Pavlidis marcou o primeiro golo do Benfica na vitória dos encarnados em Guimarães
Pavlidis marcou o primeiro golo do Benfica na vitória dos encarnados em Guimarães (Foto: Grafislab)

Benfica: roleta popular

OPINIÃO23.04.202509:30

'Visão de golo' é o espaço de opinião semanal de Rui Águas, treinador e antigo avançado internacional português

Muita da popularidade do futebol relaciona-se com a sua variabilidade e incerteza relativamente ao que no jogo seguinte possa acontecer. As previsões muitas vezes saem furadas e poucas certezas existem. Não importa o que antes se fez porque o que se segue nunca é garantido.

Da goleada do Benfica no último clássico ao empate com o Arouca em casa, passou só uma semana. Dois episódios bem diferentes em que o título do segundo poderia ser: Muito rematar e pouco acertar. A última versão vivida em Guimarães trouxe, ao contrário, uma economia rematadora da equipa, mas uma invejável pontaria. Tudo isto em três jogos consecutivos. Uma verdadeira roleta para os adeptos. Para quem se tem queixado, com razão, de falta de eficácia atacante do Benfica, teve então a resposta em Guimarães.

O Vitória, sempre confortável em casa, entrou ameaçador e quase marcava no minuto inicial. Já o Benfica aguentou e marcou sem avisar, o que surpreende e afeta duplamente a equipa que sofre sem esperar. Trubin foi a principal figura, mas a equipa soube sofrer e aproveitar inteligentemente os espaços para atacar. Do apoio frontal que garante na ligação do ataque, ao desequilíbrio que uma receção perfeita provoca, juntando a variação para o lado contrário, até à conclusão final. Assim se escreveram os passos do primeiro golo de Pavlidis. Semear na construção para mais à frente colher foi o que fez o goleador grego. Kokçu, Akturkoglu e mais tarde Schjelderup foram os outros veículos fundamentais do ataque rápido da equipa.

A repetir: Trubin memorável; Pavlidis em alta; coesão e eficácia da equipa em grande destaque.

A evitar: ter a posse de bola determina o controlo da partida. Mesmo tendo ganho o jogo, dá-la ao adversário não é nunca um princípio saudável e pode trazer problemas, como quase aconteceu. Ficou visível a extrema dificuldade nos duelos aéreos, mesmo considerando a estatura de Relvas e Villanueva, que podia ter dado golos ao Vitória e complicado as contas. Mesmo marcando, Pavlidis e o fora de jogo têm uma relação ainda demasiado próxima, algo que um avançado evoluído deve procurar ajustar.

Negativo: a lesão de Di María afasta um jogador de alta definição da última fase onde tudo se define.

Baliza a baliza

Baliza a baliza era um jogo popular de rua, disputado mano a mano. Cada miúdo defendia o seu portão e atacava o portão em frente, com a rua ao meio. Isto só era possível no tempo em que poucos carros passavam... Hoje, que falamos de futebol profissional, todas as posições são fundamentais e o poder coletivo crucial, mas ser guarda-redes ou goleador de uma equipa será sempre diferente e muitas vezes decisivo. Na dúvida, basta lembrar aquilo que as defesas de Trubin e os golos de Pavlidis representaram na última vitória do Benfica. Nas balizas se faz a história, atacando ou defendendo.

Da frente para trás

Descer no campo para crescer na carreira. É provavelmente o que está a acontecer com Tiago Gouveia, ala de formação, que tudo indica, será lateral-direito residente daqui em diante. É uma operação de mudança de hábitos, que considera as realidades dos atletas em questão: as suas caraterísticas e valências, mas também a concorrência que enfrentam para as posições que podem ocupar. Paulo Ferreira, outro caso bem expressivo, foi um médio transformado em defesa que brilhou por cá e no Chelsea, sendo um exemplo passado de grande sucesso. Quanto a Matheus Nunes, internacional português do Manchester City, foi recentemente classificado por Pep Guardiola, como um jogador cujos argumentos não são suficientes para jogar na zona central da sua equipa. Compreendo, tendo em conta o nível dos seus colegas de setor... Na última partida foi decisivo com uma assistência feita, mas surgindo de zona lateral.

Segundo dados da sua Liga, é dos jogadores mais velozes da Premier League, mas, na opinião do seu treinador, não suficientemente esclarecido para decidir rápido e bem na zona central onde o tráfego é intenso.

Patinho feio

Poucos jogadores têm despertado tanta crítica, até gozo e desrespeito, como Harry Maguire, defesa-central do Manchester United e da seleção inglesa. Eleito o alvo preferido da imprensa e dos próprios adeptos, há já largo tempo. Ruben Amorim, mesmo em dificuldade, não prescinde da sua utilização e saberá porquê. Um treinador que acredita e por isso insiste, ignorando o maldizer do povo. Afinal, quem melhor conhece o atleta é quem o treina dia a dia e não quem fala de futebol entre cervejas britânicas. Memorável a recente reviravolta com o Lyon justamente selada por Maguire, premiando alguém que muito tem passado.

A sua capacidade mental resistente faz dele um exemplo na defesa da sua equipa e o seu hábil cabeceamento torna-o um herói especial de uma noite inesquecível.