O maior espetáculo do mundo!

OPINIÃO27.07.201901:09

Para variar, não falemos de futebol. E, aqui, o leitor há de perguntar: «Então se não fala de futebol, este tipo vai falar de quê, num jornal desportivo?» Vou falar, se não levarem a mal, do maior espetáculo do mundo. Ora, o  maior espetáculo do mundo, quer seja desportivo, quer não seja, chama-se JOGOS OLÍMPICOS e estamos precisamente a um ano deles começarem, em Tóquio, 45 anos depois da capital do Japão ter organizado os primeiros Jogos Olímpicos, na Ásia.
Eu sei do que falo. Já estive em cinco Jogos e passei por outros dois, num total de quatro continentes. Nada tem comparação com uns Jogos Olímpicos. Nem mesmo um Campeonato do Mundo de futebol? Não, nem mesmo isso e, de mundiais de futebol, talvez valha a pena lembrar para efeitos de autoridade de opinião, que eu também já morei em oito!
Nada se compara aos Jogos. Onze mil atletas e outros tantos jornalistas - não deixa de ser curioso que haja um jornalista por cada atleta. Claro que isso só acontece porque há muitos países que estão de acordo comigo, também acham que os Jogos são o maior espetáculo do mundo, e enviam exércitos de jornalistas. As maiores televisões do mundo alugam hotéis inteiros. Os maiores jornais do mundo enviam jornalistas especializados em cada modalidade e ainda lhes juntam escritores, que escrevem crónicas diárias sobre o mundo fascinante dos Jogos e das cidades que os acolhem numa festa permanente, vinte e quatro horas sobre vinte e quatro horas.
Em Portugal, durante os Jogos, a vida corre, como sempre, com as discussões patéticas de pensadores pindéricos e de audiências que vivem a felicidade dos ignorantes.
Porém, logo depois de Badajoz, quando começam os Jogos Olímpicos, o mundo é outro.
Pode haver quem entenda, e está no seu legítimo direito, que nós temos vida própria e (in)cultura própria. Se queremos ser desportivamente ignorantes, pois temos o direito de o ser. É uma forma de ver o problema. No entanto, assinalo, cria-se uma situação perigosa, porque, neste, como em qualquer outro país, uma área tão social e politicamente importante como é a do desporto, não pode, ou não deve, viver sem o escrutínio do povo.
O assunto é bem mais sensível do que possam supor e por uma razão essencial: hoje em dia, os países modernos, os países mais evoluídos do mundo têm, no desporto, uma das sua mais globais formas de afirmação e que se manifesta, de uma maneira muito especial, nos resultados olímpicos.
Talvez seja uma surpresa para aqueles que ainda estão no tempo de que «o importante não é ganhar, mas participar», mas lamento informar que esse tempo acabou  há décadas, se é que, verdadeiramente, alguma vez começou...
Em Portugal, a ausência de uma cultura desportiva que leve ao verdadeiro interesse popular sobre o desporto e ao correspondente escrutínio sobre a evolução desportiva do país, pode ter consequências devastadoras para algumas  modalidades e para os seus atletas. Precisamente porque a ausência de escrutínio, de acompanhamento, a par da necessária autonomia das diversas federações, tanto se pode prestar à existência de um mundo de heróis desconhecidos, como de um universo escondido de capatazes de quintas. Acreditem que há de tudo isso no desporto português e nem os seus verdadeiros heróis são devidamente assinalados e considerados, nem os algozes do desporto nacional são, pelo menos, apontados.
Estamos, precisamente, a um ano de Tóquio-2020. O Comité Olímpico fez bem em assinalar a data, mesmo que o país não tivesse dado muito por isso.