Victor Froholdt (Catarina Morais/Kapta+)

Há um novo dragão na forja que promete cuspir muito fogo

Compacta e agressiva, a equipa de Farioli manteve-se sempre organizada (mesmo com as substituições) e revelou, através de um 4x3x3 que pode conhecer dinâmicas melhoradas, um alto potencial competitivo. E muita atenção a Froholdt e a... Mora

Contra uma equipa que só sabe jogar a sério, mesmo numa fase mais incipiente da preparação e tendo recorrido a onzes diferentes nas duas partes, o FC Porto não desiludiu os quase 50 mil adeptos que encheram o Dragão e deixou no ar uma sensação de refrescamento e novidade.

Os portistas, especialmente na primeira parte em que o onze-contra-onze esteve mais perto da competição real, foram atrevidos na forma subida como defenderam, meteram pressão num adversário que costuma conviver bem com ela, tiveram as melhores oportunidades (pelo menos três, contra uma do Atlético Madrid) e fecharam os 45 minutos iniciais com chave de ouro, graças a um belíssimo golo (remate violento, de pé direito, quando estava descaído sobre a direita) de Victor Froholdt, um dinamarquês de 19 anos que trocou Copenhaga pela Invicta e em menos de nada tornou-se na coqueluche dos azuis e brancos. Logo que Farioli entenda que Rodrigo Mora pode acompanhá-lo no meio-campo, estará montada uma dupla que provocará, por certo, muitos estragos. 

NOVIDADES

Quando se fala de um novo FC Porto na forja, tem mais a ver com a forma como a equipa passou a abordar o jogo do que, propriamente, com os reforços, que não desiludiram. E isso ficou à vista de todos quando, apesar das nove mudanças operadas no segundo tempo, a organização e dinâmica dos dragões se manteve inalterada.  

Relativamente a momentos anteriores, este 4x3x3 de Farioli é moderno e desempoeirado, aqui e ali permite já o vislumbre de variantes dentro do sistema que o tempo aprimorará e parece colher a adesão dos jogadores, que nunca viraram a cara à batalha, prometendo uma grande luta dentro do plantel por um lugar no onze inicial. 

Sabendo-se que o FC Porto não estava jogar contra uma equipa qualquer, deve começar por sublinhar-se a agressividade dos dragões, que na primeira parte cometeram nove faltas, quase todas para impedir saídas de bola perigosas da formação de Diego Simeone.

Duas regras, complementares, estão à vista neste modelo de Francesco Farioli: pressão alta e setores muito juntos, algo que só pode ser feito se nenhum jogador virar a cara ao primado do coletivo, e houver aquele tipo de disciplina posicional que se ganha nos treinos.

Apesar de os ‘colchoneros’ se terem apresentado na primeira parte num 4x4x2 que podia ter lançado a dúvida entre os dragões, foram estes a terem, por Pepê, Sainz e Froholdt (que teve sucesso), hipóteses de marcar, ficando-se os madrilenos por uma bomba de Alvarez que embateu no travessão da baliza de Diogo Costa.

Nestes 45 minutos ressaltou a tranquilidade de Bednarek, a elegância de Victor Froholdt, que tem ao mesmo tempo intensidade, limpidez de processos e passada larga, criando situações de transição ofensiva muito favoráveis ao FC Porto, e a disponibilidade de Borja Sainz, para lá da pendularidade de Varela, que está a começar a época em grande estilo. Um senão apenas para a solidão em que Samu foi demasiadas vezes deixado, sem que um dos alas o apoiasse diretamente.

Com a chegada de Luuk de Jong, o que mudará, qual passará a ser a hierarquia na frente de ataque portista? O tempo encarregar-se-á de tirar as dúvidas, mas deve ficar desde já bem claro que, do ponto de vista da equipa, estamos a falar de jogadores que podem ser utilizados em simultâneo. 

SUPOSIÇÕES 

Ao intervalo, Cholo Simeone não foi de modas e trocou a equipa toda, passando a jogar em 3x5x2 (quase sempre...), alteração que não provocou dificuldades ao FC Porto, que esteve sempre por cima das operações, apesar dos espanhóis terem equilibrado mais a posse de bola. Francesco Farioli não foi tão radical, realizando, mesmo assim, umas generosas nove substituições entre os minutos 52 e 77.

A defesa, que teve de se haver com Antoine Griezmann, não teve problemas de maior, e o meio-campo, onde passou a pautar jogo o ex-futuro benfiquista Thiago Almada, apesar de ter mais bola, não encontrou brechas na organização azul-e-branca. Já das alterações portistas haverá mais a dizer: por exemplo, Grujic revelou-se um defesa-central muito competente; Eustáquio fez questão de dizer que não é carta fora do baralho nas escolhas de Farioli; e, acima de todos, Rodrigo Mora reclamou, por atos e não por palavras, a titularidade. Das duas, uma: ou o jovem portento poderá sair até ao fim do mercado, e por isso não é primeira escolha; ou ser ele e mais dez, será apenas uma questão de ‘quando’ e não de ‘se’.

No 4x3x3 de Farioli, um meio-campo que contasse com o equilíbrio de Varela, o alcance de Froholdt, um verdadeiro achado, e a magia de Rodrigo Mora, podia fazer a diferença dentro e fora das nossas fronteiras. Aliás, as duas principais dúvidas decorrentes da justa vitória sobre o Atlético de Madrid têm a ver com Mora, que é matéria prima para o melhor onze, e com Luuk de Jong, que pode colocar seriamente em risco a titularidade incontestada (até aqui) de Samu. Mas estes são bons problemas para Farioli, que parece ter um plantel com qualidade e profundidade, e deixa promessas de um futebol entusiasmante.   

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