A rua Vieira e o bom Jesus!...

OPINIÃO27.02.202106:00

Todos sabemos distinguir, pela forma como se acciona a buzina, se é de alegria e regozijo ou de protesto

B UZINADELA é um simples toque de buzina, uma mera apitadela, como todos os que andamos de automóvel no trânsito muitas vezes fazemos, designadamente quando não temos paciência para a lentidão do condutor que vai à nossa frente. Nas cidades e vilas portuguesas não é vulgar ouvirem-se as buzinas tocar de uma forma ensurdecedora ao contrário de outras cidades, de que destaco uma que conheci - a cidade do Cairo, no Egipto -, onde os automobilistas conduzem com a mão a carregar na buzina, com ou sem motivo para tal. O mesmo aliás se passa com os apitos dos árbitros: em Portugal usa-se o apito a propósito de tudo e de nada, enquanto lá fora assistimos a arbitragem em que o uso do apito não passa da apitadela!...
Já o buzinão é normalmente definido nos dicionários com uma manifestação em que são accionadas, de modo concertado, um grande número de buzinas, como forma de protesto.
Quando falamos em buzinão, todos nos lembramos do mais famoso, isto é, daquele que ocorreu no dia 24 de Junho de 1994, pouco depois das sete da manhã, quando seis camiões bloquearam o acesso sul da ponte 25 de Abril, num movimento de contestação popular após dias de buzinão de automobilistas, que provocava todas as manhãs longas filas de carros. O bloqueio da ponte sobre o Tejo, contra o aumento das portagens de 100 para 150 escudos, marcou, segundo a opinião de muita gente, o princípio do fim do cavaquismo, num clima de confronto entre o governo liderado por Cavaco Silva e o Presidente Mário Soares. Por mim, não creio, sinceramente, que Cavaco Silva tenha interpretado o buzinão como um gesto de carinho de Mário Soares.
Já neste século, ocorreram outros buzinões, como foi o ocorrido em Fevereiro de 2003, devido a um corte de trânsito na Avenida da Liberdade e, mais recentemente, o buzinão pela liberdade de protesto contra o recolher obrigatório organizado pelo Movimento Cidadãos Unidos, em 22 de Novembro de 2020!
No mundo dos adeptos do futebol, o buzinão é normalmente uma manifestação de regozijo e alegria pela vitória num jogo ou numa competição, cá ou em qualquer parte do mundo. Verdade é também que todos sabemos distinguir, pela forma como se acciona a buzina, se é de alegria e regozijo ou de protesto.
Excepção ao que acabei de dizer foi o recente buzinão organizado por sócios e adeptos do Benfica protestando contra o Luís e o Jorge (cada vez mais Dupont&Dupont), com a única diferença que aquele fala e o outro se mantém calado!
Relativamente a esse buzinão da passada quarta-feira, disse o Jorge, protestando contra esse protesto: «Já me disserem que vai haver um buzinão para protestar contra a crise do Benfica. Devia era existir um buzinão para apoiar a mim e aos meus jogadores. E ao presidente. Isso é que deviam fazer.» Em suma, pediu que o buzinão fosse de carinho para com os jogadores, treinadores e dirigentes, e por isso se fala já numa nova forma de buzinão - o buzinão carinhoso!
Não sei se o buzinão que ocorreu nas imediações do Estádio da Luz foi muito ou pouco frequentado, se teve sucesso ou não e, muito particularmente, se foi de protesto ou se virou carinhoso!
 

