Mostra-te à (Liga) Europa, Lisboa!
Benfica em Istambul, Sporting anfitrião do Villarreal. Dois adversários acessíveis. Em frente Lisboa, mostra à (Liga) Europa o que vales!
Quem me lê e acompanha sabe o que penso, há muito, das competições europeias de clubes: são o verdadeiro certificado de qualidade para uma equipa com pretensões a existir fora do limitado horizonte português (onde o campeonato, por exemplo, é coutada praticamente exclusiva de dois clubes há mais de quarenta anos). No conjunto das eurotaças, que será brevemente alargado, a Liga dos Campeões é o topo dos topos, a competição clubística mais exigente, mais elitista e mais rendosa - a referência máxima para qualquer jogador e treinador minimamente ambicioso. O FC Porto, clube de vincada personalidade europeia e notável palmarés internacional é, há muitos anos, a cara de Portugal na Champions. Esse facto não devia provocar qualquer azedume nos benfiquistas e nos sportinguistas. Apenas a vontade de perceberem o que podem fazer melhor e tentarem aproximar-se do registo portista (recorde de 23 participações com um triunfo em 2004, uma meia final em 1994 e 84 vitórias contra 59 derrotas em 192 jogos). Na Europa não há lugar a clubites: os sucessos de qualquer equipa nacional na Champions, seja ela qual for, prestigiam e melhoram a imagem do futebol português no todo. Só os invejosos e ao aziagos não conseguem entender esta verdade básica. É um facto que Benfica e Sporting têm balanços claramente negativos no formato Champions - a prova de elite, aquela onde se percebe quem tem ou não tem estaleca para altos voos… -, o que lhes inviabiliza desde logo qualquer pretensão de grandeza europeia no sentido factual do termo. Lembre-se. O Benfica passou cinco vezes da fase de grupos em 15 participações e tem mais derrotas (43) que vitórias (39) nos 110 jogos disputados. O Sporting é muito pior: apenas uma qualificação para os oitavos em 8 participações (com Paulo Bento) e 14 vitórias contra 28 derrotas (o dobro!) em 50 partidas. Quanto à Champions, estamos conversados: Benfica e Sporting estão longe e muito longe da elite que costuma marcar presença nas fases decisivas.
Já na Liga Europa, o segundo patamar europeu (… mas cada vez mais competitivo, é verdade), a conversa é outra. E por isso há motivos para encarar com otimismo moderado as hipóteses do par lisboeta - e digo moderado porque estão nesta Liga Europa equipas a meu ver mais fortes que SLB e SCP: cito Arsenal, Chelsea, Nápoles e o pentacampeão Sevilha, só para me restringir às mais óbvias. Voltemos ao otimismo… para lembrar que o Benfica, na década corrente, chegou às meias-finais desta competição em 2011 (eliminado pelo Braga) e a duas finais consecutivas, em 2013 (Chelsea) e 2014 (Sevilha). O treinador era Jorge Jesus e foi com ele, sublinhe-se, que o Benfica recuperou notoriedade e prestigio na Europa (além disso, Jesus ainda levou o Benfica aos quartos-de-final da Champions em 2102). Esse prometedor capital foi desperdiçado nestes últimos dois anos europeus de Rui Vitória, mas a bela promessa futebolística trazida por Bruno Lage - a «melhor chicotada de sempre na Luz», como dizia ontem a manchete deste jornal - leva-nos a acreditar que o Benfica ainda pode vir a fazer coisas engraçadas (como diria Artur Jorge) nesta competição. O Galatasaray do matreiro Fatih Terim é opositor obviamente acessível (lembro que o FC Porto os derrotou por duas vezes na fase de grupos da Champions… em Istambul com uma equipa quase B!), o mesmo se podendo dizer do aflito Villarreal de Cazorla e Bacca (19.º na Liga) que, acredito, fará da salvação (e não da campanha europeia) a prioridade máxima a que todos os recursos e energias devem ser afetados. É claro que o Sporting atual não inspira a mesma confiança que o Benfica. A diferença lê-se, aliás, na cara dos treinadores: Bruno Lage tem surgido sereno, focado, a espaços divertido; Marcel Keizer passa a imagem de um homem tenso, angustiado, quase perdido. Mesmo assim, acredito que teremos os dois rivais lisboetas no sorteio dos oitavos de final. Boa sorte para ambos.
Realeza em Amesterdão
Ajax-Real Madrid hoje na Johan Cruyff Arena de Amesterdão. Um clássico que vale 17 títulos europeus (Ajax: 4 - Madrid: 13) e representa para os lanceiros holandeses o maior desafio da temporada. Imbatível ao fim de doze (!!!) jogos na Champions (seis na fase de qualificação, mais seis na fase regular), o Ajax recebe o tricampeão europeu disposto a manter (pelo menos) a invencibilidade e tentar levar a decisão para o Bernabéu. Há dois ou três meses diríamos que o Ajax tinha hipóteses de surpreender o monstro. Mas este Madrid já não é esse. É outro.
Muito mais ameaçador. Cresceu enormidades no último mês e chega (não por acaso…) ao início da fase decisiva da Champions - o seu amor de sempre - num apuro de meter medo, mesmo sem Ronaldo e sem um treinador com o carisma de Zidane ou Ancelotti no banco. Nunca esquecer: a conquista da Champions é o santo e senha deste clube grandioso que quase dobra o segundo melhor (AC Milan, 7 títulos) no álbum de ouro da competição. Sevilha, Barcelona e Atlético sentiram recentemente na pele a notória subida de forma dos brancos, a que certamente não é alheia a aproximação do primeiro mata-mata europeu. Como referia um cronista de Madrid, «Solari conhece as regras da casa e não precisou de ser industriado nesse sentido». É assim a vida. Cada um nasce para o que nasce e o Madrid, por muito que isso irrite os adeptos dos clubes rivais, parece ter nascido para levantar a Taça dos Campeões Europeus (mesmo sem Ronaldo e Zidane).