salah para uma entrevista inflamada sobre o Liverpool - ele foi egoísta e não vai conseguir o que quer» é o título de um artigo de opinião de Paul Gorst, correspondente do Liverpool Echo, que analisou o modo como o atacante se relacionou com a Imprensa ao longo dos anos, nomeadamente evitando a comunicação social, com criteriosas vindas a público.
«Em praticamente todos os 420 jogos como jogador do Liverpool, Mohamed Salah recusou educadamente, mas de forma decisiva, a oportunidade de falar com a Imprensa após o apito final. Para ser mais preciso, a superestrela egípcia fez isso em 417 ocasiões. Apenas três vezes, antes da explosão de sábado, dispensou algum tempo para falar com os jornalistas reunidos após os jogos na esperança de conversar com um ou dois jogadores», começou por informar o jornalista.
Depois detalhou as exceções: em 2018, após ter atingido os 40 golos na primeira época na equipa; em 2019, depois da conquista da Liga dos Campeões; e no final de 2024, quando revelou estar «mais fora do que dentro» do Liverpool - meses depois acabaria mesmo por conseguir a desejada renovação com o clube da cidade dos Beatles.
«Por isso, quando o jogador de 33 anos disse ao Echo que depois de um rápido banho pós-jogo voltaria para falar, depois de ter ficado no banco durante o empate 3-3 com o Leeds no sábado à noite, ficou claro que o terceiro maior goleador da história de Anfield tinha algo para mandar cá para fora», lê-se no artigo.
Paul Gorst descreve o momento seguinte como «genuinamente extraordinário», isto «mesmo para um jogador cujo uso dos media tem sido muito deliberado nos seus esforços para enviar mensagens e defender um ponto de vista». «Foi tudo surpreendente», considera, dizendo que «Salah falou como um animal ferido, cujo orgulho foi destruído pela sua retirada da equipa».
«Salah não agitou só o barco, virou a popa em direção a um enorme iceberg», prosseguiu na análise, dizendo que foi uma «decisão preventiva para avançar com medidas drásticas», dispensável para um «Slot em apuros» em vésperas de duelo da Champions com o Inter.
«Nesse sentido, foi egoísta da parte de Salah, que tem estado vários patamares abaixo dos padrões de outro mundo que revelou tantas vezes na época passada, a caminho do título. Há 13 meses, quando falou em Southampton, questionou-se se era o momento certo, com os reds a liderar confortavelmente a tabela. Alegou-se que poderia desestabilizar a corrida pelo título num período crucial da temporada, mesmo que o próprio jogador discordasse. Os seus dois golos para ajudar a derrotar o Saints por 3-2 apenas reforçaram a sua posição em relação a um novo contrato que estava desesperado por garantir. No final das contas, a decisão de se pronunciar publicamente naquela noite funcionou. Ganhou o maior contrato de todos os tempos em Anfield em abril e terminou a campanha como vencedor da Premier League e da Bota de Ouro. Desta vez, no entanto, há pouca justificação para sair da linha.»
Ao questionar os três jogos no banco — antes da CAN, o que pode legitimar a decisão do treinador — instala a tensão no seio dos proprietários e eventualmente nos adeptos, que poderão ter de escolher entre Arne Slot e o egípcio, assinala o repórter, finalizando que Salah poderá não gostar da resposta que receberá.