Sporting-Vizela: a crónica

Liga Sporting-Vizela: a crónica

NACIONAL13.08.202302:10

Uma insustentável tentação pelo abismo
 

Sporting voltou a ser bipolar na estreia no Campeonato. Do fácil foi capaz de fazer difícil e venceu em final de ‘roer as unhas’. Vizela parecia acabado, e assinou ótima segunda parte 


O Sporting correspondeu com um grande susto à onda positiva que rodeou a equipa, e levou a que, pela primeira vez, esgotassem as Gameboxes em Alvalade. Os defeitos e virtudes vistos na época passada, quando os leões tanto eliminaram o Arsenal como foram eliminados pelo Varzim, estiveram a acompanhar a equipa de Rúben Amorim, que levou os adeptos primeiro à euforia, depois à depressão, com um final Shakespeariano: «Tudo está bem quando acaba bem.» Mas a verdade é que, embora tenha acabado bem para o Sporting, nem tudo esteve bem, muito longe disso.


Entrada de leão
Perante um Vizela que só foi realmente defensivo depois de ter chegado ao 2-2, os leões começaram por entregar o meio-campo a Morita e Daniel Bragança, deixando Gyokeres entre Trincão e Pedro Gonçalves, o que, por um lado garantiu equilíbrio à equipa, e por outro permitiu que fossem abertos espaços na defesa minhota. Com o avançado sueco a justificar a confiança nele depositada (traduzida na obstinação que esteve na base da sua contratação), o Sporting mostrou-se ao mesmo tempo gracioso, ágil e concretizador, aproveitando a capacidade do antigo avançado do Coventry para segurar a bola de costas para a baliza contrária, criando jogo para os companheiros e, ainda, não temer em lances de um-contra-um. E até foi com naturalidade que os leões chegaram ao 2-0, bis do sueco, à passagem do quarto de hora, ficando no ar a sensação de que estaríamos na antecâmara de uma goleada. O Vizela, em desvantagem, ensaiou alguma pressão alta, mas a única coisa que conseguiu foi  apanhar dois calafrios e ficar muito perto de ver a desvantagem a aumentar (Pedro Gonçalves, 27 e Daniel Bragança, 43). Mas na segunda parte, tudo mudou...


Sporting partido a meio
Para a metade complementar, Amorim deu descanso a Daniel  Bragança, recuou Pedro Gonçalves e colocou Edwards sobre a direita. Aquilo que podia parecer uma boa ideia redundou em fiasco, porque teve o condão de, a pouco e pouco, ir partindo a equipa do Sporting. De repente, passou a ver-se uma equipa leonina com demasiadas dúvidas e um Vizela a crescer em confiança. Aos 63 minutos Diogo Nascimento fez brilhar António Adán, e esse foi o primeiro aviso formal dos vizelenses. Um minuto depois,  a troca de Matheus Reis por Afonso Moreira (demasiada teatralização!) nada acrescentou, enquanto que a entrada de Paulinho, a substituir Trincão, radicalmente egoísta, pouco ajudou Gyokeres, porque a equipa estava partida e eram raras as bolas  redondas que chegavam à frente de ataque. Estava o Sporting nesta crise existencial, quando uma saída de vai e fica de Adán permitiu a Essende encurtar a desvantagem vizelense (75). E, tal como tinha acontecido com os golos de rajada de Gyokeres, o Vizela, aos 77 minutos, empatou com uma boa finalização de Nuno Moreira, após uma jogada bem construída na direita. Alvalade gelou, o Sporting montanha-russa estava de volta, e os últimos minutos seriam jogados com os adeptos a roerem as unhas até aos cotovelos. Sem surpresa, o treinador do Vizela passou a uma defesa a cinco (sem que a sua equipa perdesse o sentido do contra-ataque) e o Sporting foi ao passado juntar Coates a Gyokeres e Paulinho, em busca da salvação no jogo aéreo, que chegaria a desoras, já na compensação da compensação (o árbitro prolongou oito minutos, o golo apareceu ao nono, e a compensação acabou por ter onze minutos), num aproveitamento de Paulinho, após mais um Hail Mary, na sequência de uma bola solta no coração da área.


Palhinha, Ugarte... Hjulmand
O Sporting ganhou o jogo, mas não ganhou para o susto, e mete-se pelos olhos dentro que um jogador equilibrador como Morten Hjulmand faz falta a esta equipa como pão para a boca. Por mais que Rúben Amorim vá tentando soluções alternativas, sem um jogador posicional ao lado de Morita, que imponha o físico e mate as as jogadas antes de estas se tornarem perigosas, à imagem de Ugarte ou Palhinha, o Sporting não só fica mais vulnerável, porque desprotege os centrais, como ainda deixa que o jogo se parta, sem disso tirar qualquer vantagem. É que, cada vez que o jogo se parte e as bolas começam a entrar nas costas do trio de centrais leoninos, fica destapada a falta de velocidade de Coates, que, já com 2-2, teve de sacrificar-se e ver um cartão amarelo (89) para evitar males maiores.
Que o susto valha aos leões como um alerta, porque se não se equilibrarem devidamente regressarão à bipolaridade que os penalizou em 2022/23...              

O árbitro - FÁBIO MELO (nota 6)
Vacilou um pouco a partir da hora de jogo, mas nunca comprometeu, nem se comprometeu, passando ao lado de qualquer responsabilidade na história do jogo. E quando assim é...
 

Melhor em campo A BOLA - Gyokeres (Sporting)