Nosso general Rúben Amorim!
Seria para mim maior ainda a desonestidade intelectual se não dirigisse os parabéns, em primeiro lugar, a Frederico Varandas
CRITIQUEI Frederico Varandas, algumas vezes duramente, e por diversas razões, e não me arrependo disso pela simples razão de sempre o ter feito com a consciência de que o podia e devia fazer. Sempre o fiz com o sentido de criticar com objectivos construtivos e não com espírito de má língua. Por isso mesmo, na noite da vitória, ao vê-lo na tribuna com as lágrimas nos olhos, através das minhas próprias lágrimas, entendi, também em razão dos princípios de consciência moral que recebi dos meus Pais e das minhas Irmãs, que a primeira pessoa a quem devia publicamente felicitar seria o homem responsável pela escolha do general que comandou o exercito leonino à vitória - o presidente Frederico Varandas!
Critiquei-o quando despediu José Peseiro, embora lhe reconhecesse alguma legitimidade para escolher o seu treinador, pese embora o não ter anunciado durante a campanha eleitoral. Critiquei-o quando contratou Keizer, não porque se tratasse de um mau treinador, que aliás eu não conhecia, e acho que Varandas também não, mas porque não me parecia que um treinador sem currículo e estrangeiro fosse no momento o chefe ideal de uma equipa vinda de um trauma maior que mais de uma dezena de anos sem ganhar o campeonato. Tão pouco me iludi com a conquista da Taça da Liga e da Taça de Portugal, porque entendi que José Peseiro também as teria ganho, como teria tido melhores resultados no campeonato nacional na época 2018/2019! Esta minha convicção não pode ser comprovada, nem desmentida!
Despedido Keizer, critiquei o caminho errático que se seguiu a partir de uma derrota na Supertaça perante a qual Frederico Varandas se mostrou não preocupado! Finalmente, o mundo do futebol ficou surpreendido com a contratação de Rúben Amorim pelo Sporting com a consequência de ter de pagar a clausula de rescisão de dez milhões estabelecida entre Braga e Amorim, no caso de aquela rescisão ser unilateral!
Eu tinha assistido em Braga à final da Taça da Liga entre o Porto e o Sporting local e fiquei surpreendido com o futebol apresentado por esta equipa, orientada por Rúben Amorim. Mas daí à sua contratação para treinador do Sporting, só a julguei entendível na perspectiva de enfraquecer o outro candidato ao terceiro lugar e assim ter a possibilidade de aceder de forma direta à fase de grupos da Liga Europa. Foi por pouco que não se atingiu tal classificação, mas, entretanto, comecei a gostar muito do discurso de Rúben Amorim, procurei informar-me aqui e acolá, e cheguei à conclusão que alguém tinha vendido Rúben Amorim a Varandas, que apostou tudo nele, inclusive, como se costuma a dizer, colocou a cabeça no cepo por ele! Seria de uma enorme desonestidade intelectual não aceitar essa aposta de Frederico Varandas, quando eu próprio, há mais de dez anos e, concretamente, nas eleições de 2011, sempre entendi que um projecto para o futebol tem de assentar no treinador, e o resto parte dessa relação presidente e treinador! Foi por isso que anunciei como meu treinador o holandês Frank Rijkaard!
A vitória retumbante ocorrida neste campeonato deve-se fundamentalmente à equipa técnica e aos jogadores, aquela e estes, comandados superiormente por Rúben Amorim. Nisso estamos todos de acordo e não há como fugir dessa verdade. Mas seria para mim maior ainda a desonestidade intelectual se não dirigisse os parabéns, em primeiro lugar, a Frederico Varandas. Foi dele, fosse pelo que fosse, a escolha do general que comandou o exercito que, batalha a batalha, ganhou a guerra. Foi ele que escolheu aquele um que, para onde vai, vão todos!
Não posso também deixar de homenagear e manifestar a minha gratidão a um homem que terá sido decisivo nessa escolha - um dirigente que sempre me mereceu muita simpatia e até amizade, não só como jogador, mas também como homem: Hugo Viana
E se não foi fácil venceram batalha a batalha, mais difícil foi ganhar a guerra, sobretudo, a que passou pelos bastidores mas depressa veio à luz do dia sem qualquer espécie de vergonha.
