Independente, não necessariamente isento
Estreio hoje este novo espaço de comentário. As Crónicas de Bancada serão um espaço quinzenal onde me debruçarei sobre o desporto no geral, o futebol em particular e o Benfica em especial.
Não pretendo oferecer uma análise técnica, como a que alguns estão habilitados a fazer graças ao seu percurso profissional. Também não trarei uma leitura especializada, como outros podem proporcionar, fruto de conhecimento profundo. Esta será a visão de um adepto. De alguém que vive o desporto com emoção, sentado numa bancada de um estádio, num pavilhão, junto a um ringue ou, simplesmente, no sofá, agarrado ao ecrã da televisão, sentindo cada momento com intensidade.
Serei uma voz livre e independente. Mas não serei uma voz isenta. Escreverei como benfiquista. Será enquanto adepto que partilharei a minha visão, naturalmente apaixonada, mas sempre com o rigor, a liberdade e a independência que faço questão de preservar e que os leitores merecem.
Prestes a iniciar uma nova época futebolística, esta é daquelas alturas em que, mesmo com a bola parada, os adeptos estão colados às notícias que chegam dos clubes, principalmente dos seus. As mexidas nos plantéis são sempre capazes de provocar diferentes estados de ânimo. Excitação, ansiedade, desalento são apenas alguns dos sentimentos que vamos experimentando ao ver jogadores e treinadores a sair ou a entrar. Cada contratação ou saída desperta expectativas e receios. Faz parte da emoção do futebol.
O mercado de transferências é, além de importante, uma das fases mais agitadas e emocionantes da época, mantendo-nos ligados às novidades e ao futuro dos nossos clubes. É neste período que se começa a decidir, em boa parte, o que poderá acontecer nos meses seguintes dentro das quatro linhas.
Os três grandes chegam a este início de época com desafios acrescidos. No Benfica, as eleições de outubro prometem marcar o arranque da temporada. No Sporting, o principal trio do clube saiu. Sem Amorim, Viana e Gyokeres, cresce a expectativa para perceber como Frederico Varandas irá conduzir a preparação da nova época. No FC Porto, que já vai no terceiro treinador desde a era Villas-Boas, o mais surpreendente parece ser a aparente abundância de recursos para reforçar o plantel.
Como se vê, não faltam ingredientes para um começo de época agitado e cheio de emoção.
No Benfica, as saídas de Di María e Kokçu aumentam o nervosismo de qualquer adepto, não apenas pela qualidade que ambos acrescentavam à equipa, mas também pela proximidade do jogo da Supertaça, sem que ainda tenham chegado reforços à altura para os substituir.
Aproveito para deixar um breve aparte sobre a Supertaça. É verdade que a data do jogo foi, numa fase inicial, acordada entre os clubes envolvidos. No entanto, nessa altura, era impossível para o Benfica antecipar o percurso que acabaria por fazer no Mundial de Clubes. Qualquer tentativa de alterar a data nessa fase poderia até ter sido interpretada como um ato de arrogância.
Após a participação na competição, o Benfica solicitou o adiamento da Supertaça. Nada de extraordinário. É precisamente o que outros clubes, noutros países, também fizeram: ajustar os seus calendários em função da presença no Mundial de Clubes. E não é caso único. Já vimos, por diversas vezes, equipas com campanhas prolongadas na Liga dos Campeões ou na Liga Europa a pedirem alterações de datas e a serem atendidas com naturalidade por outros clubes.
Lamento que o Sporting não tenha acedido a esse pedido e, mais ainda, que a intervenção da Federação não tenha sido mais firme neste processo.
No Sporting, a novela Gyokeres está a chegar ao fim. Depois de Varandas ter concedido mais uns dias de férias ao avançado sueco, numa tentativa de evitar que este falhasse a apresentação no início dos trabalhos da nova época, não conseguiu, no entanto, que essa regalia surtisse efeito. Gyokeres quer sair, o empresário pressiona e Varandas já percebeu que perdeu margem de manobra.
O negócio deverá fechar-se por cerca de 70 milhões de euros. Oficialmente, o Sporting manteve-se firme. Na prática, cedeu. Vai vender Gyokeres por menos do que o Benfica vendeu Darwin. E convenhamos, a importância do sueco na conquista dos dois últimos campeonatos foi determinante. Talvez só comparável, nas últimas décadas, ao impacto de Jardel no Porto e no Sporting ou ao de Jonas no Benfica.
Mas antevejo que, por ser Varandas e por ser o Sporting, muitos dirão que foi um bom negócio.
No Porto, parece haver fenómenos que desafiam até os mais céticos. Um clube que, pela manhã, está com enormes dificuldades financeiras, consegue à noite aparecer com um orçamento robusto, a contratar como se não houvesse amanhã. Pode parecer um milagre, mas é apenas o FC Porto, à moda Villas-Boas.
Na apresentação do novo treinador esperava-se um entusiasmo contido, talvez uma ou outra promessa de luta pela competitividade. Em vez disso, André Villas-Boas fez do evento quase um espetáculo presidencial, anunciando milhões e um músculo financeiro reforçado. Fala-se no maior investimento de sempre no plantel.
A pergunta que fica é: de onde vem este dinheiro? Há pouco tempo, o clube enfrentava sanções da UEFA por incumprimento do fair-play financeiro. A tesouraria era apertada. Agora, a liquidez parece abundante. Uma coisa é certa, alguém acabará por pagar esta fatura!