Pedro Henriques, especialista de arbitragem de A BOLA, explica ponto por ponto o comunicado do Benfica

A arbitragem vai mesmo abrir-se mais ao mundo cá fora?

Novas estruturas dão sinais de pretender maior abertura do setor, nomeadamente nos contactos com imprensa e outros stakeholders. A humanização dos árbitros pode ser muito benéfica

O Conselho de Arbitragem e a nova Direção Técnica Nacional de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol iniciaram ontem uma série de encontros com agentes do futebol e da comunicação, com o objetivo de dar a conhecer as recomendações dadas aos árbitros para a nova temporada, as ligeiras alterações de regras que sempre sucedem no final de cada época, no fundo o guião para a atuação dos juízes nos campos portugueses em 2025/2026

Os primeiros destinatários desta iniciativa foram os comentadores especializados de arbitragem dos vários órgãos de Comunicão Social (grupo do qual o novo DTN, Duarte Gomes, saiu aliás recentemente, ele que colaborou em A BOLA, na SIC e no Expresso durante dez anos).

Vai também haver sessões com jornalistas, clubes (claro, essas não são novidade) e comentadores de futebol com assento nas televisões, mesmo que sem a especialização da arbitragem.

O objetivo parece claro: dar a conhecer o quadro de referência a partir do qual os árbitros serão avaliados. Depois, cada um continuará a interpretar como quiser os lances, mais polémicos ou menos polémicos. Mas os critérios serão conhecidos, tornando-se mais fácil e objetivo determinar quando houve ou não erro.

Os erros não vão acabar, mas este pode ser um caminho interessante, tal como o programa de TV que o líder do CA, Luciano Gonçalves, já anunciou passar a existir no início das competições e que terá caráter regular. Falta saber que conteúdos trará o programa e se será muito diferente do que fazia o anterior Conselho de Arbitragem. A promessa é de que sim, será. Há uma forte vontade de humanizar os árbitros e isso poderá, inclusivamente, passar por colocá-los mais vezes em contacto com a imprensa, ainda que se conheçam algumas limitações impostas pela FIFA nessa matéria.

O clima de suspeição em que ciclicamente vivemos (com os ciclos a serem normalmente ditados por quem não ganha) ultrapassa em muito o grau de polémica inerente ao futebol, à arbitragem e à condição humana, que até certo ponto pode até ser considerado saudável.

Desconfiar tanto de pessoas que fazem da atividade profissão ou de milhares de outras que abdicam dos seus fins de semana para apitar quatro ou cinco jogos de miúdos a troco de dez réis de mel coado é insultuoso. Já para não falar da violência. Será que a arbitragem vai mesmo abrir-se mais ao mundo, contribuindo assim para um ambiente mais respirável? Tomara que sim.