O 'little Big Ben' (o pequeno Big Ben, célebre relógio em Londres) em Victoria, capital da Ilha Mahé, Seychelles, palco do Mundial de futebol de praia que se realiza de 1 a 11 de maio deste ano
O 'little Big Ben' (o pequeno Big Ben, célebre relógio em Londres) em Victoria, capital da Ilha Mahé, Seychelles, palco do Mundial de futebol de praia
Foto: IMAGO

A FIFA e a areia exótica

OPINIÃO26.04.202508:00

Livre e Direto é o espaço de opinião de Rui Almeida, jornalista

Começou por ser uma relação difícil, e está a ser uma solução em desenvolvimento. Se é verdade que o futebol, em versão tradicional, mesmo com o conservadorismo durante muitos anos revelado pelo International Board (IFAB), sempre concitou as atenções do mundo, não é menos certo que o tempo tem dado razão à FIFA na sua ideia de jogo global, envolvendo, também e cada vez mais, o futsal e o futebol de praia (beach soccer na sua designação anglófona, sempre mais do agrado dos especialistas em marketing desportivo), nas suas dinâmicas, no seu seio, com a sua tarimba de grandes organizações e o significado qualitativo do seu carimbo internacional.

Não é, portanto, com surpresa, que o organismo que gere a bola mundial divirja cada vez mais na geografia dos seus eventos, sobretudo os que ao futsal e ao futebol de praia dizem respeito.

O Mundial de futsal do Uzbequistão foi um dos exemplos mais recentes, com um nível de organização a que os próprios uzbeques não estavam habituados, e que catapultou o nome do país da Ásia Central para as parangonas dos media desportivos.

Posso garantir-vos que os 25 dias que passei entre cidades do Uzbequistão, em setembro e outubro do ano passado, deixaram memórias visuais, culturais, gastronómicas e, sobretudo, profissionais inequívocas, e talvez inesperadas à partida.

É nesta ótica de desenvolvimento sustentado aliado a descentralização que surge o Mundial de futebol de praia, que começa, nas ilhas Seychelles, na próxima semana.

Uma derivação geográfica para o oceano Índico profundo, e para o país com menos população do continente africano. Menos de cem mil habitantes estruturam um arquipélago com 115 ilhas (a esmagadora maioria não habitada), e que, curiosa e antagonicamente, é o país africano com melhor índice de desenvolvimento humano.

Pelo meio da aposta turística, que constitui, afinal, a trave mestra da economia seichelense, surge a magna oportunidade de hospedar o primeira evento FIFA de futebol de praia em África e um dos primeiros no âmbito da entidade gestora do futebol mundial no continente. É uma chance dourada para as Seychelles e, sobretudo, para a ilha de Mahé, a maior do arquipélago e onde se situa a capital, Victoria, a sede da competição.

O futebol de praia tem evoluído drasticamente nos últimos anos, quer do ponto de vista competitivo (com cada vez mais nações envolvidas nas fases de qualificação, tendo 72 tentado a sua sorte para a prova deste ano…), quer em termos técnicos, na exata medida da melhor e mais qualificada preparação de técnicos e atletas para levar a cabo um desporto exigente, demolidor fisicamente e altamente competitivo e imprevisível nos seus desfechos.

Sobressai, justamente, o número que escrevi no parágrafo anterior: 72. São muitos países (alguns deles sem linha de costa e, portanto, forçados à montagem de arenas artificiais para poder desenvolver a modalidade e os seus protagonistas), o que dá forma ao crescimento gradual mas muito sincopado do futebol de praia numa perspetiva verdadeiramente universal.

Todas as (seis) confederações integrantes da FIFA dispõem dos seus planos específicos de desenvolvimento, alicerçados, claro está, nas perspetivas reveladas por cada um dos países que as integram e pelo interesse gerado para praticantes, técnicos, público e patrocinadores.

Porque, de facto, são estas quatro vertentes que sustentam o desenvolvimento de qualquer projeto desportivo de grande alcance, acompanhados por uma quinta, a mediatização e o engajamento da comunicação social, sempre à procura de espetáculos mais emotivos, menos previsíveis, até, do ponto de vista da rentabilização, mais vendáveis.

O Mundial 2025, em Victoria, nas Seychelles, constitui assim mais uma significativa oportunidade de consolidação e de sustentação de uma modalidade, há alguns anos, vista como anichada em determinados interesses e algo marginal para conseguir a imposição entretanto garantida no universo FIFA.

E também constitui essa oportunidade para Portugal. Na dimensão de uma nação virada ao mar e às conquistas, bi-campeã do mundo (fruto das vitórias em Espinho, em 2015, e no Paraguai, em 2019), e com algumas das figuras mais marcantes da história da modalidade. Madjer será sempre referência incontornável, mas nomes como os de Jordan Santos ou os irmãos Martins (Leo e Bê), são os pilares do balneário dos Heróis da Areia que permitem à equipa comandada por Mário Narciso (outro dos elementos mais importantes na estruturação da modalidade e do caminho das seleções nacionais) sonhar com uma prestação meritória.

São apenas quatro os conjuntos europeus presentes (Portugal, Espanha, Itália e Bielorrússia), qualquer deles à procura de bater o pé e levantar areia no caminho do campeão mundial Brasil, que volta a surgir no oceano Índico como alvo primeiro, após ter conquistado o seu sexto título há dois anos, no Dubai.

De onde, curiosamente, chega o estádio. A Paradise Arena foi desmontada nos Emirados Árabes Unidos e transportada para as Seychelles, onde já está pronta a receber o Mundial mais exótico e, também por isso, mais apetecível.

Lá estarei, à espera que, como sucedeu no Uzbequistão, esta possa ser mais uma aposta ganha na verdadeira globalização do Planeta Futebol…

Cartão branco

Chegou, viu e está praticamente campeão. A diferença entre holandeses, no futebol inglês, escreve-se em organização e títulos. Arne Slot, transferido do Feyenoord há menos de um ano e com a responsabilidade enorme de fazer esquecer Jurgen Klopp, está à beira de devolver Anfield aos títulos, de fazer retornar o Liverpool à matriz máxima de campeão em Inglaterra. O seu compatriota Erik ten Haag (que, nos Países Baixos, havia sido rival no Ajax), teve menos sorte, porque os patamares estruturais do Manchester United estão, neste momento, a anos-luz do necessário e suficiente para lutar pela coroa máxima.

Cartão amarelo

A disciplina interna é um elemento não apenas estruturante, como absolutamente inegociável uma equipa desportiva de alto rendimento. A noitada de jogadores do FC Porto, cujos contornos foram amplamente noticiados e comentados ao longo dos últimos dias, deve ser exemplarmente a avaliada, retaliada e punida pelos responsáveis azuis e brancos, sob pena de perderem definitivamente o respeito e o controle do seu grupos de futebolistas profissionais. Se é verdade que já não há objetivos maiores, do ponto de vista competitivo, para os portistas, nesta temporada, é igualmente certo que o próximo se começa a preparar no imediato. E isso inclui o inevitável exemplo de disciplina interna.

Sugestão de vídeo:

Lenda do futebol de praia fez parte do elenco que enfrentou Ronaldinho e companhia em jogo de caridade
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