Nunca mais é sábado!...
Se dúvidas houvesse, a entrevista que Bruno de Carvalho deu à SIC, na noite do último sábado, dissipou-as: continua a fazer gala da imagem de marca que engenhosamente construiu e o colocou na cadeira da presidência do Sporting. O mesmo estilo agressivo e provocador, o mesmo discurso irritantemente monocórdico, a mesma petulância e o mesmo desapego pelos destinatários da mensagem.
BdC julga-se a voz da verdade, agora e antes, que se expressa como quer, quando quer e da forma que quer. A maioria confiou nele, por isso o elegeu, reelegeu e confirmou essa reeleição em assembleia, realizada há pouco mais de três meses, por números avassaladores. Mas o homem transfigurou-se, de repente, juram. Permito-me discordar. Para mim, continua igualzinho ao que sempre foi.
Compreendo que muitos dos que nele acreditaram tenham mudado a opinião. Uns por se sentirem desiludidos com o rumo que as coisas tomaram e outros por se aperceberem que o perfil do candidato não era como parecia no início. Além dos chamados centristas, que raramente se comprometem, e dos cataventos, que reagem em função das suas conveniências, com o único propósito de ficarem alinhados com a posição dominante que, no caso, tudo leva a crer, reúne as tendências que proclamam a destituição do atual presidente.
Este intrincado processo chamou ao palco do mediatismo imensa panóplia de juristas, sem precedentes em situações comparáveis e, no entanto, foi quase impossível juntar dois que para as mesmas questões dessem respostas genericamente coincidentes.
Decretou-se a barafunda, ficando o adepto comum perdido, sem conseguir entender como e quando é que isto começou e muito menos como e quando acabará, muito por culpa da estratégia contorcionista do comendador da Mesa da Assembleia Geral, um passo em frente e outro à retaguarda para manter o equilíbrio, e da tática da terra queimada do presidente da Direção, cioso da sua razão e que, como a Nau Catrineta, terá para contar histórias de pasmar.
Não imagino nem o conteúdo nem a data de quando será redigido o derradeiro capítulo desta novela que já vai extensa. Sei, isso sim, que, de entre os notáveis do emblema do leão apenas dois me tocaram pela exemplar coerência: Eduardo Barroso, um fervoroso e sincero apoiante de Bruno de Carvalho desde o primeiro minuto, mas que, sem beliscar a sua posição, nem tão-pouco ferir os valores de confiança, amizade e lealdade, declarou, também em entrevista à SIC, imediatamente após o conflito ter espoletado, que ele deveria abdicar por não ter condições para o normal exercício do cargo. E mais não disse. Ou disse o estritamente necessário desde então, com distância.
Abrantes Mendes, que já foi candidato eleitoral, não sei quantas vezes, porque foram muitas, nomeadamente nos programas em que regularmente participa em A BOLA TV, alertou para vários riscos e declarou esperar que BdC estivesse bem informado sobre algumas medidas que tomou, sob risco de, na volta do correio, o clube poder ser fortemente penalizado em matéria de indemnizações. Pelos vistos, não estava… Hoje, mantém idêntico sentido crítico: atento, erudito e sério, sem entradas faltosas tão utilizadas nas contendas à flor da relva…
Nota-se um ambiente de prudência no seio da família do leão, tradutor de quem, embora siga o momento do clube com preocupação, recusa ver o nome associado a esta zanga de bairro entre dois padrinhos, Marta e Bruno, agora animada pela participação de figurantes que se disponibilizaram para fazerem a marcha marchar. Com rumo incerto e falta de transparência, porém, ao ser designado para liderar uma comissão de gestão alguém que, antes de mudar de trincheira, aplaudiu o projeto de Bruno de Carvalho, foi seu vice-presidente e fez-lhe um elogio de tal maneira arrebatador que a crueldade das redes sociais de imediato trouxe à colação, para a gente se rir…
Quem fez o convite, embora não tendo a obrigação de se recordar de tudo, errou logo no princípio, mas quem o aceitou… francamente. Entre dezenas de milhar de associados não se descortinou alguém com folha limpa em termos de equidistância dos blocos em confronto? Pois, nunca mais é sábado, sussurram os mais incomodados. Qual sábado? O próximo? Talvez, aguardemos…