Será Gyokeres um meteorito?
Foto MIGUEL NUNES

Será Gyokeres um meteorito?

OPINIÃO20.05.202409:15

Gyokeres recebeu a Bola de Prata, mas há algo mais a dizer sobre o impacto dele na Liga

No domingo à noite, meio Portugal entusiasmou-se com a passagem de um meteoro, meteorito ou meteoróide no céu. Os cientistas ainda não sabem exatamente o que se passou nem de que tipo de asteróide se tratava (a Ciência leva tempo a produzir, ao contrário da opinião pública).

Primeiro tinha caído em Castro Daire; depois já foi no Oceano Atlântico, a noroeste de Portugal. Inclino-me mais para a segunda hipótese, dado que se vinha de sudeste e foi visto por cima de Braga era difícil ter caído antes, na Beira Alta. Mas a Ciência, sem a ditadura do tempo mediático, algo dirá sobre o tema, se é que este ainda vai interessar a alguém dentro de dias ou semanas.

Viktor Gyokeres chegou a Portugal e esse sim, impactou definitivamente a Liga de futebol. De tantos e tão bons avançados estrangeiros que atuaram no nosso País, só um igualou, no ano de estreia, a média de golos do sueco do Sporting que recebeu A Bola de Prata, o troféu individual mais antigo do futebol português, das mãos do nosso diretor e dos editores da secção que diariamente se dedica a levar a atualidade leonina aos leitores.

Jonas, brasileiro que representou o Benfica, chegou na temporada de 2014/2015 e marcou 31 golos em 35 jogos, o que perfaz uma média de 0,88 golos por desafio, igual à de Gyokeres. Sim: nem Jardel, nem Falcao, nem Cardozo, muito menos Jackson Martínez, Cubillas ou Yazalde chegaram perto em ano de estreia.

Se formos ao detalhe, há umas milésimas a conferir melhor média a Jonas. Mas (como sucede na Ciência, por exemplo) devem introduzir-se no tema alguns fatores de ponderação. O principal é este: Jonas chegou a um Benfica campeão em título; Gyokeres chegou, em 2023/2024, a um Sporting que tinha ficado em quarto lugar na época anterior. Em análise livre, é legítimo considerar que o sueco teve um impacto ímpar no campeonato português.

Ficarão para os especialistas sobre o jogo as considerações sobre a forma como Gyokeres ocupa ou desocupa os espaços, cria ou não cria profundidade, joga ou não joga de costas para a baliza e de frente para ela.

Incontestável é que chegou, viu e venceu. Venceu com classe, bravura e golos. A equipa do Sporting organizou-se em função da presença dele e não teve pudor em fazê-lo, porque é o mais natural quando acontece a sorte de se ter um jogador tão raro.

A seguir virão as discussões sobre se teria o mesmo aproveitamento em ligas como a italiana, a espanhola ou a inglesa (de cujo segundo patamar, aliás, é proveniente). Só vendo, como diria São Tomé.

Do ponto de vista do futebol português, o melhor que podemos esperar é que Viktor não seja um meteorito a rasgar os nossos céus e a desaparecer sem se saber bem onde caiu. A Ciência nacional, porque precisa de tempo, deve analisá-lo pelo menos mais uma época.