Paulo Jorge Pereira, selecionador nacional, diz que Portugal tem «muitas hipóteses» de estar em Paris
Assinalam-se três anos nesta quinta-feira do dia em que Portugal alcançou o maior feito da história do andebol, ao apurar-se para os Jogos Olímpicos, graças a um golo decisivo de Rui Silva nos últimos segundos do jogo frente à seleção francesa, no torneio pré-olímpico que se disputou em Montpellier.
A data pode ser um bom prenúncio para os Heróis do Mar, mas não valerá de muito quando os comandados de Paulo Jorge Pereira entrarem em campo (17.30h) para defrontar a Noruega que, ao contrário de Portugal, desiludiu no Europeu disputado em janeiro, ao terminar em 9.º numa competição que iniciou de olho nas medalhas.
Ora, para enfrentar o torneio pré-olímpico que arranca nesta quinta-feira na cidade húngara de Tatabánya, Paulo Jorge Pereira apostou na base da equipa que alcançou o 7.º lugar no Europeu, fazendo apenas duas trocas na convocatória, com a entrada do ponta esquerda Diogo Branquinho e do pivô Alexis Borges para os lugares de Pedro Oliveira e Ricardo Brandão, respetivamente.
Em conversa com A BOLA, o selecionador explicou as opções e reforçou a confiança na equipa que deu boa resposta na competição que decorreu na Alemanha há dois meses. «Quisemos manter o máximo possível porque estivemos excecionais. O [Diogo] Branquinho está sempre pronto para estas coisas e o Pedro Oliveira não tem estado tão bem como já esteve esta época, e nós procuramos sempre o melhor para a Seleção», explicou.
Já a presença de Alexis Borges foi mais surpreendente, uma vez que o pivô do Benfica tinha abdicado da Seleção depois do Mundial de 2023, voltando às opções novamente, num momento em que Victor Iturriza e Daymaro Salina, ambos pivôs do FC Porto, se encontram a recuperar de lesão, o que deixava a posição bastante desfalcada em termos de experiência.
«Vamos acrescentar valor com o Alexis em termos defensivos. Ele deixou de estar connosco por questões pessoais e familiares, mas agora mostrou novamente disponibilidade e claro que ele é uma grande mais-valia em termos defensivos, além de também poder atacar com qualidade para darmos algum descanso ao Luís Frade», sublinha.
Alexis Borges regressa ao grupo depois de ter abdicado após o Mundial de 2023. «Sofrimento» a ver Europeu por fora pesou na hora de tomar a «decisão certa»
Prontos para a «luta das lutas!»
Concentrada desde sábado, mas com o grupo completo apenas na segunda-feira, a Seleção teve pouco tempo para preparar uma competição de exigência máxima, com três jogos em quatro dias. Nesse sentido, Paulo Jorge Pereira assume a importância da equipa técnica e da informação teórica, uma vez que a preparação no terreno é manifestamente escassa.
«Vai ser a luta das lutas! Isto começou em dezembro [início da preparação para o Europeu] e acaba no dia 17. E esta fase prepara-se com muito foco nos detalhes. Todas as seleções têm pouco tempo para a trabalhar, por isso estamos em igualdade de circunstâncias. Resta-nos tentar ganhar no que podemos ganhar que é querermos mais do que os outros».
Para chegar aos Jogos Olímpicos pela segunda vez consecutiva, Portugal tem de assegurar um dos dois primeiros lugares do pré-olímpico que tem ainda a Hungria e a Tunísia, e ao qual o conjunto luso chega com um estatuto distinto daquele que tinha em 2021, conforme reconhece o selecionador, sublinhando, contudo, que o estatuto não entra em campo. O que até pode ser bom diante da Noruega, que apesar de ter ficado atrás de Portugal no Europeu (9.º) é uma das maiores potências do andebol.
«Não é mesma coisa jogar com Portugal agora, ou há quatro anos. O engano é pensar que vamos ganhar à Noruega só por termos ganhado da última vez. Até porque desde 2020 jogámos quatro vezes com eles e apenas ganhámos uma», recorda, retirando também o estatuto de decisivo ao encontro.
O sonho por cumprir de ver o aeroporto cheio
Apesar dos resultados alcançados pela Seleção nos últimos anos, que incluem a melhor (6.º) e segunda (7.º) melhores participações de sempre em Europeus, a classificação mais alta em Mundiais (10.º) e a qualificação para os últimos Jogos Olímpicos, há um sonho que Paulo Jorge Pereira assume ainda não ter concretizado: ver esses resultados reconhecidos pelo povo português. «Sonho que possamos ter uma receção extraordinária no aeroporto. Nunca tivemos e é algo que eu visualizo. Há muito tempo que espero isso aconteça e ainda não tivemos essa oportunidade. Pode ser que seja desta vez», aponta.
«É o primeiro jogo, não define nada. Estamos habituados a jogar um jogo de cada vez e adaptar-nos às circunstâncias. Se vencermos a Noruega será importante, claro, mas temos de pensar um jogo de cada vez. Se tivermos que sofrer mais e levar as decisões até ao fim, sofreremos porque esse costuma ser o nosso fado», acrescenta, não esquecendo que a decisão pode ser adiada para o último jogo frente à… anfitriã.
«Quando chegarmos ao jogo com a Hungria já saberemos o que temos de fazer. E vamos jogar contra 16 mil adeptos, o que dá sempre com uma tensão adicional», antecipa.
Guarda-redes da Seleção de andebol com discurso confiante para o pré-olímpico
A confiança, essa, é que ninguém tira ao treinador recordista de jogos ao serviço da Seleção e que ajudou a recolocar Portugal no mapa do andebol, com a presença em seis grandes competições consecutivas. Questionado sobre quais as reais possibilidades de Portugal voltar à maior competição desportiva do planeta, Paulo Jorge Pereira não hesita.
«As nossas hipóteses são muitas. Toda a gente tem possibilidades. Lutaremos para igualar as possibilidades. Voltar a estar nos Jogos Olímpicos, que podem ser os mais mediáticos da história, seria fantástico. Temos mais uma vez essa oportunidade, o que é um autêntico orgulho», resume sobre o facto de o andebol ser a única modalidade de pavilhão em Portugal que alguma vez foi às Olimpíadas.