Pedro Gonçalves deu o exemplo num jogo do mais democrático de todos os jogos
Pote não festejou contra a antiga equipa. FOTO GRAFISLAB

OPINIÃO Pedro Gonçalves deu o exemplo num jogo do mais democrático de todos os jogos

OPINIÃO17.04.202410:30

O golo dele pode ter decidido o campeonato, mas Pote soube ser um verdadeiro ‘gentleman’

Conhecemos a velha máxima que faz do râguebi «um jogo de brutos jogado por gentlemen» e do futebol «um jogo de gentlemen jogado por brutos».

Sempre me pareceu absolutamente acertada esta ideia, mesmo percebendo pouco de râguebi.

Pedro Gonçalves, 25 anos (não tão miúdo como posts de Instagram quiseram fazer crer dias atrás), soube ser um gentleman num jogo decisivo. Mais uma vez marcou à sua antiga equipa e mais uma vez teve a deferência de não festejar o golo como certamente festejaria contra outro adversário qualquer nesta altura do campeonato. Nesta terça-feira, 16 de abril.

Uma terça-feira há muito ansiada pelo Sporting e pelo Benfica, por razões diametralmente opostas. A perda pontos do líder do campeonato seria um balão de oxigénio fundamental para a única equipa que ainda pode almejar ultrapassar os leões. A vitória representaria (representa) para o líder do campeonato a certeza de que só uma catástrofe o fará perder este título. Na realidade não é uma catástrofe — são precisas três, e isto pensando que o Benfica vence todos os desafios que tem pela frente.

Parece claro que se abriu, nesta terça-feira 16 de abril, uma autoestrada de via verde para o título nacional. Antecipando uma análise, com todos os riscos, é mais um título nacional justo, como são todos. Mais queixa menos queixa, mais bola no poste menos bola no poste, é mesmo raro o campeão que não o merece ser ao fim de 34 jogos. Caro leitor: já experimentou fazer este exercício, época a época, nos últimos 40 anos? É mais interessante do que elencar erros de arbitragem quando nos convém e ignorá-los quando não nos convém. Ora tente...

Seja como for, o futebol é o único desporto coletivo onde mais frequentemente os menos fortes conseguem bater os mais fortes, pelo que aqui, realmente, é preciso esperar pela matemática.

Esta magia do futebol radica em premissas simples: 17 regras (das quais só uma é relativamente complicada, a do fora de jogo); dois postes que podem ser dois chinelos na praia, dois paus no mato ou dois calhaus no meio da rua, uma sarjeta (esta menos ecológica), o portão de uma garagem. Uma bola (ou uma pedra — quantas vezes e quem nunca?), malta para tentar marcar e malta para tentar não sofrer.

Um pontapé mais bem dado na pedra pode resultar num golo, por mais fortuito que seja, e dar uma vitória. E isso pode acontecer três vezes a uns e nenhuma a outros. Improvável? Sim. Mas é por isso que a Liga ainda está em aberto. Faltam cinco jogos, há 15 pontos em disputa, a vantagem é de sete e é muito relevante. Mas São Tomé vai querer ver para crer. E o futebol vai continuar a ser o mais democrático dos jogos, num sistema que é o pior de todos os sistemas com exceção de todos os outros.

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