Gyokeres, avançado sueco de 27 anos do Sporting, segura o troféu correspondente ao título de campeão nacional de 2024/25
Gyokeres, avançado de 27 anos, deseja sair do Sporting, clube com o qual tem mais três anos de contrato (Foto: MIGUEL NUNES)

A economia emocional em período de mercado aberto

Desportiva_MENTE é o espaço quinzenal de opinião de Liliana Pitacho, psicóloga e docente no Instituto Politécnico de Setúbal

A época termina e, quando tudo parece surpreendentemente calmo, o mercado de transferências está aberto e com ele um turbilhão emocional a ser vivido por muitos dos atletas.

Para os adeptos, é tempo pausa. Para os clubes, tempo de aplicar gestão estratégica. Mas para muitos atletas, este é um dos períodos emocionalmente mais instáveis da época, vivido com muita incerteza, expectativa e pressão.

Nesta fase, há atletas que se veem colocados em listas de dispensas sem qualquer aviso prévio. Há atletas que não sabem se se mantém no mesmo clube ou se vão embora, alguns vivem entre malas meio feitas e telefonemas que nunca chegam. E há ainda os que, entre renovações adiadas e propostas em suspenso, não sabem em que cidade ou país vão morar nas próximas semanas. A instabilidade é alta, os sonhos são muitos, mas os receios também.

O mercado desportivo encontra-se cada vez mais inflacionado, os atletas deixaram de ser apenas profissionais do rendimento, são claramente ativos, apostas e/ou investimentos.

Este olhar económico sobre o desporto tem se tornado cada vez mais inevitável, e entre tudo o que traz de positivo para os atletas, também tem o seu senão, acarreta um peso emocional silencioso, mas real e cada vez mais elevado.

A Teoria da Autodeterminação diz-nos que o ser humano precisa de três coisas básicas para manter o bem-estar psicológico: autonomia, competência e relação. O mercado de transferências desafia as três. A Autonomia é completamente reduzida. O jogador tem os seus objetivos, mas a decisão final é de empresários, clubes ou dinâmicas de mercado. A sua competência e o seu valor são colocados em causa. A dispensa, a ausência de propostas ou propostas com valor inferior ao desejado pode ser vivida como um «não sou bom o suficiente.»

E em termos de relações este é o período mais frágil. Os laços criados nas equipas podem ser quebrados de um dia para o outro e mais do que isso, a incerteza sobre o posicionamento geográfico no futuro traz instabilidade nas relações pessoais inclusive nas extradesportivas (familiares, amizade, amores). A incerteza nesta fase do ano vai além da estabilidade financeira.

As épocas de transferências colocam em causa a segurança psicológica dos atletas e a sua saúde mental é verdadeiramente colocada em causa. A psicofisiologia mostra que situações de instabilidade prolongadas mantêm o sistema nervoso em estado de alerta crónico. Ansiedade, irritabilidade, insónias e, em casos mais graves, sintomas depressivos podem surgir ou agravar-se. Quando o futuro é incerto e o valor pessoal parece depender de uma assinatura ou de uma chamada que tarda, o risco de sofrimento psicológico aumenta. E este impacto, embora muitas vezes silencioso, compromete o bem-estar, a motivação e a capacidade de tomar decisões equilibradas.

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