Tão bonita a Taça

OPINIÃO18.11.202003:00

FOI-SE a Seleção, volta a Taça de Portugal mais o seu carisma único de ser a competição mais democrática do país: treze vencedores em oitenta edições contra cinco campeões nacionais (e dois apenas uma vez: Belenenses e Boavista) em 86 campeonatos. A Taça é a festa do povo, mesmo que agora não haja povo para fazer a festa nos estádios e nos campos desse país; e a expressão tomba-gigante é o santo e senha que continua a fazer sonhar centenas e centenas de futebolistas e de treinadores de equipas secundárias, com pouco ou nenhum acesso à correnteza noticiosa nacional. Eliminar um clube grande é o sonho da arraia-miúda, passaporte para a fama (ainda que passageira) e memória garantida para o resto da vida. Os três grandes começam contra equipas do terceiro escalão (Campeonato de Portugal) e nenhuma delas está livre de aflições. Lembre-se o que aconteceu ao Sporting, fez ontem um ano (17 outubro de 2019): eliminado pelo Alverca (CP) logo ao primeiro round da última Taça, numa derrota (0-2) que o treinador Silas (era o seu terceiro jogo) não conseguiu contestar, tão limpa e cristalina foi a superioridade da equipa ribatejana liderada por Vasco Matos. O Sporting regressa a essas paragens, mas para medir forças com o Sacavenense (na próxima segunda-feira), mas há um mundo a separar esse leão frágil e desconjuntado de Silas com o felino adestrado por Rúben Amorim: este ruge com força e é líder invicto do campeonato. Como as coisas mudam num ano!


FC Porto, Benfica e Braga jogam os três no sábado, em virtude dos compromissos europeus. O campeão vem à cintura industrial de Lisboa medir forças com o Fabril Barreiro, numa espécie de reedição dos duelos com a saudosa CUF dos anos 70. Segue-se viagem para o Velódromo de Marselha onde Sérgio, ganhando, praticamente garante a qualificação para os oitavos da Champions em detrimento de Pedro Martins e Villas-Boas. A última vez que o FCP caiu logo na 1.ª eliminatória da Taça aconteceu em 2014/2015, com Julen Lopetegui ao leme: derrota inapelável no Dragão (1-3) com o Sporting de Marco Silva. Para encontrar a última eliminação perante adversário de escalão inferior é preciso recuar a 7 janeiro 2007 e à sensacional vitória do Atlético (3.ª divisão) no Dragão, obra de um senhor chamado David (marcou aos 59’) a que nem Quaresma conseguiu responder (desperdiçou penálti ao poste no último minuto!, para desespero de Jesualdo Ferreira). O Benfica vai a Paredes com Jesus obrigado a travar a permeabilidade defensiva evidenciada nos três últimos jogos (nove golos sofridos), sabendo que logo a seguir tem jogo quase decisivo no Ibrox Park (em termos de 1.º lugar no grupo) com o musculado Rangers de Steven Gerrard. Curiosidade de ver se o possível esquema com três centrais - à la Amorim - é para ser testado em Paredes ou se se trata apenas de especulação dos media. Mas é claro que o Benfica tem de trancar a baliza e retomar já o curso vitorioso interrompido pelo Boavista no Bessa.