FC Porto, um clube com o coração grande

OPINIÃO14.12.201800:22

No FC Porto não há outra mentalidade: jogar sempre para vencer. Seja com quem for, seja contra quem for, seja em que circunstância for.
Bem sei que para quem não for do brasão abençoado a coisa custe a engolir, mas se mais provas fossem necessárias o jogo de terça-feira, em Istambul, deixou isso absolutamente evidente. Com uma equipa sem muitos dos jogadores do onze habitual, contra um adversário forte e que precisava de ganhar, o FC Porto, que já tinha a qualificação e o primeiro lugar no grupo garantidos, entrou em campo para ganhar.
Não foi a exibição coletiva mais sólida, tirando o esplêndido jogo do Marega e o muitíssimo razoável do Hernâni não terá sido também um portentoso espetáculo de qualidade individual e, temos que admitir, a generala sorte esteve connosco, mas o que às vezes nos falta em momentâneo talento sobra sempre em capacidade de sofrimento, solidariedade e ambição. Não há quem não saiba, bater um grupo coeso, solidário e empenhado será sempre muito difícil, particularmente se esse grupo enverga a camisola do FC Porto.
Estas qualidades são a imagem de marca do meu clube, mas não ajudam só ao seu prestígio. Mais uma vez é o FC Porto a ter de carregar o futebol português às costas. Os pontos que conquistou são fundamentais para o ranking do nosso futebol e para ajudar o Benfica a ser cabeça de série na Liga Europa. Não precisam de agradecer, foi um prazer puder ajudar. Temos o coração grande: ajudamos um futebol que gostava muitíssimo mais de nós se não ganhássemos nada.
Mais, com a vitória contra o Galatasaray o FC Porto tornou-se a equipa que mais pontos fez nesta fase da Liga dos Campeões. Nem Real Madrid, nem Bayern, nem Barcelona, nem Manchester City, nem ninguém, foi o brasão abençoado o melhor de todos.
Mais uma vitória, mais um alegria. Somos mesmo únicos, há mesmo uma alma sem igual naquela camisola.
Em Fevereiro, enfrentaremos o nosso próximo adversário na Liga dos Campeões. Não tenho preferências sobre o adversário que nos calhará em sorte, mas gostava de o poder enfrentar com o plantel reforçado. Não custa repetir, este plantel e este treinador merecem um esforço especial. E não se pense que estou só a pensar na Champions. Basta olhar para o calendário para se perceber que até ouvirmos de novo o hino da maior prova de clubes do mundo a carga de jogos vai ser terrível. Apesar de a vitória em Istambul ter sido obtida com vários jogadores que não são habitualmente titulares, há uma ou duas posições em que as opções são manifestamente escassas ou sem a qualidade suficiente para enfrentar as dificuldades que temos pela frente.
Se o jogo da última terça-feira foi difícil, mais difícil será o de amanhã. O valor do Santa Clara está demonstrado pelo excelente campeonato que está a fazer, vários jogadores do FC Porto estarão logicamente cansados (a equipa chegou na madrugada de quarta-feira ao Porto e terá de viajar já hoje para São Miguel) e, como toda a gente já reparou, anda para aí uma azia enorme com tantas vitórias do meu clube, ainda para mais seguidas. Estes problemas com a digestão, infelizmente, vêm normalmente acompanhados de uma campanha que visa condicionar e pressionar a arbitragem. Nada de novo, portanto.
Toda a concentração, todo o empenho e todo a atenção para que não se passem coisas estranhas serão poucas para atingirmos as metas a que nos propomos. É bom que todos os portistas saibam que a procissão ainda vai no adro. Deixa-me, no entanto, bem mais sossegado que a equipa e o treinador são os mais conscientes disso.

Os rapazes mais novos

NÃO eram precisas mais provas de que o mister é alguém que não está só empenhado no sucesso da equipa principal. No entanto, gostei muito de ver o elogio público que o Sérgio Conceição fez aos rapazes que brilhantemente conquistaram o primeiro lugar no grupo da UEFA Youth League. É prova que está envolvido nas várias dimensões do seu clube e que está atento à evolução dos escalões de formação que são cada vez mais importantes para o futuro do clube e onde é fundamental apostar.
Já se sabe que o futebol está longe de ser uma ciência exata e que há jogadores que pareciam ter tudo para chegar longe e que depois nunca conseguem passar de ex-promessas. Além disso, lembro-me de nesta coluna ter jurado a pés juntos de que rapazes iriam longe e de me ter redondamente enganado.
Há vários rapazes com talento nesta equipa, mas estava capaz de apostar singelo contra dobrado que se tudo correr dentro da normalidade o Diogo Costa, o Fábio Silva e o Romário Baró vão ter uma bela carreira. E, claro, para mim isso quer dizer jogar na primeira equipa do FC Porto.

 Respirar fundo

«O VAR está a viver uma fase experimental e antes de as coisas estarem afinadas ainda vamos ver muitos erros». Esta frase não tem autor determinado, mas foi uma das que foram utilizadas para justificar os erros sucessivos que foram acontecendo no ano passado e que como é público e notório prejudicaram o FC Porto - basta lembrar o FC Porto vs Benfica ou o Feirense-FC Porto, só para dar dois exemplos. Também me recordo de que tinha de haver tolerância para com a fornada de árbitros que agora pontifica porque eram novos e inexperientes, mas que se via que tinham muitas qualidades.
Numa altura em que já há poucas dúvidas sobre o que se passou no futebol português nos últimos anos, em que está à vista o que foi a teia de influência do Benfica sobre as principais instituições do futebol português, tentar manchar a forma como o FC Porto está ganhar em Portugal - ainda para mais com aquilo que tem sido o nosso percurso internacional - é de fazer perder a cabeça ao mais calmo.
No mesmo sentido, é muito interessante ver que basta um ou dois supostos erros de arbitragem para que o que dantes era simples erro passe a enigmática mudança de poder. Curioso, épocas inteiras de erros crassos de arbitragem - sempre a favor do mesmo lado -, de nomeações estranhas, de doutrinação aos árbitros, não fazia levantar uma sobrancelha, um penálti por marcar num jogo deixa toda a gente incomodada.
Como dizia um amigo, «joguem à bola».