Tempo de reflexão e autocrítica

OPINIÃO05.09.201801:41

O Sporting conhece o nome do seu 43.º presidente no sábado. A fazer fé nas sondagens, João Benedito (39 anos) e Frederico Varandas (38 anos) lideram destacados as intenções de voto, muito à frente de José Maria Ricciardi, e encontram-se em situação de empate técnico. Tudo aponta para que um deles ganhe o apetecido cadeirão (ou não tivessem concorrido sete candidatos - sete!) o que quer dizer, por um lado, que o clube não se encontra numa situação tão catastrófica como alguns (não inocentemente) teimam em apregoar; por outro, que os sportinguistas vão eleger um presidente muito novo - veja-se a título de exemplo que Pinto da Costa tem 80 anos e Luís Filipe Vieira, 69.  A campanha eleitoral decorreu com civismo apreciável e houve momentos de discussão e troca de ideias francamente animadores, num sinal de que o Sporting se encontra a caminho da normalidade depois de seis meses a viver em estapafúrdia convulsão. É claro que a situação financeira (leia-se: cumprimento de obrigações inadiáveis) será a primeira preocupação do presidente eleito, que terá de negociar o que tem de ser negociado e garantir o que tem de ser garantido, previsivelmente com a bênção de quem tem garantido a viabilidade financeira do Sporting. Para quem torce o nariz à tenra idade (sugerindo inexperiência ou amadorismo) do futuro presidente em assuntos tão complexos, lembro que Bruno de Carvalho tinha pouco mais de 40 anos quando negociou (parece que bem) a sobrevivência com a banca e, mais  adiante, arrancou da NOS um contrato fabuloso que deixou os próprios rivais desconcertados. Haverá outros assuntos prementes em relação aos quais o próximo presidente terá obrigatoriamente de se pronunciar. E atuar. O ataque à Academia é uma ferida em aberto - ninguém admitiria que os responsáveis materiais e morais ficassem impunes, assim como há rescisões (Rui Patrício, Gelson, Podence …) para resolver, nem que seja pela via judicial; e um caso Cashball por explicar, assunto melindroso porque pode vir manchar a imagem do clube e arrastar alguns sportinguistas pela lama. Mas o Sporting não viverá em paz enquanto não se fizer luz sobre estes assuntos. As instituições sérias não assobiam para o ar e fingem que não se passa nada quando se encontram sob suspeita.  


Depois, o futebol profissional, sempre a mola impulsionadora de qualquer grande clube. O que quer fazer o Sporting? Qual é o plano? Qual é a ideia? Qual é o caminho? Sobre este assunto, ouvimos alguns candidatos reconhecerem o que é óbvio e entra pelos olhos adentro (a recusa da cegueira é sempre bom sinal): o clube tem de parar, refletir, fazer autocrítica. Reconhecer que os erros cometidos nos últimos anos - nas últimas décadas ! - foram mais responsáveis pelos fracassos (quatro campeonatos em 44 anos!) do que as putativas malfeitorias dos árbitros e dos sistemas criados pelos rivais - primeiro o FC Porto, agora o Benfica.


O quadro em anexo mostra de forma simplista a posição do futebol do Sporting no contexto dos três grandes desde a revolução dos Cravos (abril de 1974). Basicamente, o Sporting ganhou metade dos títulos do Benfica (21-41) e um terço dos títulos do FC Porto (21-64). Uma diferença colossal que encontra reflexo óbvio no campeonato: 4 para os leões, 16 para as águias (o quádruplo!), 23 para os dragões (quase o sêxtuplo!). O Sporting registou ainda 58 mudanças de treinador (incluindo 12 soluções interinas), contra 37 do Benfica (6 interinos) e 34 do FC Porto (4 interinos). E teve 12 presidentes (sábado elege um 13.º) contra 9 do Benfica (embora Vieira já esteja no poder há tanto tempo, 15 anos, como os 5 presidentes que o antecederam…) e apenas 2 do FC Porto (Américo de Sá e Pinto da Costa, no cargo desde 1982). Há um padrão de inconstância e navegação à vista que tem penalizado fortemente o Sporting que, paradoxo dos paradoxos!, é o clube que tem produzido os jogadores que mais se distinguem nos grandes clubes internacionais, os únicos que ganham Bolas de Ouro e que estiveram, massivamente, na base do único título ganho pela Seleção Nacional. O clube que produziu Futre, Figo, Simão, Quaresma, Ronaldo, Nani, Moutinho, Patrício, Adrien, João Mário e William, entre outros campeões europeus, é o mesmo clube que ganha um campeonato por década. O primeiro presidente do Sporting que resolver este absurdo tem meio caminho andado para a felicidade.