Luís Filipe Vieira foi ao Brasil garantir o regresso de Jorge Jesus ao Benfica. As coisas não estão, contudo, a correr bem


Carinho significa, na língua de Camões, uma demonstração cativante de amor, um sentimento de ternura e afecto; uma carícia, por exemplo, será um gesto que mostra esse sentimento. Carinhosa foi por exemplo a forma como Jorge saiu do Benfica: carinhosamente empurrado pelo Luís Filipe!...
Se não me falha a memória, Vieira mostrou uma profunda ternura por Jorge ao sugerir-lhe a China, o Médio Oriente ou a Turquia. por exemplo, para aí continuar a sua actividade de treinador! E não mostrou o Luís um enorme afecto pelo Jorge ao aconselhá-lo a meter-se num avião para Paris para falar com outro Jorge? Não será Paris uma cidade onde se respira a cada canto ternura, amor e carinho?
E depois de o Jorge ter ido treinar o Sporting, não foram públicos e notórios os gestos, os comentários e as palavras de carinho do Luís Filipe e seus companheiros, de sócios e adeptos do Benfica, para com ele? Desde logo, e como prova de estima e consideração, nem sequer lhe pagaram o vencimento do último mês do contrato cessado, não fosse o Jorge ofender-se!
E não foram ternurentas as palavras que dirigiram ao Jorge e as acusações que lhe fizeram, até de roubo de software? E não foram afectuosos os comentários dos cartilheiros, aliás coordenados por um dos seus grandes amigos?
E não foi amoroso o então director de comunicação do Benfica (e, nas eleições de Outubro, director de campanha do Luís Filipe), quando acusou o Jorge de falta de compromisso e de só pensar em dinheiro: «Sou grato a Jesus pela ingratidão que revelou. Mostrou que precisamos mudar! Vamos ter um treinador comprometido com o Benfica e não apenas com o seu ego e conta bancária!»
E não acham uma meiguice os sócios e adeptos do Benfica passarem a chamar-lhe Jorge Judas?
E querem melhor gesto de amor e carinho para com o Jorge que pô-lo em tribunal para reclamar uma indemnização de 14 milhões de euros?
Perante tanta ternura, meiguice e carinho, Jorge não podia recusar o regresso a Portugal para o Benfica arrasar ou arrasar o Benfica, tanto mais que no Flamengo era vítima de maus tratos e violência doméstica! Mais: os buzinaços (nome brasileiro de buzinão) foram de protesto pelas vitórias do Jorge, designadamente na Taça dos Libertadores!...
Sabendo da infelicidade do Jorge, e que este não era acarinhado no Flamengo, como seria em Portugal, quer no Estádio da Luz, com Cavani e outras estrelas, como no Seixal, pelos jovens habituados às oportunidades que ele lhes dá, Luís foi, com enorme ternura e algum dinheiro trocado, ao Brasil e trouxe de volta o Jorge, que assim mostrou gratidão pelo facto de, ao fim e ao cabo, lhe terem pago o salário de Junho de 2015.
Jorge chegou e, com carinho, Luís disse-lhe que Cavani não vinha porque ele não tinha tratado do assunto; com meiguice o esclareceu que não vinha nenhum daqueles jogadores que Jorge teria pedido e com afecto lhe comunicou a venda do Rúben Dias, por causa da falta de carinho do PAOK para com os jogadores, o treinador e o presidente do Benfica.
Contudo, quando regressou não deixou de comentar, com ternura: «Passados cinco anos, regressei ao Benfica e a um Benfica diferente. Melhorou muito as instalações, tudo o que é a estrutura, como estádio e Seixal, é de top mundial.» Com enorme afecto, não se esqueceu de ter uma palavra de enorme carinho para o balneário: «Agora só precisa de ter também jogadores de top mundial!»
Ninguém me disse nada, mas penso que este carinho para os jogadores foi recebido emocionadamente!
Jorge trocou o buzinaço do Brasil pelo buzinão de Portugal. E mais uma vez Jorge afirma que não sai pelo seu pé, esperando que carinhosamente o despeçam sem justa causa!
Perguntarão os leitores o que é que este texto tem a ver com o título que o encabeça?
Eu respondo: absolutamente nada! A rua Vieira nem sei se existe. Bom Jesus, só conheço o santuário, em Braga!..