Viktor Gyokeres bisou frente ao Estoril em Alvalade (IMAGO)

Apenas um pequeno susto para dar alguma emoção... (crónica)

Depois de marcarem cedo de bola parada, os leões construíram uma vitória justa em contra-ataque. Sentiram alguns calafrios depois do 2-1 dos canarinhos, mas quem tem aquele Gyokeres tem quase tudo

Um jogo que à partida se adivinhava complicado para o Sporting, que não nadava em confiança e continuava massacrado por uma onda de lesões, acabou por ser quase sempre tranquilo, embora os pressupostos expetáveis tivessem sido trocados: foi o Estoril a ter mais bola (aos 15 minutos tinha 60 por cento e ao intervalo 51), mas foi o Sporting, a tapar todos os caminhos para as redes de Rui Silva, a criar múltiplas ocasiões para dilatar uma vantagem cedo conseguida (5 minutos, por Inácio, de cabeça, após uma bola parada lateral superiormente batida por Debast), em lances de contra-ataque puro e duro em que, regressado à plenitude das suas capacidades, Viktor Gyokeres fez a cabeça em água a Boma e Pedro Álvaro. Não fosse o acerto de Robles e as equipas teriam ido para intervalo com mais do que o 2-0 (Gyokeres, após fazer gato-sapato da defesa canarinha, 36) que se verificava. 

Com as equipas armadas em 3x4x3, o que à partida podia ser um jogo de encaixes esteve muito longe de sê-lo, em primeiro lugar porque Rui Borges, escaldado por perdas de pontos evitáveis, tratou de organizar a defesa, e só depois pensou no resto. Para esta decisão do técnico leonino também terá contribuído o facto de ter usado um meio-campo improvisado – Debast e Felicíssimo - que desaconselhava um futebol de maior elaboração técnica. Ao invés, o Estoril, que vinha de uma série de oito jogos sem perder, deslumbrou-se com o espaço que o Sporting permitiu em zonas inofensivas e, ingenuamente, fez subir a equipa e apostou num futebol rendilhado em que cada perda de bola era sinónimo de uma jogada de perigo por parte dos leões.

Mas falar deste jogo sem referir o regresso do melhor Gyokeres seria saltar um dos factos mais importantes da noite, que, a manter-se, poderá ter até reflexos na história deste campeonato. O avançado sueco, de turbo ligado do princípio ao fim, desmontou, em jogadas de um-contra-um, ou mesmo de um-contra-dois (como sucedeu no segundo golo) a defesa do Estoril, e tornou tudo fácil para os seus companheiros, ao dar-lhes sempre soluções no futebol direto, por que preferencialmente optaram.   

Foi, pois, com um Estoril com a ilusão de que controlava o jogo e o Sporting efetivamente a mandar, que Rui Silva teve uma primeira parte descansada, que viria a terminar com a única jogada de perigo dos canarinhos, quando João Carvalho, após excelente iniciativa individual, rematou por cima. 

UM CALAFRIO 

Para a segunda parte, enquanto Rui Borges manteve tudo na mesma, Ian Cathro chamou João Carvalho para zonas mais centrais, mas a presença estorilista na grande área leonina, de onde Begraoui saía à procura de bola, continuava residual, e os minutos iam passando sem que se vislumbrasse possibilidade de reviravolta. O treinador do Sporting aproveitou uma lesão num braço de Matheus Reis (58), para mandar Catamo a jogo como médio esquerdo, passando Quenda para a ala direita e Fresneda para a esquerda, mas na essência a toada da partida manteve-se, com o Estoril sempre exposto aos ataque rápidos do Sporting, que aos 63 minutos, por Debast, esteve muito perto de marcar. Quando Cathro mexeu na equipa (66), agitando o ataque com Lacximicant e Marques, os canarinhos espevitaram-se mais, mas seria necessário um choque de cabeças entre Xeka e Pina, que levou à substituição de ambos os jogadores, para, através das entradas de Orellana e Pedro Carvalho, que dinamizou a direita com qualidade, os forasteiros passarem a ser mais incisivos. Na resposta, Rui Borges quis dar mais pulmão à sua equipa (Harder, Arreiol e José Silva aos 79 minutos), mas estava escrito que os adeptos leoninos não regressariam a casa sem antes terem apanhado um susto: o ex-leão Gonçalo Costa, três minutos depois de ter entrado, bateu Rui Silva (84) e os fantasmas que assombraram recentemente Alvalade bateram à porta para entrar. A partir daí, com o Sporting fechado e o Estoril a tentar carregar, a verdade é que as redes de Rui Silva não voltaram a estar em perigo, e o sossego final chegaria em forma de bis de Gyokeres, dos onze metros, após o enésimo contra-ataque que o Estoril permitiu.  

Vitória justa do Sporting, provavelmente por números que podiam ter sido mais generosos, numa noite em que os leões foram pragmáticos e organizados e tiveram na frente um Gyokeres como há muito não se via.