Da justiça (ou da falta dela...)

OPINIÃO13.05.201804:00

Há 12 anos, desde 2006, que o Gil Vicente reclama justiça e exige o regresso ao escalão principal, de onde foi administrativamente afastado depois do célebre Caso Mateus. Há coisa de dois anos, em 2016, o Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa deu razão aos gilistas, determinando a reintegração imediata do emblema de Barcelos na Liga. Mas como em Portugal há sempre mais um recurso, há sempre mais um acordo, aqui estamos nós, mais um ano à espera de que a ordem do tribunal seja, efetivamente, cumprida, enquanto o Gil Vicente, sabendo que aconteça o que acontecer estará na Liga em 2018/2019, se vai arrastando, primeiro na Liga 2 - foi, desde que se soube do acordo alcançado entre o seu presidente, o Belenenses e a Liga, sempre a cair até se confirmar a descida - e, para o ano, no Campeonato de Portugal.

Admitamos, não havia agora uma forma limpa de resolver este imbróglio criado por quem há muito (felizmente) deixou de ser figura no futebol português. A reintegração do Gil já na próxima época através do alargamento da Liga para 20 equipas, que esteve em cima da mesa esta semana, era aberrante, não apenas pela realidade lusa mas também por mexer nos cenários de descidas e subidas quando estamos na semana de todas as decisões. Não é, também, lá grande coisa ter os gilistas no Campeonato de Portugal sem que os seus jogos contem para a classificação. Mas não sendo a solução ideal, é a possível. E não concordo com António Fiuza e os que dizem ser esta solução que não defende a verdade desportiva. Pelo contrário. É, não sendo possível outra, a que melhor a defende. Em causa estaria a verdade desportiva se os jogos do Gil contassem para alguma coisa quando o destino da equipa na próxima época já está traçado. Ou já se esqueceram do que se disse e escreveu esta época sobre as derrotas consecutivas da equipa de Barcelos?

Estranho é, dois anos depois da decisão do tribunal, ainda não ter ficado claro em que moldes será cumprida. Mas para quem está à espera há 12 anos, o que são mais uns meses?

Rúben Dias foi suspenso. O Benfica recorreu. O recurso não tinha efeito suspensivo. Rúben Dias não joga com o Moreirense. Afinal ainda pode jogar. Não, afinal não joga. Afinal, à última hora, vai mesmo poder jogar. Não vou estar aqui a discutir as decisões da Comissão de Instrutores da Liga e do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, acredito que todos encontram nos regulamentos pressupostos que justificam as suas decisões ao longo desta semana. Mas é estranho esta coisa de os regulamentos preverem a possibilidade de um processo sumário com recurso às imagens televisivas que, no fim, contam para muito pouco, porque quem acaba por decidir é o árbitro, que não viu nada, ou o VAR, que viu as imagens mas entendeu - na altura e pelos vistos mantém a opinião uma semana depois -, ter a cotovelada de Rúben Dias a Gelson Martins ter sido apenas comportamento antidesportivo e não uma agressão.

Não se percebe bem, mas uma coisa tenho bem clara: houve, no derby de Alvalade, duas agressões, a de Rúben Dias a Gelson e a de Bruno Fernandes a Cervi. Tenham ou não sido sancionadas em campo, as imagens televisivas deviam ser suficientes para tirar os dois jogadores da última jornada da Liga. Jogam os dois. Está bem...

PS - A entrevista de Bruno de Carvalho ao Expresso, conhecida pouco mais de 24 horas antes de um jogo decisivo para o Sporting, mostra que o presidente leonino não tem noção qualquer de timing - ou será que tem?... E mostra também que BdC, por mais abraços que distribua, não vai perdoar quem se atreveu a desafiá-lo. Não, não está tudo bem na relação presidentes-jogadores e ainda menos bem está a relação presidente-treinador, ao contrário do que muitos querem fazer passar. É só esperar.