O momento mais alto da carreira de Jorge Costa (A BOLA)

Jorge Costa, o FC Porto prometido

O FC Porto teve muito de Pinto da Costa. Teve, na realidade, quase tudo. O estado das coisas chegou ao que chegou e, nessa altura, o ‘Bicho’ não hesitou em dizer-se «portista, mas independente»

Há jogadores assim. Que os rivais ‘odeiam’ e ‘amam’ ao mesmo tempo. Os do clube, o FC Porto, nunca hesitaram, nem hesitarão, em reconhecer a grandeza do ‘Bicho’. Jorge Costa foi um jogador enorme, um portista ainda maior e um rival honrado e admirado. A camisola 2 teve João Pinto, mas foi com Jorge Costa que o FC Porto viu toda a grandeza de um número mítico. O ‘Bicho’ não foi meramente um capitão, um líder inigualável, foi o FC Porto prometido aos seus sócios e adeptos.

No FC Porto, Jorge Costa ganhou tudo. E não foi apenas títulos. Esses ficam no registo histórico, na sua carreira: oito títulos de campeão português, cinco Taças de Portugal, oito Supertaças, uma Taça UEFA, uma Liga dos Campeões e uma Intercontinental. O FC Porto prometido era isto, mas não era só isto. Não, não foram apenas títulos, foi honra e respeito.

O ‘Bicho’ foi um dos grandes representantes do FC Porto em campo. E representar o FC Porto em campo é ser exemplo de uma cidade, de uma região, de uma forma de estar e de trabalhar que tem orgulho muito próprio.

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Os portuenses têm orgulho de ser do Porto, como têm orgulho em Jorge Costa, e não só os portistas, mas também os outros, porque mesmo esses outros entendem o orgulho de uma forma que não lhes é comum no clube, mas é-lhes comum na cidade, nos genes, no modo de estar. De quem não abdica, de quem não aceita lições de ninguém, muito menos se sente inferior. De quem não se rende, ou não fosse aquela a cidade Invicta. Jorge Costa foi um dos mais nobres representantes desta ideia.

Capitão, líder, a história que José Mourinho contou sobre o intervalo do jogo com o Belenenses resumiu o que era Jorge Costa e a sua visão do que era ser FC Porto. Isso também foi o FC Porto prometido.

O FC Porto teve muito de Pinto da Costa. Teve, na realidade, quase tudo. O quase é fundamental, porém. O estado das coisas chegou ao que chegou e, nessa altura, o ‘Bicho’ não hesitou em dizer-se «portista, mas independente». Porque havia uma promessa por cumprir. A de um FC Porto vencedor, titulado, orgulhoso de si mesmo, mas que pudesse, de uma vez por todas, enterrar o machado de guerra de uma luta sem sentido, num futebol que necessita mais de entreajuda e solidariedade do que desdém e inimizade.

Sempre se soube que Jorge Costa era assim e assumiu-o sem rodeios, como fazem os verdadeiros líderes e os grandes homens/mulheres. Com frontalidade. As reações dos antigos rivais, colegas de seleção e não só, dão-nos a realidade de uma ideia percecionada há muito: que o ‘Bicho’ defendeu o seu clube como nunca, mas jamais esqueceu que a competição, a diferença de opiniões, não se sobrepõem a uma amizade ou a um bem comum e o respeito, sem submissão, é ponto de honra. O FC Porto prometido é feito de abnegação total, de títulos, e também disto. Jorge Costa cumpriu-o.