Opinião de Diogo Luís Sporting: A sinceridade de Varandas
'Mercado de valores' é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís
Frederico Varandas tem muita dificuldade em expressar as suas ideias publicamente. Perde-se frequentemente no seu raciocínio e não tem objetividade. Apesar de todos estes entraves deixou algumas ideias que vale a pena analisar.
Mercado de inverno
Tentou explicar de uma forma atabalhoada o motivo pelo qual o Sporting não se reforçou mais no mercado de transferências que encerrou no mês de janeiro. Aqui destaco a sinceridade. Referiu claramente que se pudesse tinha contratado mais jogadores. A estratégia no início da época foi clara: não vender nenhum jogador nuclear e reforçar o plantel com qualidade adicional. Assim, no mercado de Verão investiu aproximadamente €50 M em Maxi, Debast, Harder e Kovacevic. Chegados ao mercado de inverno e percebendo que o plantel precisava de ajustes, qual seria a solução? Aumentar o risco e voltar a investir, sendo que para isso teria de antecipar ou cativar receitas?
O que Frederico Varandas não conseguiu explicar é que o risco financeiro que a SAD verde e branca podia gerir foi tomado no início da época. Redobrar os esforços e aumentar o investimento em janeiro até podia ajudar o Sporting desportivamente. Contudo, poderia colocar em causa a estabilidade financeira. O que Frederico Varandas não conseguiu passar, neste ponto, é que o Sporting teve racionalidade nas suas decisões, quando seria muito mais fácil carregar no botão e hipotecar receitas que são fundamentais para o dia a dia.
Dualidade de critérios
Na questão da arbitragem tocou em alguns pontos que fazem sentido. É impressionante a dualidade de critérios que existe na arbitragem no futebol português. O presidente leonino deu alguns exemplos que fazem todo o sentido. O que não faz sentido é apenas ter escolhido lances que o prejudicaram. Será que o Sporting nunca foi beneficiado pela arbitragem? Será que o Sporting nunca foi beneficiado pela dualidade de critérios? Um dos problemas da arbitragem é que estamos sujeitos às interpretações de quem apita. O pior é quando quem apita tem interpretações diferentes em lances similares! De uma forma geral, os três grandes são sempre os mais beneficiados e são os que mais protestam.
Concordo quando devemos definir os critérios de decisão, para evitar que as interpretações variem em função do contexto ou da pressão do momento do jogo. Concordo também quando Frederico Varandas faz uma crítica indireta aos adversários mencionando que nunca desceu a um túnel para tirar satisfações dos árbitros. Se o presidente do Sporting não se revê neste tipo de comportamentos, por que motivo não sugere que se coloque nas regras uma punição exemplar a todos os presidentes que desçam ao túnel para fazer pressão sobre árbitros?
Pedro Proença
Foi interessante a forma como o presidente leonino justificou o seu apoio à candidatura de Pedro Proença à FPF. Ora, segundo as palavras de Frederico Varandas, o Sporting apoiou o recém-eleito presidente da FPF porque este apresentou um plano diferente para a arbitragem! Ou Frederico Varandas não se conseguiu explicar ou demonstrou uma enorme falta de visão.
O presidente da FPF é quem tem a missão de orientar e definir os caminhos que devemos seguir. O presidente da FPF deve ter uma visão diferenciada do futebol em Portugal. Por um lado, deve criar condições para que as nossas seleções continuem a ter êxitos desportivos, o que enche de orgulho e entusiasmo todos os portugueses. Por outro lado, deve ter a noção da importância de todos aqueles que contribuem para que inúmeros clubes possam sobreviver e que são fundamentais para que a modalidade seja praticada em todo o país, o que permite o desenvolvimento de novos talentos e da prática do desporto.
Deve também ter a visão e sensibilidade para fazer a diferença na sociedade através do desporto. Realçar apenas a questão da arbitragem como o ponto que o fez apoiar Pedro Proença é no mínimo caricato e demonstra a qualidade da classe dirigente em Portugal!
Lesões
Este era um dos temas mais aguardados da entrevista. Sendo Frederico Varandas um especialista nesta matéria esperava que tivesse a capacidade de ser claro neste tema. Falou muito sobre lesões traumáticas e nessas não há muito a dizer. Não abordou de frente e de uma forma direta o motivo pelo qual os jogadores se lesionam, voltam e se lesionam novamente. Deu a entender que era uma realidade que tinha de acontecer e que «lesões provocam mais lesões». Não me parece que esta seja uma justificação plausível.
Ficou por explicar o motivo pelo qual o Sporting não dá informações sobre as lesões dos jogadores, com exceção das de longa duração. Gostava de perceber o que ganha o Sporting ao não o fazer. Acabou por nos dar uma informação que não tinha sido partilhada ainda: Pote tem uma lesão muscular grave. Ao fim de três meses, adeptos, jornalistas e investidores sabem qual a lesão de Pedro Gonçalves! Não deixa de ser interessante que Rui Borges tenha dito que Pote tem uma lesão normal, mas que precisava de ser bem cuidada. Afinal, até o treinador não tinha conhecimento da gravidade da lesão do jogador leonino!
Por fim, ainda no capítulo das lesões e da densidade de jogos referiu que para o ano pode abdicar da Taça da Liga. Este é um ponto surpreendente, até porque é uma das bandeiras do trabalho de Pedro Proença que acabou de ser eleito presidente da FPF com o apoio do Sporting! Ou seja, apoiou um candidato por causa das propostas para a arbitragem e ainda desvalorizou uma competição que foi constantemente destacada como a grande bandeira desportiva do recém-eleito presidente da FPF!
Rui Borges
Neste tema valorizou as caraterísticas de Rui Borges, mas referiu que o plantel não estava preparado para jogar noutro sistema tático e por isso o treinador tem tido dificuldades. Esta justificação faz-me levantar algumas questões: Frederico Varandas não sabia qual o sistema tático preferencial de Rui Borges? Se já sabia que a saída de Ruben Amorim iria ser complicada e que o plantel estava feito para jogar num sistema de três centrais, por que motivo não procurou um treinador com essas caraterísticas? No Sporting não estava tudo preparado e pensado, como Frederico Varandas referiu numa entrevista à RTP? Não existia uma estrutura que antecipava e fazia tudo rolar?
Voltou a insistir que João Pereira não pôde ser João Pereira. Por que motivo não assume que o jovem treinador ainda não estava preparado?
A valorizar: Pavlidis
Reencontrou a veia goleadora, apesar de ser um avançado que dá muito mais à equipa do que os golos que marca.
A desvalorizar: Futebol português
A desunião é bem visível no topo do futebol português. Falta visão, inteligência e perceção da realidade ao futebol profissional em Portugal.