Um Desporto interrompido
António Costa (Imago)

EDITORIAL Um Desporto interrompido

OPINIÃO08.11.202309:21

Depois da demissão de António Costa, o Desporto, tal como o país, fica em suspenso

E de repente um tsunami político assolou o país. Em poucas horas devastou o governo e levou o primeiro-ministro, António Costa, a um inevitável pedido de demissão. Em Belém, Marcelo Rebelo de Sousa nem sequer teve direito a saborear a sua vitória sobre a insustentabilidade do ministro João Galamba. Tem pela frente um calendário apertado e decisões difíceis, até porque não é seguro que eleições antecipadas garantam um novo Governo estável e com maioria que o apoie.

Para já, o país frágil, insatisfeito, de desenvolvimento incipente, tentando salvar-se na preocupante visão de um mundo em guerra e de economia inquietante, ficará em suspenso. E, com ele, em suspenso também irá ficar o Desporto, com a agravante de se estar a entrar num ano olímpico.

Salvaguardadas estarão as verbas já anteriormente acordadas e contratualizadas para a preparação dos atletas qualificados para os Jogos de Paris. Mas o Desporto não foge às regras gerais de uma dinâmica económica e política que, a partir de agora, se interrompe, à espera de uma solução final.

A brutal fratura ocorrida a meio da legislatura do Governo é a pior notícia para um país já de si sempre hesitante e inseguro, frágil e angustiado. A meio, e sem final feliz, ficam as novelas da Educação, do Serviço Nacional de Saúde, da decisão sobre o aeroporto (mais de cinquenta anos de estudos e de perturbação de lóbis) e, muito importante, a execução dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência. Também se fica, para já, pelos projetos, a alteração da Lei de Bases do Sistema Desportivo, que estava na mente do secretário de Estado, João Paulo Correia, e, assim, fica na gaveta a pretensão de independência de alguns setores da arbitragem do futebol português.

Corremos o risco de voltarmos ao país inerte dos duodécimos, do país que deixa de decidir pouco para passar a decidir nada. Do país que, a acontecer uma previsível eleição antecipada, irá mergulhar meses a fio num clima folclórico de propaganda política.

Os danos, em todos os setores, incluindo o do Desporto, serão irreparáveis. Ao contrário do que alguns costumam dizer, adiar não é resolver. Sobretudo para um país que tem urgência de soluções. E, no entanto, a verdade é que os acontecimentos tornaram este desfecho inevitável.