Ruben Amorim a festejar o golo da igualdade do Man. United
Ruben Amorim a festejar o golo da igualdade do Man. United
Foto: IMAGO

A primeira noite de 'Sir' Ruben Amorim

OPINIÃO20.04.202507:30

'Hat trick' é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha

«Não quero menosprezar ou criticar nenhum dos grandes ou muito bons jogadores de futebol que jogaram comigo durante os meus 26 anos no United, mas só houve quatro que eram de classe mundial: Eric Cantona, Ryan Giggs, Cristiano Ronaldo e Paul Scholes», sentenciou Alex Ferguson, quando já era um diabo vermelho aposentado, ponto de partida para destacar que «dos quatro o Cristiano era como um enfeite no topo de uma árvore de Natal».

Na lista infindável de futebolistas que contribuíram para a conquista de 38 troféus em percurso de 27 anos no clube de Old Trafford, Mark Gordon Robins — quem?, perguntará o leitor com alguma razão — é um nome desconhecido cuja importância na carreira do mítico treinador escocês lembra relâmpago que ilumina noite de escuridão.

Antigo avançado inglês, Robins salvou Ferguson de um despedimento anunciado com golo solitário em casa do Nottingham Forest, em janeiro de 1990, que garantiu ao Manchester United apuramento para a quarta eliminatória da Taça de Inglaterra de 1989/90, virar de página numa série de sete encontros consecutivos sem vencer em contexto de absoluta ausência de títulos desde que assumira o cargo em novembro de 1986 para substituir Ron Atkinson. O jejum seria quebrado quatro meses mais tarde em Wembley com a FA Cup erguida por Bryan Robson após triunfo sobre o Crystal Palace na finalíssima. O resto é história...

Se Alex Ferguson precisou de mais de três anos e meio para dizer presente, Ruben Amorim, pasme-se, tal o trajeto horribilis do United em 2024/25, pode terminar a primeira época — incompleta depois de saída traumática de Alvalade, onde deixou os leões órfãos, em novembro — no Teatro dos Sonhos a celebrar a Liga Europa se ultrapassar o Athletic Bilbao e, na final do San Mamés, Tottenham ou Bodo/Glimt.

O português deverá agradecer a Harry Maguire— autor do memorável cabeceamento que atirou o Lyon borda fora no mais fascinante prolongamento de que tenho memória, em pleno Fergie Time — com a mesma vénia que Alex Ferguson se rendeu a Mark Robins.

Ainda a gatinhar na aventura ao leme do colosso inglês, Amorim já saboreou momento a lembrar a vitória épica de Barcelona-1999, reviravolta diabólica que valeu a Liga dos Campeões ao United, em Camp Nou, graças à pontaria afinada de Sheringham (90+1’) e Solskjaer (90+3’) na decisão frente a um Bayern que, então, julgava ser suficiente o golo madrugador de Mario Basler (6’).

Haverá um antes e um depois da jornada louca de quinta-feira para Ruben Amorim? Já podemos começar a chamar-lhe... Sir Ruben?

É aguardar, na certeza de que, desde a saída do «pai futebolístico» de Cristiano Ronaldo, conforme o goleador apelidou Alex Ferguson, o United soma apenas sete troféus em 12 anos — e Premier League nem uma para amostra, a última coincide com a despedida do boss, em 2013. José Mourinho ganhou três (1 Liga Europa 2017, 1 Taça da Liga 2017 e 1 Supertaça inglesa 2016), Erik ten Hag, antecessor de Amorim, dois (1 Taça de Inglaterra 2024 e 1 Taça da Liga 2023), Louis van Gaal um (Taça de Inglaterra 2016) e David Moyes um (Supertaça inglesa 2013).