«O Diogo Ribeiro tem de ganhar confiança nos seus pontos fracos»
«Ficámos bastante satisfeitos, até mesmo felizes com os resultados conseguidos pelo Diogo em Singapura. Por mais que acreditemos de que era capaz de conseguir melhor, sabemos que ainda tem uma boa margem de evolução. Mas os resultados, por si só, foram muito bons», afirmou o treinador Samie Elias a A BOLA, num balanço não só sobre a participação de Diogo Ribeiro nos 22.º Mundiais de natação de Singapura, mas ampliando um pouco a análise para os últimos oito meses que os dois levam de treino, apesar de já terem trabalhado no ciclo olimpico anterior.
Isto é, desde que o técnico, até então adjunto e biomecânico na equipa liderada por Albertinho Silva, assumiu o comando do grupo do CAR Jamor, onde também figuram os olímpicos Miguel Nascimento e Diana Durães.
Neste terceiro Mundial do velocista do Benfica, de 20 anos, destaque para os 50 mariposa, onde registou novo recorde nacional (22,77s), a melhor classificação de Portugal ao ser 4.º, a 10 centésimos da medalha de bronze. Prova na qual defendia um dos dois títulos conquistados ano e meio antes, em Doha-2024, mas onde, agora, o nível dos principais adversários era superior, surgindo como o sétimo mais rápido da entry list.
«Terminámos a temporada com dois recordes pessoais e nacionais e ficou muito próximo de também superar o melhor tempo dele aos 100 mariposa», diz ainda Elias, de 34 anos, recordando a prestação de Ribeiro nos campeonato aos 50 livres (26.º, 22,08) e 100 mariposa (12.º, 51,21), neste defendia igualmente o ouro de Doha-2024, assim como os dois títulos conseguidos (50 livres e 50 mariposa) um mês antes no Europeu sub-23 de Samorin. Evento em que ainda foi vice-campeão de 100 mariposa.
«Mas, o Diogo também mudou a atitude na competição. A forma de estar nas provas, o relacionamento com os adversários e tudo o que envolve estar num campeonato do Mundo. E aí acho que foi excelente», vai contando. «A maneira como passou e superou todos os desafios, encarou os treinos, o treino silencioso, o descanso e a alimentação, acho que ele evoluiu bastante esta época. Amadureceu em muitos aspectos», completa.
«Aliás, gostei bastante de como toda a equipa se portou no Mundial, mas referindo-me apenas ao CAR Jamor, considero que a performance esse ano foi muito boa. Ainda não foi perfeita, mas já estamos a apontar para aqueles pormenores que tenho certeza que irão fazer bastante diferença», refere Samie, que na próxima temporada contará com um grupo de, pelo menos, dez nadadores.
«Para o Diogo, a evolução passa ainda bastante pelos aspectos em que já tem melhorado, mas há alguma coisa em relação à confiança face aos pontos fracos dele, que no momento de a aplicar ainda possui um pouco de receio da concorrência. Isso é normal. Veja-se a sua performance com a idade que tem e os resultados dos atletas que hoje dominam essas provas tinham há um, dois ou três anos. É um caminho muito semelhante, ainda que o Diogo tenha tido mais sucesso precocemente, conseguindo aproveitar bastante bem as oportunidades que surgiram», vai explicado Elias tendo em conta que o seu nadador era, por exemplo, o mais jovem na final dos 50 mariposa, prova em que foi finalista pela terceira vez e na qual já soma duas medalhas em Mundiais, juntando a prata em Fukuoka-2023.
«Tivemos uma conversa antes de começar o campeonato que foi extremamente calma e tranquila para que aproveitasse os momentos e oportunidades que iriam surgir durante a competição. Penso que o conseguiu. Mas, claro que em alguns momentos poderia ter sido um pouco melhor», acaba por reconhecer.
Note-se que, em declarações ao nosso jornal, após Singapura, o próprio Diogo revelou que na meia-final dos 100 mariposa não acreditou na capacidade do seu corpo para puxar mais na segunda metade prova sem que ficasse cheio de dores, e só no final sentiu «que podia ter dado mais». Ainda assim obteve a segunda melhor marca de sempre, apenas superada pelo seu recorde nacional (51,17), que mesmo assim não o colocaria na final.
Samie fez ainda questão de «deixar agradecimentos especiais pela confiança que a federação teve em mim, pela parceria imensurável que o Igor [Silveira, fisiologista e preparador físico] tem tido com o programa e comigo, o apoio do Daniel [Moedas, fisioterapeuta], do Ricardo [Antunes, DTN], que me ajudou ao longo deste processo, do presidente [Miguel Arrobas], o qual que esteve no Mundial e apostou nesta nova empreitada, e a todos técnicos de avaliação e funcionários do CAR Jamor que nos mantêm como se fossemos uma família», diz em três fôlegos.
«E não me posso esquecer de todos os outros treinadores que, como sempre, existindo esse ambiente, não só em competições, são as pessoas com que contamos para dividir experiências e aprender uns com os outros. Esta comunidade vai ficar cada vez mais forte e isso irá refletir-se nos resultados do País como um todo», concluiu.