O presidente do Sporting fez uma escolha perfeitamente legitima, indiferente ao nível teórico que lhe estava atribuído e que nada tem a ver com o carácter, a força, a inteligência que ele viu e lhe contaram do general escolhido. Obviamente não é o furriel que faz a escolha de acordo com princípios que nada têm a ver com aquelas características; evidentemente que não é o furriel que decide quem é o general, como não pode ser o presidente da ANTF que decide quem é o treinador do Sporting Clube de Portugal. Se o presidente tivesse escolhido os eleitos do furriel, isso sim, seria uma fraude que os sportinguistas não perdoariam!
O que está escrito no Regulamento de Competições não é mais que a transcrição do que está estabelecido no contrato colectivo - a meu ver nulo - celebrado entre a Liga e a ANTF. Mas, pior que a nulidade, para mim, é o ridículo a que se pode chegar com as conclusões que se querem tirar do artigo do Regulamento de Competições da Liga:
Artigo 82.º
Quadro técnico e habilitações de treinadores
1. Cada um dos clubes participantes nas competições profissionais deve proceder à inscrição e registo de um quadro técnico composto, no mínimo, por dois treinadores, os quais devem possuir as seguintes habilitações mínimas ou respetivas equivalências estabelecidas nos termos do Regulamento de Formação de treinadores de futebol da FPF:
a) clubes participantes na Liga NOS:
I. treinador principal: habilitação UEFA-Professional (Grau IV), sendo que para este efeito bastará que o treinador principal esteja a frequentar o curso para obtenção do grau exigido, devidamente comprovado por declaração emitida pela FPF e, no máximo, por seis meses;
II. treinador adjunto: habilitação UEFA-Basic (Grau II).
O Sporting constituiu o seu quadro técnico com vários treinadores, com grau IV e grau II e enquanto foi necessário nos termos regulamentares colocou como treinador principal na competição um treinador com o grau 4; internamente, na organização do seu quadro técnico, ninguém pode impedir o presidente de entender que o executor do seu projecto seja um treinador que ainda não tem o grau IV!
Admito e respeito que a ANTF tenha escolhido um ex-furriel, sem qualquer currículo como treinador, para seu presidente. Trata-se de uma escolha legítima, porque foram os associados que escolheram. Não passa pela cabeça de ninguém, independentemente do maior ou menor grau de inteligência, que alguém (a não ser a ANTF) se tivesse indignado por o povo português ter eleito o Major Ramalho Eanes Presidente da República Portuguesa e Comandante Supremo das Forças Armadas. Por causa disto, pura e simplesmente, graduou-o em general. O povo português é quem mais ordena.
Frederico Varandas escolheu Rúben Amorim para ser o treinador principal do Sporting, independentemente do seu grau de habilitação, para, no banco, ter essa posição.
Em linguagem militar, dirigir-me-ia a Rúben Amorim como o meu general. Mas o Rúben Amorim, sem vacilar perante o corporativismo e a mediocridade de certas instituições, sem arrogância, antes com humildade, carácter, muito trabalho, um discurso que todos entendem e carregado de mensagens fortes, com espirito aglutinador, assumiu a liderança do futebol profissional do Sporting e ganhou a Liga NOS, porque a sua linguagem foi sempre nós e eles (os jogadores, raramente o eu, como é comum!
Por isso termino, como comecei: nosso General Rúben Amorim!
ONDE ESTARIA ENTÃO?
DISSERAM-ME que oferecem um milhão de dólares a quem der a resposta certa! O cidadão português Luís Filipe Vieira, de quem as elites portuguesas (segundo ele) têm inveja, por ser um homem do povo, e a quem a banca confiou a presidência do Benfica (ainda segundo ele), afirmou à Comissão Parlamentar composta por representantes desse mesmo povo que não estaria ali se não fosse Presidente do Sport Lisboa e Benfica, clube composto igualmente por gente do povo!
Admito que ele possa ter razão, embora não acredite. Limito-me apenas a perguntar o seguinte: se não fosse presidente do Sport Lisboa e Benfica, onde estaria?