A Terra ainda é redonda

OPINIÃO30.11.202205:35

Portugal tem qualidade para sonhar com mais do que em 1966 e 2006. No Catar, sem surpresa, o favoritismo é europeu (e sul-americano...)

NO Mundial, ao 11.ª dia de ação, mais seleções apuradas para os oitavos de final de torneio que tem final marcada só para 18 de dezembro. Apenas França, Brasil e Portugal conseguiram qualificar-se logo após os dois primeiros jogos na competição. Ontem, no arranque da jornada 3 da fase de grupos, Países Baixos, Senegal, Inglaterra e Estados Unidos também conseguiram a qualificação para a próxima ronda, com as 16 equipas de topo neste campeonato.
Passo a passo, de forma mais ou menos firme, os favoritos avançam numa competição com a particularidade de realizar-se fora de tempo, a meio da época desportiva na Europa, o continente de referência no futebol, por concentrar os clubes mais poderosos (leia-se ricos) do mundo e, por isso, também os melhores jogadores. A originalidade da calendarização pressupõe muitas limitações na preparação e nas recuperações coletiva e individual, talvez a razão por trás do número significativo de lesões, maiores entre as equipas de olho no título mundial, o que não acontece por acaso (explica-o a sobrecarga competitiva), com França, Brasil e Portugal mais massacrados do que os adversários.
França, Brasil e Portugal, exatamente por esta ordem, posicionam-se no top 5 da tabela das seleções mais valiosas do campeonato no Catar, superando-as apenas a Inglaterra, que representa o país com a liga mais atrativa, competitiva e excitante do mundo. Os 26 ingleses estão avaliados em qualquer coisa como 1431 milhões de euros, acima dos 1298 dos franceses, dos 1192 dos brasileiros ou dos 1017 dos portugueses! Logo abaixo, a Espanha, com 984, e a Alemanha, com 962, de acordo com documento do Football Benchmark de 15 de novembro.
O sucesso desportivo destas seleções, que também podemos explicar com a concentração de qualidade, antecipava-se. Assim, não surpreende o facto de mais de metade dos jogadores neste Mundial do Catar (418 em 831) participarem nas cinco ligas mais importantes do futebol europeu. Os representantes da Premier League são 134. A La Liga tem 83, a Bundesliga 78, a Série A 67 e a Ligue 1 apenas 56. Outra informação significativa: os 16 clubes apurados para os oitavos de final da Liga dos Campeões, lote de elite que inclui dois emblemas portugueses, FC Porto e Benfica, têm 151 futebolistas nesta competição, número que representa 18% do total. Aqui, parcialmente, encontra-se a explicação para os resultados positivos das formações africanas, todas com onzes formados por craques que competem, maioritariamente, na Europa e em equipas de topo. E esta experiência, em Campeonato do Mundo, conta muito!
Historicamente, europeus e sul-americanos mais do que favoritos no Mundial. No Catar, analisando o que vimos até aqui, que não foi pouco, quase, quase tudo igual. Nos 21 campeonatos desde 1930, 12 vitórias de seleções da UEFA, 9 de membros da CONMEBOL, o último em 2002, na Coreia do Sul e no Japão. Então, festa brasileira, com a conquista do penta que mais ninguém tem! Depois, só títulos europeus. Os italianos ganharam o Alemanha-2006, os espanhóis o África do Sul-2010, os alemães o Brasil-2014 e, finalmente, os franceses o Rússia-2018. Em 2022, aceitam-se apostas.
Provaram-no Isaac Newton, Johannes Kepler e Albert Eistein, entre muitos outros. A Terra, contra todas as teorias dos adeptos do terraplanismo, é plana! E é-o, também, no planeta futebol. Ainda não é no Catar que há qualquer espécie de contestação relevante à superioridade tática e técnica tanto dos europeus como dos sul-americanos, com os primeiros em vantagem sobre os segundos.
Portugal, no imediato, tem como objetivo garantir o 1.º lugar no Grupo H. Depois, na fase a eliminar, pense-se apenas jogo a jogo. Nesta Seleção, encontra-se talento acima da média. Legitimamente, ambicione-se mais do que o 3.º lugar no Inglaterra-1966 e o 4.º no Alemanha-2006.