Fantasma de um passado futuro

OPINIÃO04.05.202003:00

Todos nós adivinhámos que o passado iria tornar-se futuro sem maior turbulência do que o ficar em casa a ver desfilar a quarentena. A confirmação chegou-nos há dias, à entrada da reunião de todo o futebol português com o primeiro-ministro António Costa. Fiquemos com essa imagem e não precisamos de mais nada para termos a certeza indissolúvel de que tudo vai continuar como antes, apesar da paz podre que vingou em nome do combate à Covid.  Nem uma situação extrema, que pôs em causa a nossa existência, conseguiu forçar a momentos tão necessários de introspeção e autoanálise.
Fernando Gomes liderou, mais ou menos, o processo - tudo na sua presidência tem assentado nesse termo quase neutral, ao não haver dirigente ou político mais eficaz a passar entre os pingos da chuva, e a tornar-se consensual entre os grandes para próximos mandatos. O presidente da federação até encaixa bem na imagem pandémica de gente de máscara e luvas, com medo de deixar-se infetar pelo que o rodeia. Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira e Frederico Varandas a segui-lo de perto, e Pedro Proença, o homem da Liga, a reboque dos demais. A fazer o papel de coitadinho, muitas vezes convidado de Gomes em assuntos em que devia ser sempre ator principal.
Não houve reflexão durante a pandemia, não houve nenhuma epifania ou telefonemas de parte a parte. Ninguém quis ver o bem maior. Se assim não fosse, não valeriam os restantes 33 clubes profissionais o mesmo que um terço dos três grandes num dos momentos mais importantes do futebol português. Benfica, FC Porto e Sporting prontos para defenderem os seus interesses, e a Liga vazia, sem forma, sem poder, conduzida por homem sem carisma. Esqueçam a centralização dos direitos e um jogo moderno e atrativo. Ainda estamos em modo de dividir para reinar. Cada um por si.