António Carraça revela como escolhia jogadores e treinadores para o Benfica
António Carraça foi convidado pelo Globo Esporte a recordar a altura em que apresentou o projeto Geração Benfica, em 2004, após ter sido convencido pelo antigo presidente Luís Filipe Vieira a aceitar o cargo, e o próprio abordou o início desse longo processo.
«O projeto que apresentei tinha a ver com vários aspetos que eu considerava fundamentais. A visão tem de ser o sucesso desportivo e a rentabilidade financeira. Depois, articular um plano do ponto de vista das competências dos treinadores, jogadores e seus perfis, para podermos dar aquela lógica de qualificação que era importante fazer na formação do Benfica. As coisas foram acontecendo normalmente», começou por dizer o antigo diretor de futebol do clube, lembrando que o mais importante era o foco nos jogadores.
«O projeto Geração Benfica era mais do que qualificar equipas, era qualificar jogadores. Se nós fizermos isso, teremos jogadores melhores, equipas melhores, ganharemos mais vezes, conseguiremos títulos. Paralelamente, desenvolvemos um talento para, no futuro, esses jogadores terem espaço na equipa principal e poderem gerar mais-valias nas suas transferências para o exterior. Foi dentro dessa base que construímos o campus», explicou.
Carraça foi o responsável pelas contratações de nomes como Renato Paiva, Rui Vitória, João Tralhão e até Bruno Lage, entre muitos outros, para as camadas jovens do Benfica e explicou o que procurava num treinador.
«O perfil do treinador... Eu entendi que tinha de ser um bom gestor de recursos humanos, qualificação técnica, conhecimento prático. Se tivesse sido jogador, era uma mais-valia. Ambicioso, organizado, com grande paixão pelo seu trabalho e que tivesse uma comunicação moderna, e pudesse ser um exemplo para seus jovens jogadores e a comunicação externa», afirmou.
Filipe Coelho, atual treinador sub-21 do Chelsea e antigo técnico das camadas jovens dos encarnados, também conversou com a mesma fonte e deu seguimento a esse tópico, falando na importância de criar uma ligação emocional.
«Acho que isso é importante, caso contrário seria como uma fábrica. Eles têm uma rotina diária, mas é importante que eles sintam essa rotina alicerçada no apoio emocional. Lidamos muitas vezes com jogadores que desde os 13 anos são deslocados das suas famílias, depois de serem recrutados por vários pontos ao longo do País. Muitas vezes, somos a família e o suporte que os jogadores têm. Esse apoio ao longo de toda a formação, mesmo quando não os treinamos mais, também faz do Benfica um clube e uma academia especial», disse, abordando o salto dos treinadores para a equipa principal, algo que acabou por não acontecer consigo.
«O treinador tem de ligar todos os pontos em redor de todos os departamentos, com o jogador no centro para se desenvolver e chegar o mais preparado possível à equipa A, e ir para outros voos mundiais. Sabemos que as equipas profissionais estão dotadas de departamentos de análise, médicos, de todo âmbito. O salto [entre base e profissional] passa a ser natural e mais fácil de dar para os treinadores que vivenciaram a formação do Benfica», explicou.
«Esta capacidade de lidar com muita gente permite uma bagagem muito grande ao nível de conhecimento do que é lidar com pessoas, do ponto de vista técnico, mas também do ponto de vista humano, que é fundamental para atingir um patamar de alto rendimento», finalizou.