Capdeville ‘veste’ o espírito de Quintana e garante: «Vamos apurar-nos!»
Gustavo Capdeville mostra-se confiante no apuramento da Seleção de andebol para os Jogos Olímpicos (IMAGO)

Capdeville ‘veste’ o espírito de Quintana e garante: «Vamos apurar-nos!»

ANDEBOL13.03.202409:30

Guarda-redes da Seleção de andebol com discurso confiante para o pré-olímpico

Em março de 2021, quando a Seleção portuguesa de andebol alcançou o histórico apuramento para os Jogos Olímpicos, havia uma ferida aberta há demasiado pouco tempo que se transformou em força motivadora.

Alfredo Quintana. É dele que falamos, obviamente. O guarda-redes tinha perdido a vida há apenas 16 dias, quando os companheiros se superaram para alcançar um feito que parecia impossível de imaginar pouco tempo antes. Mas para Alfredo Quintana não havia impossíveis. E a confiança dele contagiava todos em seu redor.

Três anos volvidos, essa é uma marca que ainda se sente. É fácil de a detetar nas palavras de Gustavo Capdeville no lançamento do torneio pré-olímpico que arranca na quinta-feira, na Hungria, e que pode valer a segunda presença consecutiva do andebol português nas Olimpíadas. Não, não é apenas nas costas que o guarda-redes do Benfica e da Seleção eterniza o amigo e antigo companheiro. O espírito de Quintana sente-se nas palavras de Capdeville.

A Seleção portuguesa não esqueceu Alfredo Quintana no momento de celebrar o apuramento para os Jogos Olímpicos (Alexandre Dimou/Icon Sport/FPA)

«As sensações são boas. Fizemos um bom Europeu e isto é uma boa recompensa para o trabalho que temos realizado e a história que tem vindo a ser feita. Estamos felizes por estar novamente num torneio pré-olímpico e ter a oportunidade de chegar a uns segundos Jogos Olímpicos consecutivos. É para concretizar esse objetivo que estamos a trabalhar», introduz, para logo a seguir deixar uma garantia: «Vamos apurar-nos!»

«Com o grupo que nós temos e pela forma como trabalhamos, tenho a certeza de que nos vamos apurar», atirou, sem medo das palavras. «Esta é uma nova oportunidade para fazermos mais história. Queremos continuar a marcar a história da Seleção e é o que vamos fazer», reforça, assumindo-se como porta-voz da ambição lusa.

Uma exibição defensiva irrepreensível valeu a Portugal a vitória sobre a Noruega (IMAGO)

De resto, o guardião de 26 anos diz que a curto prazo, o objetivo de Portugal tem de passar pela luta por medalhas. «O mínimo que se pode exigir a esta equipa é estar sempre presente nas grandes competições. O mínimo dos mínimos. Temos qualidade para isso e queremos demonstrá-lo ano após ano. A partir de agora, temos de começar a pensar numa medalha. Porque queremos muito, já estivemos perto de alcançar grandes momentos – no Europeu tivemos a possibilidade de ir às meias-finais, por exemplo – e não conseguimos. Temos de dar esse passo. Não sei se nos falta sorte, mas temos de trabalhar mais, porque temos falhado nas pequenas coisas», acrescentou.

«Éramos uma equipa perdedora»

A evolução do andebol português nos últimos anos é inquestionável. E a possibilidade de estar pela segunda vez consecutiva nos Jogos Olímpicos é a enésima prova disso. Para Capdeville, o momento da viragem é muito fácil de encontrar e tem um grande culpado: Paulo Jorge Pereira.

«Há pouco tempo, era difícil de acreditar que poderíamos estar a lutar por ir aos Jogos Olímpicos pela segunda vez. Quando o professor entrou na Seleção, éramos uma equipa perdedora e ele mudou a nossa mentalidade. Desde que ele chegou, temos vindo a alcançar grandes vitórias e a fazer história para Portugal», introduz, lembrando o contexto em que o treinador encontrou a Seleção, em 2016.

«O futuro é risonho»

Se no Europeu a Seleção alcançou o 7.º lugar com uma equipa que tinha menos de 25 anos de média de idades, para o pré-olímpico ela sobe um pouco e está ligeiramente acima dos 26 anos. Ainda assim, é um conjunto jovem, que faz Capdeville mostrar-se confiante no que aí vem. «O futuro é risonho. As classificações têm sido boas, mas queremos ainda mais: ambicionamos e trabalhamos para chegar a umas meias-finais, ou lutar por uma medalha. Somos uma seleção muito jovem, mas estamos a adquirir cada vez mais experiência, por isso acredito que isso vai acontecer no futuro», defende.

«Éramos muito derrotistas. Vínhamos de um ciclo perdedor muito longo e faltava-nos confiança. E ele incutiu-nos uma mentalidade vencedora, mostrou que podemos fazer mais e que somos capazes de vencer qualquer equipa. Temos muito valor e qualidade, mas como nunca nos apurávamos, fomos entrando numa bola de neve. Ao assumir a Seleção, ele avisou que vinha para mudar porque não queria continuar num ciclo derrotista. Fomos interiorizando isso e quando ganhámos à França [em 2019, no apuramento para o Euro2020] foi o ponto de viragem», finaliza.

Paulo Jorge Pereira, selecionador de Portugal (IMAGO/Nordphoto)

A revolução tem agora novo rumo traçado: Tatabanya, na Hungria. É lá que Portugal vai decidir o apuramento, juntamente com a seleção anfitriã, a Tunísia e a Noruega, que é o primeiro adversário, já nesta quinta-feira.