Ronaldo em Portugal

OPINIÃO17.02.202106:10

Será a última vez no Dragão? Que pena não haver público… FC Porto na melhor versão Champions pode fazer mal à soporífera Juventus

RONALDO tem 36 anos e não jogará para sempre - infelizmente. Por isso mesmo, os estádios por onde ele vai passando podem estar a recebê-lo pela última vez - sobretudo aqueles onde não é suposto ele jogar regularmente. Quem sabe se hoje não será a última aparição do melhor futebolista português de todos os tempos no Estádio do Dragão? Por isso mesmo, que pena não haver público! Se houvesse, certamente os adeptos do FCP não iriam lá para aplaudir Ronaldo, mas creio que nenhum deles ficaria indiferente à possibilidade de esta poder ser a última vez  que o viam ao vivo… - haverá adepto neste país, independentemente da preferência clubística, que não esteja grato a Ronaldo por tudo o que ele fez pelo futebol português?
Hoje é a terceira vez que CR7 joga no Dragão para a Champions (a sétima em estádios portugueses, jogou mais duas vezes na Luz e duas em Alvalade) e o balanço é-lhe claramente favorável: ganhou os últimos quatro jogos depois de perder os dois primeiros. Com a camisola do United marcou um golo lindo em Alvalade (de cabeça) que resolveria o jogo e logo fez um gesto a pedir desculpa. Foi ovacionado pelos adeptos do Sporting… que foram depois elogiados por Carlos Queiroz, que era adjunto de Alex Ferguson; também marcou um golo lindíssimo no Dragão (em abril de 2009) com um míssil fenomenal de 30 metros - prémio Puskas desse ano - que decidiu a eliminatória para os ingleses. Hoje Ronaldo vai reencontrar um dos homens que, há quase 19 anos (14 de agosto 2002), lhe apadrinhou a (dupla) estreia no futebol profissional e na Champions: foi num Sporting-Inter em Alvalade (0-0) e na equipa italiana jogava um extremo português chamado Sérgio Conceição. E defronta pela primeira vez o colega de Seleção Pepe, que com ele levantou três Champions ao serviço do Real Madrid.  Sim, as voltas que a vida dá.
Como há quase duas décadas, Cristiano e Sérgio encontram-se em trincheiras opostas numa batalha que a generalidade da imprensa europeia segue com natural interesse. Em campo estão dois bicampeões europeus que acumulam um total de 17 títulos internacionais (sete para o FCP, 10 para a Juve). Claro que, no papel, como gosta de dizer o Corriere dello Sport, quem tem Ronaldo estará sempre mais perto de ganhar, ainda para mais sendo esta a competição onde ele é rei indiscutido - cinco títulos em seis finais, onze meias-finais e 135 golos em 178 jogos desde 2002 (!). É um facto que o FC Porto nunca venceu a Juventus (um empate e quatro derrotas em cinco jogos), mas quem vê esta equipa de Pirlo em ação - aquele futebol chato, previsível, falho de centelha e criatividade, por vezes verdadeiro soporífero... - também é capaz de imaginar que o FC Porto, na sua melhor versão europeia, tem meios para fazer mal ao campeão italiano. Bem sei que o FCP não está bem e tem acumulado tropeções. Mas isto é a Champions e, como todos sabemos, só há uma equipa portuguesa com andamento para ela: justamente o FC Porto, que tantas vezes suplantou adversários potencialmente mais fortes com o formidável espírito das noites europeias ininterruptamente cultivado desde os longínquos anos oitenta do século passado.
Audácia. Desrespeito. Velocidade, pressão, fibra, golpe de asa e eficácia. Eis o que poderá levar o FC Porto a suplantar uma Juventus cujas melhores exibições, atenção!, aconteceram contra adversários de peso como o Inter e o Barcelona. Carregada de bons jogadores, experiência e métier (foi finalista da Champions em 2015 e 2017) a equipa italiana, acredito, jogará entrincheirada no Dragão à espera de uma faísca de Ronaldo. Tem sido esse o santo-e-senha de Andrea Pirlo. Alguém que o vire do avesso…
 

 

Uma campanha alegre

NINGUÉM sabe como vai acabar (faltam muitas jornadas, 15), mas até aqui tem sido fantástica a campanha da jovem, alegre e portuguesa equipa do Sporting no campeonato. Jovem, sim: a média etária contra o Paços foi de 24,8 anos; com sete portugueses no onze inicial, cinco deles formados na Academia (entrariam mais dois) com idades entre os 18 e 22 anos. A revolução silenciosa que por ali vai... O leão ocupa o lugar que ocupa, com a vantagem que tem, por uma razão muito simples: tem sido cristalinamente superior aos outros em tudo o que realmente importa: ideia de jogo, coerência, consistência defensiva, combatividade, eficácia, comunicação, gestão de expectativas. Ponto. Tudo o resto soa a desculpas de mau perdedor. Mas repito: faltam 15 jornadas. Muitas.
 

Arsenal mais encorpado 

Amá notícia para Jorge Jesus é que o Arsenal, apesar do modesto 10.º lugar na Premier League, é um adversário claramente mais encorpado do que aqueles (considerados «difíceis») que o Benfica não conseguiu vencer na presente temporada: FC Porto (0-2, 1-1), Sporting (0-1), SC Braga (2-3 e 1-2), V. Guimarães (1-1 e 0-0) e Rangers (3-3 e 2-2). A boa noticia é que o Benfica não perdeu qualquer jogo na Liga Europa, precisamente a competição europeia onde Jorge Jesus tem dado cartas: chegou aos oitavos de final em 2008 com o SC Braga; aos quartos de final em 2009 (Benfica) e 2018 (Sporting); à meia-final em 2011 e à final em 2013 e 2014 (Benfica). Não ajuda o jogo ser em Roma - devia ser na Luz - mas espera-se que a larga experiência de JJ (130 jogos na Europa, nos treinadores portugueses só Mourinho tem mais: 192) ajude o Benfica a não comprometer uma eliminatória onde o Arsenal faz figura de favorito - tem mais e melhores jogadores, ponto. O último arremedo de Benfica com pinta europeia aconteceu no primeiro consulado de Jesus, entre 2009 e 2014. Nesses anos, o Benfica conseguiu exibições e vitórias esplêndidas sobre Marselha, Everton, Tottenham e Juventus, entre outros. Desde então, tem sido sempre a descer. É mais que tempo de recuperar velhos hábitos.  
Quanto ao SC Braga, a meu ver a segunda equipa que melhor joga em Portugal, mede forças com a poderosa Roma de Paolo Fonseca, o mais italianizado dos treinadores portugueses (cada vez mais parecido na pose com Carlo Ancelotti). O que a Roma tem feito na Serie A (ocupa o 3.º lugar à frente da Juventus e vem de um arraso de 3-0 à Udinese com nacos de grande futebol) é aviso que não deve cair em saco roto. Se Fonseca tivesse Ronaldo talvez fosse campeão de Itália. Um desafio a exigir a melhor versão dos bravos guerreiros do Minho, que sedimentaram nestes últimos anos indiscutível personalidade europeia.