Formato atual, com duas mãos, vale mais para as televisões? Talvez, mas pouco, a não ser que não saibam fazer contas. E quanto vale a emoção de tudo se decidir num jogo que começa 0-0?
Eu percebo. Quando o sorteio arranja um dérbi ou um clássico para as meias-finais da Taça de Portugal, ter dois jogos em vez de um é um maná para as televisões. Sobretudo para quem transmite os jogos em canal aberto, rara oportunidade de ver os grandes, porque agora tanto Liga como UEFA Champions League estão limitados a canais pagos. E essa ilusão, admito, fará subir o preço de venda dos direitos televisivos. E atendendo à importância que esses direitos têm para alimentar a pirâmide do futebol português — para os clubes mais pequenos, os prémios da Taça são significativos —, uma diferença de alguns milhares de euros ganha peso.
Mas compensa? Afinal, quão frequentes são os jogos entre grandes nas meias-finais? Esta foi a 17.ª vez seguida em que as meias-finais da Taça foram jogadas a duas mãos (a inovação é de 2008/2009); nessas 17 vezes, só em seis houve dérbi ou clássico. Por isso, aquela ideia de que as meias-finais valem jogo grande a dobrar, na verdade, limita-se a um terço das temporadas — o que me parece pouco para justificar uma diferença de preço tão grande assim na venda dos direitos...
Até porque, com as meias-finais a duas mãos (que saudades das meias manetas, só com uma...), fico com a ideia que os próprios jogos perdem o interesse, e são mais difíceis de vender, de gerar entusiasmo nos adeptos. E não, não me limito apenas ao que aconteceu na eliminatória entre Benfica e Tirsense — a equipa de Santo Tirso foi a primeira do quarto escalão, na história da Taça, a chegar às meias-finais; mesmo com adversários teoricamente inferiores, é improvável assistirmos a tamanho desequilíbrio.
Tirsense não incomodou o Benfica, mas chegou a divertir-se. António Silva (45+3) marcou pouco antes do intervalo, Bajrami (75') e Belotti (78') aumentaram a vantagem quando o jogo caminhava para o final e Leandro Barreiro (90+1) fechou o resultado na compensação do segundo tempo
Vejamos o caso do Sporting-Rio Ave: na primeira mão, três semanas antes da segunda, em Alvalade, muitos esperavam que o leão vencesse. E venceu. Mas mesmo que o não fizesse, teria sempre a segunda mão para corrigir eventual escorregadela. Depois, na segunda, com dois golos de vantagem, poucos acreditariam que os vila-condenses pudessem dar a volta. Como não deram. Ou seja, a primeira mão é desinteressante porque há a segunda; a segunda é desinteressante porque houve a primeira.
A vantagem leonina, que ao minuto zero, já era confortável, tornou-se um facto consumado quando Gonçalo Inácio a reforçou, aos 11 minutos. A partir daí, sem o sal da dúvida, treinadores e jogadores pensaram no próximo fim de semana.
Tenho para mim que um jogo único (caramba, nem que seja como na Taça da Liga, com final four) seria bem mais empolgante.
Com duas mãos garante-se mais facilmente a chegada dos grandes à final? Admito que sim. Mas nestes 17 anos com meias-finais a duas mãos, sabe quantas tiveram dérbis ou clássicos no Jamor? Quatro. Pois...
Sugestão de vídeo
Totalmente de acordo. Nem tem lógica, formato diferente em apenas uma etapa.