Internacionalização aspiracional
1- Escrevi aqui na última crónica que seria para o Vitória um orgulho que pudesse ocorrer a convocatória e internacionalização de Jota Silva; o que veio a suceder. Jota Silva foi convocado, entrou e obteve a sua primeira internacionalização no estádio do clube que o lançou para o que se espera possa vir a ser uma carreira em sentido continuamente ascensional. Jota Silva corporiza uma estória da Gata Borralheira do futebol: há quatro anos estava no Sousense e há três anos no Espinho. O Vitória foi a sua primeira experiência na divisão principal: ontem tornou-se internacional numa das melhores seleções do Mundo. Inspirador de facto. A sua entrada em campo e a forma como foi recebido sempre que tocava na bola é certamente uma experiência inesquecível que demonstra o carinho que neste clube temos pelos nossos atletas e o mérito de um atleta humilde e extraordinariamente trabalhador.
Creio que importa informar devidamente os vitorianos do que significa esta internacionalização. Porque Jota Silva é o 32º jogador do Vitória a atingir uma internacionalização A pela Seleção de Portugal. O que é um número que tem de nos orgulhar e que é mais uma manifestação objetiva da grandeza deste clube. Desde António Mendes “pé de canhão”, em 1966, num jogo precisamente (e curiosamente) contra a Suécia, foram 31 os jogadores do Vitória que envergaram a camisola das quinas sendo atletas do clube de Guimarães. Em 1966 Mendes jogou então ao lado de Eusébio, José Augusto e Mário Coluna. Em 2024, 58 anos depois da primeira internacionalização de um jogador do Vitória, Jota Silva partilhou campo com Bernardo Silva, Bruno Fernandes e Rafael Leão. Este é mais um fator de inequívoca afirmação da valia desportiva do Vitória, de Guimarães.
É naturalmente devida uma palavra de agradecimento a Roberto Martinez que, sem deixar de consolidar e gerir o seu grupo nuclear, demonstra atenção aos valores que despontam noutros clubes. Talvez não fosse tão fácil para um treinador português ter este arrojo de convocar jogadores de clubes para além dos três habituais. Também nisto Roberto Martinez demonstra que visões desempoeiradas e não condicionadas fazem falta e contribuem para a melhoria do futebol português.
2- Este foi o 8º jogo da Seleção no Estádio D. Afonso Henriques (considerando a designação anterior de Estádio Municipal de Guimarães). O cenário que não era até aqui muito positivo (3 derrotas, 2 vitorias e 2 empates), equilibrou-se ao terminar com uma vitória inequívoca por 5-2 e uma exibição de manifesta superioridade. Longe vão os tempos em que os jogos com a Suécia nos eram desfavoráveis. Recordo-me dos encontros contra a Suécia de Strömberg e depois Magnusson e Jonas Thern em que dificilmente conseguíamos ser superiores. Desta vez, a diferença foi avassaladora a nosso favor, o que diz muito da qualidade, profissionalismo, confiança, competência do jogador português no século XXI. A Seleção Nacional evoluiu imenso desde os anos 90 do ano passado, mas é justo reconhecer que os últimos anos, sob a direção serena e determinada de Fernando Gomes, se criaram as condições físicas, ao nível dos equipamentos, e de tranquilidade e discrição diretiva que muito contribuíram para consolidar o futebol português e concretamente a Seleção Nacional a um nível que sempre soubemos ter potencial para atingir mas que, valha a verdade, nunca fomos capazes de o fazer. Agora somos.
3- Se um dos fatores de afirmação do Vitória tem sido a excelência da sua formação, o naipe assinalável de atletas que têm singrado na equipa principal e nas seleções nacionais vindos da nossa formação, a posição atual da Equipa B não é aceitável e não faz jus àquela que tem sido a nossa história. Merece preocupação e atenção.
A Equipa B perdeu esta semana 3-0 com a AD Marco 09 perdendo com isso todas as possibilidades de lutar pelo acesso à Liga 3. E isto não pode ser normal. Não se trata de questões classificativas que essas, como sabemos, são menores em escalões de formação ou transição. Trata-se sim de poder ter índices qualitativos adequados à formação de atletas com grande potencial, como aqueles que temos nessas idades, cuja formação transitiva pode dessa forma ser seriamente posta em causa o que se pode tratar num prejuízo de proporções enormes. Uma situação a analisar com muita atenção e cuidado. Um assunto a retomar em reflexões futuras.