É possível humanizar o dinheiro
Pela primeira vez desde há muitos anos os adeptos do futebol olham para o Paris Saint Germain como uma equipa que gera empatia e não aquele grupo de jogadores movidos a petrodólares resultado do investimento iniciado em junho de 2011 pelo fundo soberano do Qatar, personificado em Nasser Al Khelaifi, que caminha a passos largos para ser um dos dirigentes mais longevos do futebol europeu. Foram injetados mais de dois mil milhões de euros em contratações nestes 14 anos, mas sem tradução na conquista do título de clubes mais importante do planeta, o que para muitos românticos da bola era visto como uma vingança da moral sobre o capital, não tanto pelo altos gastos per se, mas pela forma agressiva como revolucionou o mercado, inflacionando as transferências de uma forma nunca vista a partir do momento em que decidiu pagar 222 milhões de euros ao Barcelona pelo passe de Neymar - e só passados sete anos houve a devida correção, como se provou pelas últimas duas janelas de mercado.
Mesmo após a entrada de Luís Campos para conselheiro desportivo, o PSG nunca fugiu à tentação de superar os grandes concorrentes europeus na contratação dos grandes valores do Velho Continente. Só nas duas últimas épocas saíram 694 milhões de euros dos cofres, mas com uma diferença relativamente ao que se praticava no clube nos anos anteriores: prioridade a jovens e com perfil nos antípodas do jogador-estrela. Essa é cartilha do dirigente português, praticada em todos os emblemas por onde passou, mas foi preciso esperar pela chegada de um treinador como Luis Enrique (aquele que tem o real poder de impor uma verdadeira cultura de balneário) para o casamento perfeito. O sucesso esteve para acontecer na primeira época, mas entre o que Mbappé dava à equipa e aquilo que retirava aos colegas gerou um saldo negativo, reconhecido pelo técnico e por jogadores que no ano seguinte se emanciparam, embora sem tiques de vedeta - é só olhar para Vitinha ou João Neves.
Uma equipa dotada de futebolistas que têm tanto de talento como de capacidade de trabalho e que em caso de vitória, hoje, em Munique, frente ao Inter, ficará na história como um dos projetos mais interessantes deste século -não por causa do elevado investimento, mas pelo trabalho de um técnico que simultaneamente é capaz de superar a tragédia pessoal com uma energia contagiante, a lição de vida que nos devolve a sensação da humanidade perdida com o lado mais negro do capitalismo no futebol.
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