Arco e flecha antes de soltar labaredas: a crónica do jogo do Dragão
Pose festiva no Dragão; foto GRAFISLAB

FC Porto-Moreirense, 5-0 Arco e flecha antes de soltar labaredas: a crónica do jogo do Dragão

NACIONAL20.01.202423:40

Portistas caçaram o Moreirense logo aos 8 minutos, mas andaram uma hora a mastigar o jogo e só nos últimos minutos foram dragões

Um golo pode mudar um jogo. Este sábado, no Dragão, o primeiro golo do FC Porto, logo aos 8 minutos, no segundo remate da equipa e na primeira verdadeira jogada de perigo, facilitou uma noite que se antecipava muito difícil — e ficaram sinais disso na meia hora que se seguiu. 

Sexto classificado da Liga, com apenas uma derrota fora (em Alvalade), o Moreirense foi ao Dragão com plano de jogo bem estruturado: travar os caminhos da sua baliza e, assim que recuperasse a bola, partir desenfreado para o ataque. Fez o primeiro remate, por Alan, logo aos 2’, mas o plano saiu furado com o 1-0 de Wendell. Mas mesmo subindo um pouco as linhas, tentando tornar-se um pouco mais pressionante, fez uma primeira meia hora muito boa, nada concedendo ao dragão e ameaçando várias vezes em ataques rápidos, sobretudo por Kodisang, pela direita — faltou ao extremo, que corre bem para a frente mas não soube correr para trás para acompanhar Wendell no lance do primeiro golo, ser tão bom com bola como foi nas correrias...

Mas o golo tinha mudado o jogo. Em vantagem, o dragão sentiu menos urgência de procurar a baliza. Não precisou de soltar fogo para caçar o adversário, fê-lo de arco (o do centro magnífico de Francisco Conceição) e flecha (na desmarcação de Wendell ao segundo poste antes da finalização de primeira). E depois ficou a mastigar... Só à meia hora, numa jogada individual de Francisco Conceição, com outro arco, mas num remate, o FC Porto voltou a criar perigo. Ameaçou de novo em cima do intervalo, num remate de primeira de Wendell, após desentendimento da defesa do Moreirense, mas Kewin defendeu. Mas não jogou bem. Sentiu problemas para furar a muralha adversária e não foi tão seguro assim a defender, beneficiando sobretudo de más definições dos homens mais adiantados do Moreirense. Mas vencia desde os 8’, e isso terá tirado intensidade à equipa.

Eficácia na bola parada

Mas se o dragão foi tão mansinho na primeira parte, como se explica a goleada por 5-0? Com as circunstâncias do jogo. Porque a segunda parte parecia caminhar para os mesmos terrenos da primeira — e ainda antes do cronómetro chegar aos 46 minutos já Kodisang entrava na área para rematar, de pé esquerdo, a rasar o poste de Diogo Costa.

O dragão continuava sem deitar fogo, ainda a mastigar a pequena presa caçada de arco e flecha, mas não é preciso jogar bem para se ser eficaz de bola parada. E o FC Porto foi-o, aos 60’ — canto curto, centro de Alan Varela e desvio de cabeça de Evanilson, a dar o 2-0 no primeiro remate da equipa da casa na segunda parte.

Só depois, sim, o dragão soltou labaredas e encantou. Beneficiou do desaparecimento dos cónegos, como que por magia — já com dificuldades para criar perigo (o último remate que conseguiu fazer em toda a partida foi mesmo aquele a abrir a segunda parte, aos 46’), o Moreirense deixou também de defender. Tentou atrever-se mais no ataque, acusou o esforço da primeira hora e passou a deixar caminhos livres para a sua baliza.

E em dois ataque velozes o FC Porto rapidamente chegou à goleada — aos 69’, 3-0 por Galeno, após recuperação de bola no meio-campo defensivo e passadeira azul estendida pelo Moreirense, que o levou ao limite da área (e a finalização de pé direito ajudada por desvio em Marcelo); três minutos depois, 4-0 de Wendell, em novo ataque rápido, este coletivo e pela direita, com João Mário a centrar para o bis do lateral brasileiro segundos depois de Frimpong esbracejar a pedir ajuda, por causa da inferioridade numérica, sem que ela chegasse a tempo.

Alan Varela estreou-se a marcar pelos dragões

Não satisfeito com o espaço que dava para os ataques rápidos do FC Porto, o Moreirense ainda decidiu arredondar as contas, com Kewin a oferecer a bola a Alan Varela para o argentino se estrear a marcar de azul e branco.

O dragão saiu de barriga cheia, com a maior goleada da época, mas, valha a verdade, só deitou labaredas na última meia hora.