Luís Filipe Vieira, antigo presidente do Benfica — Foto: Rui Raimundo
Luís Filipe Vieira, antigo presidente do Benfica — Foto: Rui Raimundo

O regresso silencioso de quem nunca se afastou

'Tribuna livre' é um espaço de opinião em A BOLA aberto ao exterior, este da responsabilidade de João Rodrigues dos Santos, Professor de Economia do Desporto e Coordenador da área de Economia e Gestão da Universidade Europeia

Sérgio Conceição não vai para o Benfica. Essa parte já está confirmada. Mas o simples facto de o seu nome ter estado em cima da mesa, apontado por Luís Filipe Vieira, levanta questões que ainda não foram esclarecidas. E o mais relevante pode já não ser a eventual ligação entre treinador e candidato, mas sim tudo o que envolveu essa hipótese.

Vieira surgiu recentemente na festa da subida do Alverca à Primeira Liga. Não era apenas um espectador. Fez declarações, deu entrevistas, mostrou entusiasmo. O clube subiu dois escalões consecutivos. A SAD foi vendida, mas manteve-se uma ligação. Vieira, aparentemente, nunca se desligou emocionalmente do projeto, e talvez nem estruturalmente.

O Alverca, clube com ambições crescentes, entra agora num patamar novo. Estar na Primeira Liga muda tudo. Aumenta receitas, visibilidade, influência. A presença, muito mediática, de Luís Filipe Vieira no momento decisivo da subida ao primeiro escalão levanta algumas perguntas simples: qual é hoje o verdadeiro papel do ex-presidente do Benfica no Alverca? É só um adepto? Um acionista minoritário? Ou alguém com capacidade de orientação nos bastidores?

Há quem veja neste regresso ao protagonismo uma preparação para um novo ciclo. Vieira admite que pode candidatar-se à presidência do Benfica. Diz que não decidiu... Mas também afirma que não se revê no que foi feito nos últimos quatro anos. As críticas são dirigidas à gestão financeira e à instabilidade interna. Ao mesmo tempo, falou de Sérgio Conceição, elogiou o seu perfil e deixou em aberto um eventual convite, se estivesse livre. Já se sabe que o treinador não vai para o Benfica, mas o nome foi lançado. Porquê?

Num contexto em que o Benfica está dividido e o FC Porto mudou de liderança, a simples menção a Conceição gerou reação. Não por causa da escolha em si, que agora já nem se coloca, mas pelo gesto simbólico e pela ligação forte do ex-treinador do FC Porto a Pinto da Costa. Vieira, que foi sócio do FC Porto, considera normal convidar um símbolo carismático do dragão para liderar o rival. Para alguns, é uma jogada arrojada. Para outros, uma provocação.

Mas talvez a pergunta mais pertinente não seja sobre Sérgio Conceição. Talvez devamos perguntar por que razão Vieira continua a exercer tanta influência em espaços onde, formalmente, já não tem cargos. O Alverca é um exemplo. O Benfica pode vir a ser outro. A sua posição como sócio do FC Porto nunca foi explicada em profundidade, mas continua a levantar dúvidas, sobretudo quando certas escolhas parecem desafiar as fronteiras tradicionais do futebol português.

Sérgio Conceição não vai para o Benfica. Mas isso pode ser o menos importante. O relevante é perceber quem, de facto, ainda move os fios do poder. O futebol português é conhecido pelos jogos que se fazem fora das quatro linhas. Este é apenas mais um. A verdade é que, ao que tudo indica, o futebol em Portugal vai continuar a contar com um Luís Filipe Vieira muito mais ativo do que muitos esperariam já nesta fase.