A saga continua
Há filmes que têm sequelas e essas são, quase sempre, piores que o original. Quem não se lembra do Pesadelo em Elm Street ou dos míticos Halloween ou Sexta-Feira, 13? Curiosamente, todos de terror. Ou uma versão parecida disso.
No futebol, o thriller dos tempos modernos chama-se Bater nos Árbitros e, só nesta época, a sequela, de péssima qualidade e de baixo orçamento, vai já na sétima edição...
O grande problema é, em boa verdade, o problema de sempre: não há realizador, produtor ou estúdio que ponha cobro a esta saga, que parece ter mais vidas do que as que um gato tem.
FPF, Liga e Estado deram, é importante que se diga, passos importantes nesse sentido, aumentando o policiamento, propondo e aprovando um conjunto de medidas que tentam reduzir a violência nos estádios e pavilhões em Portugal. Mas, se a violência continua, é porque ainda há um longo caminho a percorrer.
Em pouco mais de dois meses, sete agressões é mau prenúncio. E é importante que quem está no futebol nunca as desvalorize, por comparação ao número de jogos que existem. A estatística é irrelevante quando em causa está o exercício gratuito da violência sobre um dos agentes diretos do jogo. Uma agressão é uma a mais do que era suposto.
Quanto aos agredidos, mais do mesmo, porque os maus filmes copiam cenas ruins dos anteriores: seis miúdos receberam tratamento hospitalar, sendo que dois (um deles menor) tiveram mesmo que ir de ambulância para o hospital. O último caso, também com um árbitro menor, foi insólito: uma jogadora de futsal (feminino) esmurrou-o no peito, depois de... discordar com uma decisão. Só por isso.
As mazelas físicas - algumas delicadas, com longa recuperação à espera - acabarão por sarar. O pior mesmo é o medo. O medo de regressarem à competição, de serem humilhados e perseguidos. O medo de voltarem a entrar num estádio, de errarem, de serem novamente agredidos.
Essa é a consequência que não se mede. É aquela que só sente quem os rodeia. Pais, irmãos, família. Os mesmos que vão a estádios e pavilhões torcer pelos seus. Os mesmos que se sentam, lado a lado, com quem os insulta, ofende e ameaça.
Todos sabemos que não é fácil erradicar um fenómeno assim, tantas vezes isolado, que emerge do nada e alastra, em segundos, para incidentes de consequências imprevisíveis. Mas há mecanismos para prevê-los e antecipá-los. Para evitá-los.
É urgente reforçar medidas de sensibilização junto de todos os clubes, sobretudo os que têm escalões de formação. É urgente encontrar formas eficazes de responsabilizar dirigentes, pais e adeptos que não sabem comportar-se no desporto. É urgente educar as pessoas, apelar ao maior envolvimento das associações de futebol, reforçar a segurança onde ela se tem revelado curta. É urgente o investimento estratégico em medidas que fomentem o respeito, o desportivismo e a lealdade.
Encontrar o equilíbrio perfeito entre a pedagogia e sensibilização e a punição severa e exemplar deve ser o grande objetivo. Prevenir bem, punir ainda melhor.
Este é um problema sério. Um problema que o futebol não pode nem deve continuar a relativizar.