Darwin vai, Taarabt fica
O propalado interesse de Roger Schmidt em Mario Gotze e o desinteresse do Benfica em fazer-lhe a vontade será assunto arrumado. Rui Costa vincou a sua posição
OBenfica vai entrar na próxima época a ganhar devido ao retumbante sucesso no campo financeiro, com a transferência de Darwin Núñez para o Liverpool, por números surpreendentes. Em 2019, João Félix mudou-se para o Atlético Madrid na sequência de uma operação que se concretizou por valores ainda mais elevados. Negócios de tamanha envergadura apenas o emblema da águia tem sido capaz de fazer, reflexo do seu enorme prestígio internacional, que resiste à erosão do tempo e continua a permitir-lhe diálogo fácil com os mais poderosos e influentes clubes europeus.
A venda de Darwin não corresponde a pontos, nem a títulos, mas alimenta a alma da família encarnada, pelo menos isso. Já que a bola não tem entrado nas balizas adversárias as vezes necessárias para lhe proporcionar as alegrias que gostaria de ter, contenta-se com este prémio de consolação que leva o nome da águia aos quatro cantos do mundo.
Cem milhões, ou próximo disso, é muito dinheiro e representa apreciável aconchego para os novos timoneiros do futebol benfiquista, os quais poderão, a partir de agora, desenhar o futuro imediato com mais segurança, sabendo-se, porém, que está por decidir o acesso direto à Liga dos Campeões: há um ano correu bem, mas há dois correu mal.
A fazer negócios milionários ninguém bate o Benfica, e há razões históricas que ajudam explicar essa diferença para os restantes atores lusos, mas em relação ao que verdadeiramente interessa para o adepto, os golos, as vitórias e as conquistas, são mais as interrogações do que as respostas tranquilizadoras.
E NTRA uma verba apreciável na tesouraria do clube, mas sai um jogador que em duas épocas de águia ao peito, e com alguns percalços pelo meio, faturou quase 50 golos, não sendo fácil de enxergar um substituto para quem tanto marcou. Fez mal o Benfica? Não, fez bem, não tinha outra alternativa. Há muito se percebera que a vontade do jogador era esta e por ela trabalhou com entrega total até ao último minuto, exemplarmente retratada na derrota com o FC Porto, na Luz, em que a sua indignação pela passividade de companheiros o fez explodir em corrida desenfreada atrás de Pepê na vã tentativa de evitar o inevitável, o golo de Zaidu. Mas ficou em paz com a sua consciência. E Taarabt com a dele, lembram-se?, que, no mesmo lance, desistiu a meio.
O avançado uruguaio vai deixar saudades, porque é um jovem simples, humilde e cheio de valor. É um profissional de corpo inteiro. É claro que Jurgen Klopp andava de olho nele e aquela declaração inocente do central Van Dijk, ao equipará-lo ao norueguês Haaland, foi o tempero que faltava para o cozinhado ficar no ponto. Tudo normal, portanto, Darwin vai para o Liverpool, mas Taarabt continua no Benfica. Eis a distância que separa os dois clubes!…
A CALMADA a gritaria no lodo das redes sociais, suscitada pela entrevista de Luís Filipe Vieira, e serenados oportunistas e ofendidos pela mesma razão, convém preparar a próxima temporada desportiva em paz e sossego. A propósito, permito-me respigar uma passagem do artigo assinado pelo jornalista João Bonzinho, diretor de A BOLA TV, na última sexta-feira.
Escreveu ele: «Agora que Vieira foi claro na afirmação de o Benfica, para ele, ter acabado de vez (acredito que Vieira jamais queira voltar), talvez possam Vieira e Rui Costa reunir condições para se entenderem de frente e sararem as feridas do passado.»
E ajuntou: «Ninguém ganha por ter apenas uma boa equipa. Ganha-se com estabilidade, união e coesão, que é o que o Benfica, pelos vistos, continua a não ter.» Não tem, acrescento eu, porque dá jeito que não tenha a quem por ali ciranda à procura do poleiro que o outro (Luís Filipe Vieira) construiu e para o qual querem pular.
Como sugere João Bonzinho, o entendimento entre Filipe Vieira e Rui Costa é desejável e creio que irá acontecer, quando quiserem, porque é um assunto que só a eles diz respeito. Saberão entender-se para sararem as feridas que houver para sarar. Ambos querem dar esse passo, deem-lhes espaço e tempo.
ROGER SCHMIDT, novo treinador do Benfica, foi mostrado (não apresentado) aos adeptos como não me lembro de ter visto. Chegou ao aeroporto em passo acelerado e, além de simpáticos «bom dia» e «obrigado», pouco se lhe ouviu. Chegou, viu e partiu, mas, como tem sido noticiado, nada acontece que não lhe seja comunicado e nenhuma decisão é tomada que não mereça a sua concordância.
Assim sendo, o seu propalado interesse em trazer Mario Gotze e o desinteresse do patrão em fazer-lhe a vontade será assunto arrumado, e bem arrumado, em minha opinião, se for esta a decisão final.
Não está em causa a qualidade do jogador, obviamente, mas, neste momento, corria-se o risco de acrescentar um problema aos já existentes, que são muitos. Contratar avulso tem sido o maior pecado nas últimas épocas, para satisfazer caprichos sem sentido e, naturalmente, proporcionar comissões generosas. Pelo que li, ao dizer não, Rui Costa vincou a sua posição. Quem manda é quem tem a última palavra.